Dia dos Professores: Janaína criou espaço de meditação na escola

A meditação entrou na vida de Janaína Silva, 34 anos, antes mesmo do diploma de professora. Foi aos 16, quando ingressou na universidade, que ela teve seu primeiro contato com o mundo holístico. O sonho, na época, era tornar-se bióloga marinha. O que ela não sabia é que o destino a levaria até as salas de aula anos depois. Formada em biologia, Janaína é professora de química na Escola Técnica Estadual (ETE) Governador Eduardo Campos, em São Lourenço da Mata, Grande Recife, desde o início de 2017. São 13 anos lecionando para crianças e adolescentes no Estado, ofício que adotou como verdadeira missão de vida. Apesar da desvalorização, ela abraça com dedicação os desafios da profissão. E fez do misticismo, uma de suas paixões, ferramenta para despertar o autoconhecimento e o interesse dos alunos pela escola. Há um ano, ela passou a levar a meditação para dentro da instituição de ensino. A proposta deu tão certo que, no fim de setembro, uma sala meditativa foi inaugurada na ETE. 

“Desde pequena, brincava de ensinar. Sempre tive um senso de justiça muito forte e, por isso, imaginava que cursaria direito. No meio do caminho, me apaixonei pela biologia e decidi que queria atuar na área marinha. No ano em que me formei, prestei concurso público e me tornei professora do Estado. Aos poucos, fui descobrindo que essa era a minha real vocação, minha missão no mundo. Pude utilizar meu senso de justiça para levar pensamento crítico para os estudantes dentro da sala de aula. Foi a maneira que encontrei de levar a minha voz, e hoje sou muito realizada”, conta.

Ano passado, quando começou a dar aulas de química na ETE Governador Eduardo Campos, Janaína fez uma formação em coaching, processo que ensina como desenvolver competências e habilidades para conquistar objetivos. “Queria utilizar a formação para o meu próprio conhecimento, mas percebi que podia aliar alguns conceitos ao misticismo, ao qual sempre fui muito ligada, para ajudar os alunos em sala de aula. Como se trata de uma escola em tempo integral e de ensino técnico, os estudantes são muito cobrados e isso gera tensão emocional.” Assim surgiram as sessões de meditação, uma vez por semana, em sala de aula.

NOVO ESPAÇO

A iniciativa foi um sucesso. Tanto que a gestão da escola acabou cedendo um espaço para a prática de meditação. Atualmente, 84 dos 520 alunos da instituição participam das sessões toda semana. Entre eles está Maysa Aquino, 16, estudante do 2º ano do ensino médio. “No início, achei um pouco estranho. Tenho dificuldades emocionais e acabei ficando com receio de me deixar levar. Hoje vejo quanto me ajudou. Em química, a gente aprende sobre as menores partículas do mundo. E isso faz mais sentido quando a gente começa a relacionar com o conhecimento sobre nós mesmos. Em um currículo de 20 matérias, é muito fácil escantear os sentimentos dos alunos. Isso no final vira um bolo de emoções.” A professora observa esses resultados nos demais estudantes. “Eles começam a acreditar neles mesmos, quando se conectam com a própria essência. Passam a ter mais disciplina, atenção, empatia e resiliência.”

O espaço é um oásis em meio ao agito do dia a dia. Música ambiente e incensos ajudam a tornar o ambiente mais aconchegante. Nas paredes, mensagens motivacionais foram escritas utilizando as siglas dos elementos químicos da Tabela Periódica. “Quando me perguntam o que a meditação tem a ver com a química, minha resposta é: energia. Tudo o que existe, vivo ou não, parte dos átomos e, se parte dos átomos, gera energia. Todas as conexões que a gente desenvolve aqui estão centradas nessa energia.”