moradia irregular

Equilibristas de túnel na luta por dignidade

Comunidade resiste em cima do Augusto Lucena, Boa Viagem, e tenta sair da invisibilidade. Barracos cheios de gambiarras foram erguidos em meio ao lixo

João Carvalho
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João Carvalho
Publicado em 13/03/2013 às 6:25
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Comunidade resiste em cima do Augusto Lucena, Boa Viagem, e tenta sair da invisibilidade. Barracos cheios de gambiarras foram erguidos em meio ao lixo - FOTO: NE10
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Há quatro anos, a família de José Orlando Barbosa resolveu sair de Escada, na Mata Sul de Pernambuco, para tentar a vida no Recife. Aqui, até conseguiu alguns empregos temporários, mas nada que pudesse garantir o aluguel de uma casa simples, em qualquer canto da cidade. Aceitando o conselho de um amigo, José e os parentes foram morar em cima do Túnel Augusto Lucena, em Boa Viagem, na Zona Sul. Estão por lá até hoje, se equilibrando e correndo risco sobre a estrutura de concreto. Também estão esquecidos e ignorados pelo poder público.

O destino de Orlando, da mulher e do filho de 3 anos foi o mesmo de outras famílias, que ocuparam e resistem em 30 barracos em cima do Augusto Lucena. “Quando cheguei, já estava tudo assim, tudo construído”, lembrou José Orlando. “Viemos e ficamos por aqui, nesse cantinho”, mostrou.

As pessoas começaram a ocupar o local depois de um incêndio, em 2007, que destruiu cerca de 60 barracos da comunidade Bom Jesus, também conhecida como Pocotó, ao lado do túnel. Na época, o lugar contava com 150 casas, de alvenaria e papelão.

Dias depois do sinistro, os barracos começaram a ser construídos, aos poucos, em sobre a estrutura, mesmo contra a orientação da Prefeitura do Recife (PCR). O poder público chegou a alertar para o perigo. Mesmo recebendo o auxílio-moradia do governo municipal para pagar o aluguel em outro lugar, algumas pessoas foram se encaixando onde conseguiam e foram ficando.

Assim o túnel virou base para a construção de novas casas. Esse processo durou até maio do ano passado, quando uma operação da PCR, com o apoio da Polícia Militar, retirou os barracos do local. Mas em um mês, todos voltaram e reconstruíram as casas improvisadas.

Hoje, alguns são alvenaria e usam o paredão do Augusto Lucena como parte da casa. O barraco da aposentada Corina Caetana da Costa, de 73 anos, fica imprensado num canto quase difícil de imaginar. De um lado é protegido pela parede do túnel. Do outro pelo parapeito do canal do Jordão.

“Eu comprei essa casinha aqui e moro com meu filho. Tenho medo de ser retirada daqui, porque não temos para onde ir”, disse. “Vivemos com o auxílio moradia de R$ 150, dado pela prefeitura.” “Não podem nos tirar daqui. Onde vamos morar, com esse dinheiro? O que vamos fazer?”, questiona, entre os barracos erguidos, entre muito lixo.

Outros problemas de quem sobrevive ali, a falta de infraestrutura e higiene. A dona de casa Edna Maria da Silva contou que, por pouco, não morreu queimada com o filho, dentro do barraco. “É tudo na gambiarra. Um dia choveu muito, deu um curto. Por pouco, não incendiou”, disse. “E ainda tem os ratos. Passamos a noite brigando com eles. Enormes”.

PROJETO - A Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano esclarece que a invasão em cima do túnel já foi retirada por duas vezes no ano passado. Uma equipe da Secretaria-executiva de Controle Urbano deve voltar ao local brevemente para analisar a situação atual. Caso seja necessário, uma nova ação será realizada na área.

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