Dia do livro

Academia Pernambucana de Letras abrirá biblioteca ao público

O acervo da entidade foi criado ao longo dos anos, com a herança dos acadêmicos falecidos

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 23/04/2015 às 8:08
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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A Academia Pernambucana de Letras (APL) tem uma biblioteca com mais de 30 mil livros. Só de obras raras são cerca de mil exemplares. Tudo guardado num aprazível casarão do bairro das Graças, na Zona Norte do Recife. Mas longe dos olhos e das mãos dos mortais. Fechada ao público desde sempre, a vasta coleção será liberada, aos poucos, para consultas e empréstimos, anuncia a entidade neste 23 de abril, Dia Internacional do Livro.

É a primeira vez, nos 114 anos da APL, que os livros ficarão ao alcance do povo. O peso da tarefa é proporcional ao tempo de confinamento das publicações. Cada volume terá de ser higienizado, catalogado e organizado antes de ser aberto aos leitores. E não é só isso. Falta pintar as paredes da biblioteca, trocar parte do piso, corrigir infiltrações, modernizar a rede elétrica e reformar os banheiros.

“Assinamos um convênio com a Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) para dar início a esse trabalho. Mas estamos em busca de novos parceiros porque o custo é muito alto”, afirma a escritora Fátima Quintas, presidente da APL. “Há obras raras precisando de restauro e encadernação”, diz ela, lembrando que as preciosidades do acervo não estarão disponíveis para empréstimo.

No momento, duas bibliotecárias fazem o levantamento dos livros e a expectativa da academia é inaugurar o novo serviço no fim de 2015 com a oferta de dez mil volumes que passeiam pela diversas áreas de conhecimento: literatura (romance, prosa, poesia e biografia), filosofia, religião, política, história, geografia, sociologia e medicina.

“A publicação mais antiga, até agora, é a Vida de D. Nuno Álvares Pereyra, segundo Condestável de Portugal, de Domingos Teixeira, editado em 1723”, diz a bibliotecária Bernadette Amazonas. “Temos também a primeira edição das Obras Políticas e Literárias, de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. São dois volumes, de 1875 e 1876, encadernados juntos”, destaca Bernadette.

Na prateleira das raridades repousa o livro Histórico da luta anti-tuberculosa em Pernambuco, lançado em 1948 pelo médico Octávio de Freitas e prefaciado pelo sociólogo Gilberto Freyre. Todo manuscrito. “A coleção de Camilo Castelo Branco é composta de mais de 600 volumes, com mais de dez edições de Amor de Perdição”, elogia.

A biblioteca ocupa um prédio anexo da APL, instalada no Solar do Barão Rodrigues Mendes, uma construção do século 19 de estilo arquitetônico neoclássico, na esquina das Avenidas Rui Barbosa e Doutor Malaquias. O casarão, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), só não desabou, ainda, porque está sustentado por escoras. Para suportar a próxima estação chuvosa (maio, junho e julho), o prédio será coberto com lona plástica.

DANOS E SONHOS

“Estamos preocupados com a chegada do inverno. As chuvas de março (2015) provocaram sérios danos em parte do casarão e tivemos de interditar algumas salas”, relata Fátima Quintas. A APL, enquanto alma, vive de sonhos, como bem diz a escritora. No plano material, sustenta-se com a eventual locação de espaços físicos do casarão para eventos.

Sem receita própria, a entidade criada em 1901 pelo escritor Joaquim Maria Carneiro Vilela (1846-1913) depende de ajuda externa. “O BNDES aprovou uma verba para restauração do solar. O orçamento, avaliado em R$ 2 milhões dois anos atrás (2013), precisa de reajuste”, comenta. Para manter a casa “com dignidade”, a APL deveria contar com R$ 30 mil ou R$ 40 mil mensais, diz ela.

Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Academia Pernambucana de Letras quer ajuda para restaurar sua sede, no bairro das Graças, no Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Academia Pernambucana de Letras está instalada em um casarão do século 19, na cidade do Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Casarão da Academia Pernambucana de Letras, no Recife, pertenceu ao Barão Rodrigues Mendes - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Casarão da Academia Pernambucana de Letras, no Recife, precisa de obras de restauração - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Livros raros da Academia Pernambucana de Letras, no Recife, poderão ser consultados pelo público - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Livros raros da Academia Pernambucana de Letras, no Recife, poderão ser consultados pelo público - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Livros raros da Academia Pernambucana de Letras, no Recife, poderão ser consultados pelo público - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Semanário literário e artístico, publicado em Portugal no século 19, está na biblioteca da Academia - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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O Inferno, de Dante Alighieri, integra a coleção de livros raros da Academia Pernambucana de Letras - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Academia Pernambucana de Letras, no Recife, já catalogou mais de mil livros raros na biblioteca - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Academia Pernambucana de Letras, no Recife, já catalogou mais de mil livros raros na biblioteca - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Na Biblioteca da Academia Pernambucana de Letras, localizada no Recife, há mais de 30 mil livros - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Na Biblioteca da Academia Pernambucana de Letras, localizada no Recife, há mais de 30 mil livros - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

 

Dar vida e visibilidade à biblioteca faz parte do projeto Academia de Portas Abertas, que já conta com 12 atividades gratuitas para aproximar os imortais da gente como a gente. Fátima cita a Serenata literária nos jardins, música erudita com curadoria da pianista Eliana Caldas, sarau da juventude e publicações como o suplemento A Palavra. E, como não poderia deixar de ser, o ingresso da APL nas redes sociais.

Uma amostra do que a Academia pode oferecer aos leitores pode ser conferida nesta quinta-feira (23) à noite, com a exposição do acervo de obras raras, no Solar do Barão. Também está programada palestra do escritor Raimundo Carrero, às 20h, sobre Dom Quixote de La Mancha, em parceria com o Instituto Cervantes. 

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