URBANISMO

Dragagem do Beberibe se arrasta há quatro anos

Municípios do Recife e de Olinda são atingidos pela demora na conclusão da obra

JC Online
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Publicado em 12/05/2016 às 7:30
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Municípios do Recife e de Olinda são atingidos pela demora na conclusão da obra - FOTO: Guga Matos/JC Imagem
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O caos que tomou conta do Grande Recife com as chuvas da última segunda-feira poderia ser minimizado se algumas obras de infraestrutura estivessem prontas. É o caso da dragagem e requalificação de 13 quilômetros dos Rios Beberibe e Morno, nos municípios do Recife e de Olinda, dois dos mais castigados pelo último temporal. O projeto foi lançado em maio de 2012, pelo então governador Eduardo Campos, e previa, além da dragagem e recuperação dos cursos d´água, a requalificação das margens, com a retirada de palafitas e construção de novas vias. Seria um alento para cerca de 28 mil famílias que vivem dos dois lados das margens, e que há, no mínimo, dez anos esperam por uma vida digna. Exatos quatro anos após o lançamento do programa, o cenário é ainda mais desolador.

Se as fortes chuvas subjugaram as áreas urbanizadas da Região Metropolitana do Recife (RMR), imagine o que fizeram em casas e barracos fragilmente construídos à beira de um rio. No lado recifense do Beberibe, no bairro da Campina do Barreto, Zona Norte da cidade, as moradias são de alvenaria, mas nem por isso as chuvas deixaram de castigá-las. “A água chegou a meio metro aqui dentro. Passamos o dia mudando móveis e eletrodomésticos do lugar, para não perder tudo”, conta o motorista José Maurício Araújo, que vive a poucos metros de um dos locais onde a Prefeitura do Recife retirou construções para o projeto de revitalização do rio.

Na margem oposta fica a localidade conhecida como Cabo Gato, no bairro de Peixinhos, em Olinda. Um clássico bolsão de miséria e vulnerabilidade, onde o barraco ainda é a principal moradia e cuja maioria dos moradores não tem emprego formal: são biscateiros, catadores, faxineiras e, principalmente, desempregados. Com o temporal, o rio engoliu a comunidade, e por pouco não ocorreu uma tragédia. “A água ficou na minha cintura. Como não tinha para onde ir, empilhei móveis e fiquei em cima”, comenta a doméstica Maria da Silva, uma senhora que não tem mais de 1,60 metro de altura. “Quem tinha criança tratou de sair, pois havia o risco de os menores se afogarem. Quem ficou tentou salvar o que pôde”, comenta o gari desempregado Edson Fernandes, que mora no local com a esposa.

Não há saneamento nem coleta de lixo na comunidade. O esgoto corre diretamente para o rio, por meio de galerias improvisadas. Já os resíduos são colocados em um terreno e simplesmente ficam lá, formando uma gigantesca e malcheirosa montanha. “A chuva espalhou tudo, e o pessoal já colocou de volta. Aqui a gente não vive, apenas vegeta”, diz Edson.

Várias construções que ficavam na margem recifense do Beberibe foram, de fato, retiradas, e a parte da via que cortaria o local começou a ser construída. Mas como o projeto geral de urbanização não vingou, o mato voltou a tomar conta do local. À medida que se avança no sentindo contrário ao curso da água, o rio vai ficando mais estreito

Segundo a Secretaria de Recursos Hídricos do governo do Estado, a dragagem do rio já foi concluída e a retirada da calha alcançou 95% do percurso previsto. De acordo com a nota enviada pelo órgão, “os transtornos gerados seriam muito mais severos sem a realização da drenagem, porém é incontestável a fragilidade ainda presente. Essa realidade demanda a execução de obras complementares de urbanização, inclusive para viabilizar o alargamento da parte não dragada do Beberibe e dos seus afluentes”. 

Por sua vez, a Secretaria de Saneamento da Prefeitura do Recife informou que as obras de todos os habitacionais do PAC Beberibe estão em andamento, e a previsão de entrega é o final deste ano. “Já as obras do PAC Beberibe 2, que consiste na construção da via marginal e nas intervenções do saneamento integrado de 23 ruas localizadas nos bairros de Passarinho, Porto da Madeira, Linha do Tiro, Arruda, Água Fria, Cajueiro, Fundão, Beberibe, Campina do Barreto, e Peixinhos (parte Recife) estão em processo licitatório”, afirma, também por meio de nota, a assessoria.


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