Atitude Cidadã

Crianças carentes aprendem música erudita no Poço da Panela

Ação faz parte de uma parceria entre o Conservatório Pernambucano de Música e a Biblioteca Comunitária do Poço da Panela

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 03/07/2016 às 8:08
Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
Ação faz parte de uma parceria entre o Conservatório Pernambucano de Música e a Biblioteca Comunitária do Poço da Panela - FOTO: Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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O destino se encarregou de juntar o Conservatório Pernambucano de Música (CPM) com a Biblioteca Comunitária do Poço da Panela, na Zona Norte do Recife. Dessa união, crianças que nunca tinham visto um violino, uma viola e um violoncelo descobriram o gosto pelas composições eruditas. A parceria teve início em 2014 e a escola funciona com 17 alunos nos turnos da tarde e da noite.

“Somos uma fábrica de talentos, formamos crianças para entrar no conservatório, partindo do princípio que todos podem aprender”, explica a professora e musicista Manoela Dias. A escola, instalada na sede da biblioteca, faz parte do projeto Orquestrando Pernambuco, criado em 2008 pelo CPM para ensinar a música erudita em comunidades carentes.

Aos 9 anos, Shelda Manuela Silva confirma a teoria da professora. Ela entrou no projeto em 2015 e em 2016 foi aceita como aluna do conservatório. “Sempre achei bonito o som do violino quando via na televisão”, diz a menina, depois de executar Asa Branca para as repórteres cercada por estantes de livros da biblioteca.

No CPM Shelda tem aulas de teoria musical com Ademar Rocha, ex-professor de Manoela Dias e pioneiro na utilização do método Suzuki no conservatório. É a mesma metodologia da escola do Poço da Panela. “A criança aprende a tocar como aprende a falar, apenas ouvindo e praticando. Assim, ela vai criando fluência musical”, declara Manoela.

Se a proposta da professora é desenvolver na turma o amor pela música clássica sem traumas, os resultados já são visíveis. Rhayssa Carolina de Almeida Vieira, 16 anos, frequenta a escola desde o início do projeto. Começou com violino, mas logo trocou o menor e mais agudo dos instrumento de cordas pelo violoncelo, da mesma família.

Estudante do 1º ano do ensino médio, Rhayssa está em dúvida entre seguir a carreira de direito ou ser musicista. Uma coisa, porém, é certa. O violoncelo não sai mais da sua vida. “Mesmo que eu faça o curso de direito, nunca vou deixar a música”, afirma. “A experiência de aprender a tocar um instrumento clássico e que quase ninguém conhece é muito boa”, destaca a jovem.

No convênio entre as duas entidades a biblioteca cede espaço físico para as aulas, de segunda a sexta-feira. O conservatório entra com professores, instrumentos musicais (incluindo a manutenção) e fardamento. O programa é destinado a jovens de 8 a 14 anos. Mas está sendo avaliada a possibilidade de abrir espaço para crianças com menos idade.

“Por utilizarmos o método Suzuki, trabalhamos apenas com as cordas friccionadas (viola, violino e violoncelo) no Orquestrando Pernambuco”, diz Manoela. Durante o curso, os alunos têm aula de canto coral, teoria musical, prática de orquestra, prática de grupo e aula individual. As inscrições são abertas duas vezes ao ano.

Segurando um violoncelo, Maria Joanna Cabral da Silva Melo, 10, disse que sequer sabia da existência do Conservatório Pernambucano de Música, até ingressar no projeto, em 2015. “Nunca imaginei que teria essa oportunidade tão perto de casa, é muito bom, meus pais não teriam como pagar pelas aulas”, comenta a menina, já definindo seu futuro: “Vou tocar a vida toda.”

O Orquestrando Pernambuco mantém mais dois núcleos no Recife, um no Alto do Pascoal e outro em Santo Amaro.

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