URBANISMO

Palafitas voltam com tudo no Recife

Falta de políticas habitacionais turbina crescimento de moradias precárias

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Publicado em 14/12/2016 às 8:00
Alexandre Gondim/JC Imagem
Falta de políticas habitacionais turbina crescimento de moradias precárias - FOTO: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Miséria, falta de ordenamento urbano em áreas ribeirinhas e política habitacional deficiente. São os ingredientes que resultam na mais precária forma de habitação popular do Recife: as palafitas. Após uma breve tentativa de erradicação por parte do poder público, no início dos anos 2000, as políticas para o segmento foram deixadas de lado. O resultado é que atualmente, em pelo menos oito pontos da cidade é possível vislumbrar barracos erguidos precariamente sobre áreas de mangue.

Poucos casos ilustram tão bem o problema como o do Jardim Beira Rio, no bairro do Pina, Zona Sul. Em 2013, quando foi concluída a entrega de 480 unidades dos habitacionais Via Mangue I e II, as famílias que viviam nas palafitas do local foram acomodadas em apartamentos de 40 metros quadrados. “Não deu nem um ano e o pessoal já estava construindo aqui de novo”, comenta a dona de casa Roseane Barbosa, uma das pessoas que reocuparam o mangue e voltaram a conviver em meio ao lixo com ratos e baratas. Ela alega que não foi contemplada com um lugar no conjunto, e que alguns moradores alugam os apartamentos por até R$ 700.

PRECARIEDADE

Encravada entre as pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, também no Pina, está a comunidade conhecida como Beco do Sururu. Mais um clássico bolsão de miséria, tábuas mal arranjadas e placas de compensado à beira do rio. “A vida aqui é descer para a maré e catar sururu para trazer o sustento para casa”, diz Luan Rodrigues, 19 anos, que mora com a esposa em um cubículo de madeira que equivale ao tamanho de um quarto em um apartamento de classe média.

Três incêndios – em 2005, 2013 e 2014 – não foram suficientes para que o poder público desocupasse a comunidade de Roque Santeiro, no bairro dos Coelhos, área central da capital. A proximidade entre os barracos de madeira, as precárias instalações elétricas e de gás tornam a vida dos moradores de Roque Santeiro uma eterna roleta russa. “Mas a gente vai sair daqui para onde? Para pagar R$ 400 de aluguel?”, diz a dona de casa Maria Aparecida, há seis anos no local, e que desde o último incêndio, em 2014, recebe R$ 200 mensais de auxílio-moradia.

Para o gestor público Felipe Cury – militante do movimento por moradia popular –, algumas práticas poderiam minimizar a questão das palafitas na cidade. “Há muitos imóveis subutilizados no Centro do Recife, por exemplo, que poderiam receber famílias”. Segundo ele, muitas áreas ribeirinhas são Zona Especiais de Interesse Social (Zeis), e algumas têm planos urbanísticos que não são colocados em prática. “Também deveria haver o mapeamento de novas áreas para habitacionais. Mas falta vontade política”, diz, ressaltando qu

A secretaria de habitação da prefeitura explica que não há projetos específicos para palafitas, que todas estão incluídas na política habitacional da gestão. De acordo com a pasta, existem duas obras em curso e que visam abrigar famílias de comunidades ribeirinhas. Uma é o habitacional Vila Brasil 1, na Ilha Joana Bezerra, que terá 128 apartamentos. A obra deverá ser entregue em 2017.

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