VIOLÊNCIA

Desemprego turbina violência no Cabo

Declínio de Suape fez criminalidade aumentar

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 06/06/2017 às 18:35
Diego Nigro/JC Imagem
Declínio de Suape fez criminalidade aumentar - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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Em cinco anos, a mudança foi brusca: da seção de economia às manchetes policiais do noticiário. O município do Cabo de Santo Agostinho já foi uma das locomotivas do Estado, no ápice do boom do complexo industrial e portuário de Suape, em 2010. No Atlas da Violência, divulgado na última segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), figura em décimo lugar entre as trinta cidades mais violentas do Brasil no ano de 2015, com uma taxa de 85,3 homicídios por grupo de 100 mil habitantes, enquanto a média do Estado naquele ano foi 41,2.


O perfil da violência no Cabo segue o manjado roteiro onde se misturam tráfico de drogas, urbanização desordenada, oferta precária de serviços públicos e desemprego elevado. O fato de desequilíbrio, ironicamente, é o mesmo porto de Suape, que um dia foi o Eldorado de 58 mil trabalhadores distribídos em 114 empresas. “O aumento da criminalidade coincide com o período de crise e retração no complexo. Muitas pessoas vieram de fora do Estado e, quando os empregos acabaram, ficaram na cidade, aumentando a ocupação urbana desordenada e a informalidade”, comenta o secretário municipal de desenvolvimento econômico, Moshe Caminha. Segundo ele, metade das 10 mil pessoas que constituíam o público flutuante diário da cidade na época áurea de Suape fincou raízes no Cabo.

TRÁFICO


“Muitas dessas pessoas partiram para o tráfico”, conta, em reserva, um policial militar da cidade. A atividade ainda é o principal motor da criminalidade em bairros como Alto Bela Vista, Malaquias, Cohab, Charneca e São Francisco. “Quando matam um aqui, pode ter certeza de que já existem outros três ´amarrados´ (jurados de morte)”, comenta a mulher cuja foto ilustra a matéria, e que prefere não ter nome nem bairro identificados. “Pessoas usando droga a gente até se acostumou. O problema é quando começam a circular armados. Eu mesma não saio de casa quando anoitece”, comenta uma outra dona de casa, do Alto do Cruzeiro. O medo é refletido na recusa de muitas pessoas em ter os nomes divulgados em uma reportagem que fala sobre violência.
Dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Cabo tinha o oitavo maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. Ao mesmo tempo, em 2015, a cidade apresentava apenas 12% de cobertura de saneamento básico.


A estratégia da prefeitura para reverter o quadro no futuro é apostar na qualificação profissional dos jovens. “Já temos projetos em parcerias com empresas de Suape, sempre tendo em vista a empregabilidade para a faixa socialmente mais vulnerável”, explica Moshe Caminha. “Também vamos intensificar as parcerias com a Polícia, Judiciário e Ministério Público para combater a criminalidade já existente”, diz a secretária de programas sociais, Edna Gomes.


O secretário de Defesa Social, Ângelo Gioia, minimizou os dados da pesquisa. “São números que não trazem novidade. Nos últimos três meses temos redução de todos os índices de criminalidade, inclusive de homicídios. Antecipei que já temos uma redução, em relação ao mês passado, superior a 14% e em junho iniciamos o mês com redução”, afirmou.


A Polícia Militar diz que houve uma redução de 7% na violência no Cabo de Santo Agostinho na comparação entre 2016 e 2015. “O 18º Batalhão, responsável pela área, vem realizando várias ações de prevenção e operações nos locais de maior incidência de Crimes Violentos contra a Vida. A Unidade também tem realizado operações conjuntas com as Especializadas, as quais também efetuam rondas e abordagens em áreas vulneráveis”, diz, em nota, a PM.

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