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'Quero ser livre e continuar minha vida', diz iraquiana acolhida em PE

Magida Darwish, Ida Aman e Lavan Dawud ficarão no Estado por tempo indeterminado. Secretaria de Justiça e Direitos Humanos está intermediando pedido de asilo das duas mulheres e do garoto

Larissa Rodrigues
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Larissa Rodrigues
Publicado em 04/01/2018 às 7:01
Foto: Leo Motta/ JC Imagem.
Magida Darwish, Ida Aman e Lavan Dawud ficarão no Estado por tempo indeterminado. Secretaria de Justiça e Direitos Humanos está intermediando pedido de asilo das duas mulheres e do garoto - FOTO: Foto: Leo Motta/ JC Imagem.
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Depois de três anos fugindo da guerra civil do Iraque, tudo que Magida Darwish Shamo, 19 anos, quer é tranquilidade e paz. A oportunidade de descansar da dura jornada de luta pela vida em vários lugares diferentes chegou quando ela pôs os pés no Recife, no último sábado (30). Magida veio acompanhada da cunhada, Ida Aman Heji, 24, e do sobrinho, o menino Lavan Dawud Darwish, 4. As duas iraquianas e o garoto tentavam embarcar para Madri, Espanha, com passaportes israelenses falsos. Mas foram interceptadas pela Polícia Federal, no aeroporto do Recife.

O que poderia ser motivo para prisão transformou-se em recomeço. Os três foram acolhidos em Pernambuco e ficarão no Estado até o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), em Brasília, analisar o pedido de asilo. Esse processo não deve demorar porque está sendo intermediado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. Magida, Ida Aman e Lavan são da cidade de Sinjar, no Iraque. Em 2014, o Estado Islâmico (EI) bombardeou o local e várias pessoas morreram. A população precisou abrir valas para enterrar as centenas de mortos. O mundo como eles conheciam ruiu obrigando os três e o restante da família a fugirem para o Curdistão, região autônoma do Iraque, onde passaram três anos.

“Antes dos bombardeios, a vida era boa, com minha família reunida, meu povo. Agora, quase metade das pessoas da minha região morreu. Sinto falta da vida que eu tinha, dos amigos, da cidade”, contou Magida. Os pais e irmãos dela, sendo um deles o esposo de Ida, conseguiram embarcar para Alemanha. Segundo elas, na ocasião o País facilitou a entrada de refugiados idosos. Elas, no entanto, seguiram para Istambul, na Turquia, onde passaram três meses e compraram os passaportes israelenses falsos. A quadrilha que os vendeu garantiu a chegada delas na Europa por meio do Brasil. No fim do ano passado, desceram em São Paulo e de lá seguiram para o Recife, de onde pegariam um voo para Madri. O destino final era a cidade de Dortmund, na Alemanha, onde está o restante da família. Por enquanto, Magida, Ida e Lavan estão na comunidade Obra de Maria, em São Lourenço da Mata, Grande Recife. Depois que se regularizarem, tomarão uma decisão. A prioridade delas é legalizar a estadia no Brasil e aprender a língua portuguesa.

Conare

“É um caso de acolhimento humanitário. São refugiados que chegaram ao Brasil de forma irregular. Não tinha outra forma, pois estavam fugindo”, explicou o secretário de Justiça, Pedro Eurico. Na próxima semana, ele vai à Brasília tentar agilizar o processo no Conare. Segundo Eurico, os iraquianos precisam obter a carteira de residente estrangeiro no Brasil, o que lhes dará o reconhecimento da condição de refugiados. Com o documento, eles podem se deslocar dentro do País, se quiserem. O Conare também está tentando ajudar as duas mulheres e a criança. O órgão enviou documentação para o Ministério das Relações Exteriores para agilizar o reconhecimento da condição de refugiados.

Após o apoio recebido em Pernambuco, as iraquianas não sabem mais se vão para a Alemanha. O Brasil se tornou uma opção. “Escuto pessoas falando bem do Brasil, um país acolhedor. Eu quero ser livre, continuar minha vida. Uma vida tranquila e de paz. Eu tinha tudo na minha terra. Depois que o EI entrou na cidade, a vida ficou muito difícil”, comentou Magida, que estudou dois anos de engenharia no Iraque, mas precisou interromper os estudos após os bombardeios.

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