MATA SUL

Moradores de Barreiros cobram entrega de habitacionais

Em setembro, 105 casas foram entregues a famílias desalojadas nas chuvas de 2017, mas quase um ano após a tragédia, 858 ainda estão em fase de acabamento

Da Editoria Cidades
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Publicado em 20/02/2018 às 6:25
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Em setembro, 105 casas foram entregues a famílias desalojadas nas chuvas de 2017, mas quase um ano após a tragédia, 858 ainda estão em fase de acabamento - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Os velhos fantasmas voltaram a assombrar os moradores da Mata Sul do Estado e de parte do Grande Recife no último fim de semana. As chuvas deixaram 224 famílias desalojadas, sendo 134 apenas no município de Barreiros, Zona da Mata pernambucana, onde choveu 101 milímetros, de acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Para os moradores, a situação é um alerta de que, se nada for feito, uma nova tragédia acontecerá quando o período chuvoso chegar, em abril. Cansados de chorar suas perdas, eles cobram atitude do poder público.

A revolta tem motivo: em maio do ano passado, quando a Mata Sul foi castigada pela água, o governo estadual anunciou a entrega dos habitacionais Santa Clara I e II em Barreiros. Em setembro, 105 casas foram recebidas por famílias desalojadas, mas quase um ano após a tragédia, 858 residências ainda estão em fase de acabamento.

“Enquanto as casas estão lá, a gente continua nas áreas de risco, perdendo o pouco que tem ano após ano. Perdi tudo em 2010, 2017 e agora”, conta a agricultora Riudes Maria da Silva, 28 anos. Moradora do bairro Lote, um dos mais afetados, ela divide a casa com a mãe, a irmã e nove crianças. Todos vivem do Bolsa Família, de R$ 500. Quase metade, R$ 220, vai para o aluguel. “Já me prometeram tantas vezes essa casa. Seria muito bom, porque além de um teto para meus filhos, eu poderia usar o dinheiro do aluguel para comprar outras coisas.”

O habitacional, no antigo Engenho dos Macacos, custou R$ 6 milhões. As obras, que integram o programa Minha Casa Minha Vida, são fruto da parceria entre os governos federal e estadual. Apesar de apenas 105 unidades entregues oficialmente, a maioria das casas está ocupada. São moradores que perderam tudo nas chuvas do ano passado e, sem opção, invadiram o loteamento. Alguns já construíram suas próprias residências no terreno. Outros ergueram muros e cercas. Em uma das casas funciona até um mercadinho. De acordo com a Secretaria de Habitação de Pernambuco, a fiscalização é feita pela Prefeitura de Barreiros. Apesar das irregularidades, o órgão garantiu que o habitacional será entregue no primeiro semestre de 2018.

O abandono do poder público também é evidente na Escola Municipal Ana Maria de Moraes Melo, construída para atender crianças e jovens moradoras do habitacional. O equipamento está pronto e já teria 250 alunos matriculados, mas está sem energia e parte da mobília. Enquanto isso, os estudantes ficam sem aula. Por telefone, a reportagem não conseguiu contato com a Secretaria de Educação ontem à tarde.

APAC

De acordo com a Apac, o volume de chuvas foi provocado pela ocorrência de dois fenômenos simultaneamente. “A chamada Zona de Convergência Intertropical foi responsável pelas precipitações no Norte do Estado. No Grande Recife e na Mata Sul, ocorreu a onda de leste, caracterizado pela elevação da temperatura no oceano”, explicou o meteorologista Fabiano Prestrelo. O município que registrou o maior índice pluviométrico foi o Cabo, na RMR, com 246 milímetros em 48 horas. Para os próximos dias, a previsão é de chuva, mas, de acordo com o especialista, serão precipitações leves.

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