Patrimônio

Casa de campo de ex-governador vira ruínas no Cabo

Edificação do princípio do século 20, a casa de campo de José Rufino está localizada na área rural do Cabo de Santo Agostinho e é tombada pelo Estado

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 09/09/2018 às 8:08
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Edificação do princípio do século 20, a casa de campo de José Rufino está localizada na área rural do Cabo de Santo Agostinho e é tombada pelo Estado - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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A casa de campo do ex-governador de Pernambuco José Rufino Bezerra Cavalcanti (1865-1922) está perdendo a briga contra o desprezo a que foi relegada. Não bastassem a falta de telhado, de portas e janelas e os caminhos de cupim nas paredes, a fachada desabou no fim de 2017. Um pavão de metal decorativo, que remete à art nouveau, encontra-se sob os escombros.

Construído em 1912 e tombado como patrimônio histórico pernambucano na década de 1980, o casarão de dois pavimentos fica no Engenho Novo, área rural do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, por trás da antiga fábrica Rhodia. A edificação de arquitetura eclética (mistura de vários estilos) funcionou como espaço de recepções para o Clube de Campo dos Industriais do município, desativado há anos.

“Antigamente vinha um senhor do Recife e botava remédio para matar os cupins, mas isso não acontece há muito tempo”, informa Midiã da Silva Ferreira, que mora há no local há 27 anos. Ela e os sogros, funcionários do Clube dos Industriais, ocupavam o andar térreo da casa de campo. Por segurança, após o falecimento dos sogros, Midiã, o marido e os filhos se mudaram para os antigos bares da área de lazer, no mesmo terreno, transformados em residência.

Quando a fachada do casarão desabou Midiã estava estendendo roupas no pavimento térreo. “Foi um barulho muito forte, subiu fumaça para todo lado. Por sorte consegui correr e me salvar, os tijolos daqui são muito pesados, não têm furos”, comenta. “Pela situação atual, se o inverno desse ano tivesse sido mais rigoroso a casa teria caído toda”, afirma Midiã.

Destruição

Com a fachada, sucumbiram uma sala, o terraço, dois banheiros, a escadaria principal e o guarda-corpo da varanda. “Uma casa como essa, patrimônio do Estado, deveria funcionar como museu”, diz ela.

Por falta de cuidados, o piso de parquê (tacos formando desenhos), os azulejos, as pinturas art nouveau e os forros de gesso decorados que influenciaram o tombamento da casa de campo de José Rufino não existem mais. A velha moradia do ex-governador tem paredes internas e externas tomadas por raízes, cacos de telha inglesa espalhados pelo chão, madeira podre para todo lado e gradis enferrujados.

Usineiro no Cabo de Santo Agostinho, José Rufino administrou Pernambuco de dezembro de 1919 a março de 1922. De acordo com a Fundarpe, em 1920, ao promover uma reforma no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do Estado, no Centro do Recife, ele despachava no casarão. A edificação, hoje, serve de abrigo apenas para morcegos.

A família de Midiã cultiva milho, macaxeira, jerimum, feijão e quiabo no terreno, para subsistência em volta da antiga casa de campo do ex-governador. “Meu marido está desempregado e se dedica ao plantio”, explica.

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