Caso Itambé

Itambé unida por uma dor que não quer calar

Edvaldo Alves, morto por um tiro disparado pela PM, foi enterrado, na noite desta quarta-feira (12), aos gritos de "Justiça"

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 13/04/2017 às 7:02
 Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
FOTO: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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A guitarra sobre o caixão. Uma cidade unida por uma dor que não quer calar. Não vai calar. Não foram gritos desesperados que se ouviram. De tão profundo, o desespero estava expresso no rosto. Nas lágrimas de um. De outro. De uma multidão inteira. Sofrimentos solitários em meio a uma perplexidade coletiva, traduzida no choque de quem, de tanto sofrer, não conseguiu sequer enterrar o filho. “Você foi embora. Por que arrancaram você de mim?” Maria Sebastiana, a mãe, não seguiu o cortejo, não pôde caminhar pelas ruas para ver Itambé chorar a morte do menino-músico, que, na fala de todos, era só alegria. Já era início da noite quando o corpo de Edvaldo da Silva Alves, 21 anos, foi enterrado, sob olhos e corações dilacerados. Um sofrimento só superado pelo clamor que mais se ouviu nesta quarta-feira (12). Um puxava o grito, todos acompanhavam, repetiam, insistiam. Justiça, justiça, justiça. Para não esquecer nem silenciar.


O mais difícil era separar a dor da indignação. A cada depoimento, lembrando o quanto Edvaldo era querido por todos, seguia-se um desabafo diante do absurdo de sua morte. “Vocês viram o vídeo? Ele não fez nada. Ele só queria o mesmo que todos nós, mais segurança. E o que ele encontrou? Uma bala de borracha disparada por um policial militar. Assim, do nada. À queima-roupa. Ele não morreu. Mataram ele”, revoltou-se a moradora Célia Silva.

Amiga da família, ela não saía de perto da mãe de Edvaldo, que mal conseguia ficar de pé, no pouco tempo em que permaneceu na quadra de esportes da cidade, onde o corpo do jovem foi velado. Também amparado, Nivaldo Celestino, o pai, manteve-se todo o tempo perto do caixão. Ele tentou falar, dar uma declaração. Não conseguiu. O olhar vazio procurava, sem amparo, encontrar uma explicação.


José Roberto, o irmão, era, de forma surpreendente, uma fortaleza. Coube a ele, diante da fragilidade dos pais, conduzir não só as homenagens a Edvaldo como expor a revolta da família. “Nesses 26 dias que o meu irmão ficou internado no hospital, entre a vida e a morte, não houve um só telefonema, uma ajuda, nenhum gesto por parte do Estado. Não tivemos qualquer tipo de apoio. Zero. Só conseguíamos viajar de Itambé para visitá-lo, graças a doações de amigos. A cidade se comoveu e contribuiu. Não precisamos de palavras da boca para fora. Queremos ação.”


Horas após o anúncio da morte de Edvaldo, que aconteceu na madrugada da última terça-feira, no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, parentes disseram ter sido procurados por representantes da Defensoria Pública. O advogado da família, Ronaldo Jordão, afirmou que os defensores foram a Itambé para conversar com os familiares e, segundo ele, chegou-se a cogitar valores para uma possível indenização a ser paga pelo Estado. “Eles falaram em R$ 50 mil. Não quisemos nem ouvir. Onde estava o Estado todo esse tempo? Agora, que o rapaz morreu, eles chegam com essa conversa. O que a família quer é que os assassinos sejam punidos.” O advogado questionou também o fato de o hospital não ter definido a causa da morte de Edvaldo no atestado de óbito. “Todas essas informações terão que ser prestadas com transparência e celeridade.”

LUTA CONTRA A IMPUNIDADE


Ainda no cemitério, logo após enterrar o irmão, José Roberto deixou claro que a exigência de uma resposta rápida por parte do Estado não será uma batalha só dele e de sua família. Mas de uma cidade inteira. Dois oficiais e um soldado da Polícia Militar participaram da ação que tirou a vida de Edvaldo. Um crime que despertou trinta e seis mil vozes inconformadas. Trinta e seis mil moradores unidos contra a impunidade. Ao parar para dar adeus ao rapaz que só queria uma cidade mais segura, Itambé mandou o recado: a luta está só começando.

 

 Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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