Violência no Agreste

'Agradeci por tudo ter terminado bem', disse refém de assalto a bancos

Bandidos explodiram bancos e fizeram família de refém para escapar da ação policial

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 01/08/2018 às 6:26
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Bandidos explodiram bancos e fizeram família de refém para escapar da ação policial - FOTO: Foto: Cortesia
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Não bastasse o susto com explosões e tiros perto de casa, um morador de São Bento do Una e sua família foram reféns por cerca de duas horas, na madrugada de terça-feira (31/8), de um dos assaltantes que invadiu dois bancos da cidade. “Consegui manter a calma porque ele não nos ameaçou em nenhum momento”, afirmou o autônomo de 30 anos.

Pelo menos 10 bandidos, com fuzis, escopetas e pistolas, explodiram os caixas eletrônicos do Banco do Brasil e do Bradesco, por volta das 2h. Houve troca de tiros, dois ladrões mortos, um vigilante e um assaltante feridos, além da família com duas crianças feitas reféns.

O assaltante que invadiu um apartamento, onde havia quatro adultos e duas crianças (um menino de 11 meses e uma garota de 1 ano e 4 meses), estava baleado. De acordo com o dono do imóvel, ele não foi violento. Primeiro liberou dois adultos e as crianças.

Após negociação com um PM, esperou o dia amanhecer, exigiu um colete à prova de balas, a presença da imprensa e se entregou, por volta das 5h30.

Veja a entrevista que ele concedeu ao JC:

JC – Como tudo aconteceu?

REFÉM - Quando começaram as explosões e os tiros, minha irmã subiu pra meu apartamento com o marido e o filho. Moramos quase vizinho aos bancos. Eles entraram e eu tranquei a porta. Ouvimos um barulho na garagem e depois na porta de baixo. Pedi a minha família que mantivesse a calma, pois os ladrões estavam entrando na casa. Fomos todos para o banheiro. Era entre 3h20 e 3h30. O rapaz começou a arrombar a porta. Eu disse ‘Amigo, não faça isso. Somos uma família e aqui tem duas crianças. Ele respondeu ‘Fique tranquilo, só quero ajuda. Estou machucado’. Respondi que não iria abrir e que ele nos deixasse em paz. Mas ele conseguiu entrar.

JC – E depois disso?

REFÉM – Ele sentou numa cadeira. Eu, do banheiro, fiquei falando com ele. Ele contou que só entrou na nossa casa para não morrer. Em momento nenhum nos ameaçou nem com arma nem verbalmente. Pediu que eu fizesse um torniquete, pois a perna sangrava muito. Peguei uma fralda do meu filho e improvisei. Quando começaram a falar embaixo do prédio, ele veio pro banheiro também. Eu pensava que era algum comparsa, mas depois percebi ser a polícia. O policial pedia que ele se entregasse e começou a negociar. Pedi que liberasse minha família. Isso durou bem uma hora. Depois de muita conversa, ele deixou minha irmã sair com o marido, minha sobrinha e meu filho. Minha esposa ficou comigo.

JC – Ele conversou com vocês?

REFÉM – Ele pediu para usar meu celular. Telefonou para um filho, que não atendeu a ligação. Contou que era casado, tinha três filhos. Disse que estava arrependido de ter participado do assalto, se lamentou. Ao policial, disse que era de Canhotinho (no Agreste). Muitos amigos e parentes ligaram pra mim. Não atendi. Num dos telefonemas, mostrei que era minha irmã mais velha. Ele mandou eu falar com ela, tranquilizá-la e dizer que chamasse a imprensa. Depois, disse que só sairia com o dia claro.

JC – Em algum momento você perdeu o controle?

REFÉM – Deus me deu muita força. Depois que meu filho e minha sobrinha foram liberados, fiquei mais calmo. Acho que o fato de ele não nos ameaçar ajudou.

JC – Como vocês estão agora?

REFÉM – Agradeci muito a Deus por tudo ter terminado bem. A polícia está de parabéns, fez um excelente trabalho, foi superprofissional. Tanto a daqui de São Bento como a que veio de fora. Não penso em sair daqui, nasci e me criei em São Bento, é minha terra. Infelizmente o País todo sofre com a violência. É rezar para que as autoridades consigam dar um jeito e acabar com isso.

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