Investigação

'Importante para colocar minha versão', diz Ugiette após 8 horas de depoimento

O promotor afastado saiu da sede do Ministério Público na madrugada desta quinta, após prestar depoimento e passar por uma revisão de conteúdo

JC Online
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Publicado em 16/08/2018 às 7:10
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O promotor afastado saiu da sede do Ministério Público na madrugada desta quinta, após prestar depoimento e passar por uma revisão de conteúdo - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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O promotor afastado da Vara de Execuções Penais, Marcellus de Albuquerque Ugiette, de 58 anos, prestou o seu primeiro depoimento aos procuradores do Grupo de Apoio Especializado de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) durante oito horas, já que os esclarecimentos tiveram início ás 14h e só terminaram ás 22h dessa quarta-feira (15).

Ugiette prestou depoimento em relação ao inquérito que apurou o envolvimento dele em crimes de corrupção passiva e favorecimento de transferência de presos de uma organização criminosa responsável por diversos crimes. Mesmo após o término de seu testemunho sobre o caso, o promotor continuou na Sede do MPPE até ás 3h desta quinta-feira (16) para uma revisão de conteúdo.

Após a sua saída, em entrevista à imprensa, Ugiette explicou que o depoimento prestado nessa quarta faz parte do processo investigatório que irá resultar em um relatório que pode ou não ser ofertado como denúncia. ’’Esse momento foi importante para colocar a minha versão diante dos fatos que foram apresentados diante de toda a ação, além de esclarecer vários pontos que, para os investigadores, poderiam estar nebulosos’’, falou.

Ele comentou que os esclarecimentos prestados a equipe do MPPE foi importante para que os investigadores possam ter ‘dois nortes’ em relação ao caso. ’’É muito difícil avaliar se eles acreditaram ou não, o que eu posso dizer é que a minha versão é a verdadeira. Mas, cada um avalia como achar interessante, pela convicção e pelo que se entende em relação à estrutura da investigação’’, disse.

Ugiette também falou sobre as provas, que ainda não foram apresentadas. "O Ministério Público está em busca da prova, que é ouvir testemunhas, fazer perícias. [...] Certamente, não sei se eles vão fazer alguma coleta de provas ou se deram por satisfeito com o que colheram até agora. Havendo o processo criminal, eu vou ter que a oportunidade de apresentar aquilo que eu entendo como importante para ratificar a minha inocência", esclareceu.

Ele finalizou dizendo que se defendeu das acusações, avaliou o depoimento de forma positiva e afirmou estar tranquilo. ’’A gente precisava trazer a versão que é uma oportunidade que a lei nos dá. Por isso, vamos aguardar. Sei que mesmo se responder a algum processo, eu vou me defender, vou trazer as provas, sem problema nenhum’’, concluiu.

Afastamento

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) afastou, no último dia 6, o promotor Marcellus Ugiette de suas funções, após denúncias por parte da Operação Ponto Cego.

O afastamento provocou reações de surpresa, ironia, dúvida e desconfiança em muitos que acompanham sua trajetória e atuação no MPPE.

Relatório

Na última segunda-feira (13), o Ronda JC teve acesso ao relatório da Corregedoria do MPPE sobre as inspeções realizadas nas salas das promotorias e no gabinete do promotor. Na ocasião, foram recolhidos processos e objetos, como computadores, para perícia. A Corregedoria também verificou que vários processos estão com prazos extrapolados ou não foram registrados no sistema eletrônico Arquimedes, onde é possível a consulta pública de qualquer caso que tramita no MPPE. Há ainda processos em que não houve manifestação da promotoria ou pedido de adoção de diligências, como determina a lei. O relatório também pontuou haver possível omissão do promotor em responder às solicitações da Corregedoria, e que esse comportamento já foi objeto de outras investigações.

Ponto Cego

O gabinete e a residência do promotor foram alvos de mandado de busca e apreensão no último dia 03, quando foi deflagrada a Operação Ponto Cego para desarticular uma quadrilha suspeita de estelionato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de capital, advocacia administrativa e furto qualificado. No total, 19 mandados de prisão foram cumpridos. Dois advogados e um ex-PM estavam entre os presos.

Segundo as investigações, parte desse grupo, que já estava preso, teria sendo beneficiado por Ugiette. Ele teria articulado a transferência dos suspeitos para o mesmo presídio, onde continuaram praticando crimes. A Polícia Civil afirma que, em troca, o promotor teria recebido dinheiro e até presentes. Ele negou as acusações e disse que não indicava a unidade ou a cela para onde o detento deveria ir. “Vou provar minha inocência”, garantiu.

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