comédia

Teatro da UFPE lota para ver Marieta Severo e Andréa Beltrão numa atuação memorável

Atrizes estiveram no Recife com a peça As centenárias, com texto de Newton Moreno e direção de Aderbal Freire-Filho

Diana Moura
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Diana Moura
Publicado em 08/08/2011 às 0:54
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O grande trunfo da peça As centenárias, que esteve em cartaz no Recife no último fim de semana, é o show de interpretação protagonizado pelas atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão. Em cena, elas trocam de papeis várias vezes e ainda manipulam fantoches, sem deixar o ritmo desandar hora nenhuma. O público que lotou o Teatro da UFPE de sexta a domingo conferiu um espetáculo ágil e bem coreografado. A direção de Aderbal Freire-Filho reúne elementos circenses e teatro de bonecos. O enredo narra de forma não-linear a trajetória de duas carpideiras, Socorro e Zaninha, que percorrem o Nordeste a cantar os mortos. Neste percurso, elas vivem histórias inusitadas enquanto tentam proteger o filho de Zaninha daquela a que todos temem, a própria morte. 

A ideia central do texto, escrito pelo dramaturgo pernambucano Newton Moreno, é a de que, por mais próximo e familiarizado que se esteja do universo que rodeia a morte, ninguém está preparado para o que as personagens chamam de “encontro terrorífico” com a danada. O melhor é que as duas têm lá seus truques para driblar a Caetana, mas, apesar da esperteza, acabam se deparando com uma situação na qual pressupõem um encontro iminente. 

A relação das carpideiras com a morte é cheia de dualidades: temor e costume, humor e tristeza, cuidado e desleixo. Para apresentar essa ambiguidade, o texto recorre a diversos episódios da vida das duas. Alguns funcionam superbem, como a cena em que elas são obrigadas a velar a mulher de um coronel, assassinada pelo próprio marido. Outros desandam e não mantêm o vigor até o desfecho. Por fim, há situações que parecem meio forçadas, ou até apelativas e caricatas, tanto que algumas pessoas deixaram o teatro antes do fim do espetáculo. Na estreia, sexta-feira, os aplausos finais também não foram os mais entusiasmados.  

Apesar disso, o texto tem frases e questionamentos memoráveis. Reeditando ditos populares e lugares-comuns sobre a morte, Newton Moreno oferece ao público uma série de reflexões também sobre a vida – algumas inspiradas até em ensinamentos budistas –, que em vez de serem colocadas de forma densa, deslizam no ritmo da comédia. O espetáculo se vale quase que inteiramente dessa leveza para fazer o público se defrontar sem traumas com um tema tão delicado. No final, As centenárias é uma peça irregular cujos pontos altos superam em muito os momentos de menos brilho, e que, não fosse por qualquer outra coisa, mereceria ser vista pela atuação impagável das duas atrizes. 

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