Antes de tudo, um desafio: que tal ler essa matéria sem tergiversar e ir responder a alguma mensagem no Whatsapp ou olhar alguma curtida no Instagram ou no Facebook? É que os atores Mateus Solano e Miguel Thiré decidiram montar um espetáculo que tem muito a ver sobre essa difícil relação entre o mundo virtual e o real. As sessões acontecem amanhã, às 21h, e domingo, às 19h, no Teatro RioMar.
Selfie, como se chama a peça, faz reflexões e indagações sobre valores sociais e morais contidos nos meios de comunicação; as relações distorcidas entre pessoas e o que elas buscam com essas exposições; a interferência avassaladora da tecnologia na comunicação num tempo em que mais se tecla do que se fala; pessoas fotografando continuamente a si mesmas, registrando o passo a passo de suas rotinas.
Na história, Solano vive Cláudio, um homem que armazena toda a sua vida em computadores e redes sociais. Debruçado sobre um projeto de criar um sistema único para armazenamento de todos os dados de uma pessoa, vê seu sonho ir por água abaixo quando deixa cair um café em seu equipamento, que sofre uma pane e apaga tudo. Ele então torna-se um homem sem passado, já que não se lembra de nada, pois toda sua memória era virtual. “Ele fica completamente desconectado. Não tem o contato de ninguém. E daí parte em busca da família dele e começa a ver que está todo mundo tão envolvido na internet que ele se sente completamente isolado”, explica Miguel Thiré.
Nessa “saga” em busca de suas memórias, Cláudio encontra 11 figuras que fazem parte de suas lembranças, todos os personagens interpretados por Thiré. “A peça não vem para criticar a internet; vem para fazer a gente pensar, e quão maravilhoso é. Seria muito fácil esculhambar e ir embora. Ela bota a gente para pensar no que está vivendo”, completa o ator.
Apoiando-se no humor como plataforma de reflexão, Selfie estreou no Rio de Janeiro no ano passado e cumpriu temporada de três meses com casa lotada. Em maio deste ano, a peça encerrou o Festival de Curitiba com um dos maiores públicos já reunidos pelo evento, 6.500 espectadores em dois dias e três sessões.
Todo o processo de criação da montagem foi erguido a partir de conversas e trocas de experiência dos atores, público e da autora do texto, Daniela Ocampo. “No Rio, todo domingo a gente fazia a apresentação num bar. Quem quisesse ficava para uma conversa ao fim. E, de repente, a gente conversava sobre a internet, e recorrente era a fala sobre o quanto a gente está muito envolvido, muito viciado, e começamos a perder o contato com a vida exterior”, acrescenta Miguel Thiré.