Marco Zero

Pimentel entrega, a contragosto, papel de Jesus na Paixão de Cristo

Artista continuará à frente do espetáculo como diretor. Hemerson Moura assume protagonista

Márcio Bastos
Cadastrado por
Márcio Bastos
Publicado em 12/12/2017 às 21:12
Sérgio Bernardo/JC Imagem
Artista continuará à frente do espetáculo como diretor. Hemerson Moura assume protagonista - FOTO: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Leitura:

Despedir-se é, em geral, uma ação acompanhada de sentimentos sinuosos. É lidar com a dor (seja lá em que medida) de deixar para trás, mas também encarar as possibilidades que se apresentam pela frente. É a opção de escolher se quer ver o copo meio cheio ou meio vazio. No caso de José Pimentel, a montanha-russa emocional provocada por sua saída do papel de Jesus na Paixão de Cristo do Recife o coloca em um lugar entre a tristeza e a conformação. Essa dualidade ficou explícita, ontem, quando ele, que interpretou o Nazareno por 40 anos, apresentou à imprensa Hemerson Moura, ator que terá a missão de carregar a cruz na 22ª Paixão de Cristo do Recife, nos dias 30 e 31 de março e 1º de abril, no Marco Zero.

Aos 83 anos, José Pimentel é uma figura naturalmente associada, em Pernambuco, às encenações da fase final da vida de Jesus Cristo. Sua relação com o espetáculo começou ainda nas ruas de Fazenda Nova, no Drama do Calvário, embrião do que viria a se tornar o espetáculo de Nova Jerusalém. Nas montagens no Brejo da Madre de Deus, interpretou um soldado romano, Pilatos, o demônio e, em 1978, assume o papel do Nazareno, no qual permanece até 1996, com uma saída marcada por conflitos.

É então que, em 1997, ele cria a Paixão de Cristo do Recife. Mais uma vez como Jesus, ele também escreve e dirige, arrastando multidões primeiro para o Estádio do Arruda e, depois, para o Marco Zero, onde a montagem é realizada até hoje. No final de 2016, passou por cirurgia inguinal de emergência e ficou internado por 12 dias. Muitos chegaram a duvidar se ele conseguiria viver o papel de sua vida mais uma vez. Desafiando boletins médicos e a descrença geral, munido apenas de sua paixão pelo espetáculo, ele ascendeu ao céu do Marco Zero.

DESPEDIDA

“Não estou feliz. Não acho que era necessário [deixar o papel]. Se a conversa é porque estou velho, não aceito, porque, se eu quiser, amanhã coloco a roupa de Cristo e faço melhor que um menino. Até porque não é fácil interpretar esse papel”, afirmou Pimentel.

Para ocupar o papel foi aberto, então, um concurso, cuja última fase aconteceu com teste ao vivo, segunda, no Teatro Apolo. O escolhido, Hemerson Moura, 39 anos, recebeu o telefonema com a confirmação do seu nome na manhã de ontem. Sua felicidade de trabalhar com Pimentel, que segue como diretor do espetáculo, contrastava com as ressalvas do experiente ator em deixar o papel.

“Sempre tive vontade de participar da Paixão de Cristo do Recife, mas nunca imaginei que seria logo como Jesus. Pimentel é um ícone e não gosto do título de ‘Novo Cristo’; me vejo como um ator que vai interpretar Jesus no espetáculo dirigido por ele”, reforçou Hemerson.

Últimas notícias