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Glamour e dança no Festival Internacional Vogue Fever

Quer conhecer mais sobre a dança "lacração" Vogue? O Festival começa nesta quarta (29) e vai até o sábado (1) no Recife

Duda Lapenda
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Duda Lapenda
Publicado em 29/08/2018 às 13:08
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Quer conhecer mais sobre a dança "lacração" Vogue? O Festival começa nesta quarta (29) e vai até o sábado (1) no Recife - FOTO: Foto: Divulgação
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Strike a pose, ou, faz uma pose, convoca Madonna na música Vogue (1990). A coreografia da dança de mesmo nome, que aparece no clipe, consiste em um intenso movimento de braços retos que repousam sobre cabeças, cinturas e ombros, reforçados pela expressividade facial. A intenção é dar “close”, como nas posições das modelos das capas de revista. Quem quiser conhecer mais sobre a dança Vogue, poderá comparecer nesta quarta (29), às 19h, à primeira edição do Festival Internacional Vogue Fever, evento gratuito e apoiado pelo Funcultura, que vai até sábado (1) no Paço do Frevo e no Sinspire.

Mas, a “geração lacração” quer muito mais do que só dar close. Quer discutir de que forma a dança e a arte servem como instrumentos de resistência e, por que não, de afirmação política? A exemplo dos ballrooms, espaços de festas que tiveram seu auge na Nova York dos anos 80. Lá, negros, gays, trans, enfim, qualquer pessoa que não se sentisse adequada às normas da sociedade, podiam ter refúgio. O momento histórico é explorado no documentário Paris is Burning (EUA, 1990), dirigido por Jennie Livingston.

O seminário Cultura Ballroom e a Vogue no Brasil abre a programação do festival, hoje, às 19h, abordando essa questão. O debate acontece com o Trio Lipstick (MG), Edson Vogue (PE), Makayala Revlon (RJ) e Felix Pimenta (SP), no Espaço Sinspire (Praça do Arsenal). Também haverá a primeira edição da oficina para pessoas com deficiência Vogue Para Todos, que contará com intérprete de libras e será ministrada pelo Trio Lipstick. A aula acontece amanhã, às 17h, no Paço do Frevo.

Composto por Maria Teresa Moreira (Tetê), Paula Zaidan e Raquel Parreira em Belo Horizonte, o Lipstick se aventura nos estudos de Vogue e Cultura Ballroom desde 2011, embora desde 2006 as integrantes tenham envolvimento com a cultura urbana do hip hop. “O Vogue foi muito importante para o nosso empoderamento feminino, foi quando estávamos dentro do hip hop, que é uma cena bem machista e foi uma forma da gente se afirmar nesse ambiente”, afirma Tetê. Foi durante uma residência artística em Nova York, em 2009, que Zaidan entrou em contato com Archie Burnett (NYC), considerado o padrinho do gênero no Brasil, e a empreitada começou.

“Nesse caminho, junto com nosso contato com o Archie Burnett, nós três conseguimos fazer uma residência artística em Nova York e tivemos um contato bem aprofundado na cultura do Vogue. E nesse mesmo ano, em 2015, o Archie se dispôs a vir para o Brasil por conta própria e fizemos o primeiro BH Vogue Fever super independente, sem apoio nenhum, tudo muito na raça e foi um sucesso”, se orgulha Tetê.

 Dança

Os movimentos do Vogue remetem, metaforicamente, a uma “afronta”. São três os estilos: Old way ou Pop Dip Spin, mais rígido, cujas linhas e posturas são inspiradas nos militares, ninjas e artes marciais. Vogue Fem, inspirado no corpo das mulheres trans, em que movimentos mais “afeminados” evidenciam quadris, curvas, cabelo e a própria beleza. E o New Way, marcado pela flexibilidade, contorções corporais e movimentos dos punhos.

A intenção, no entanto, não é reforçar os estereótipos de gênero ou estéticos. Pelo contrário. “O Vogue é não binário, ele vai brincar com essa ideia de masculino e feminino”, explica Tetê. O corpo, ao contrário de outros tipos de dança, não segue um padrão ideal. O ideal é a diferença. “O Vogue é aquele momento de você se achar a mais maravilhosa, a mais bonita, a melhor de todas, então ele vai celebrar a diferença e a diversidade”, reflete.

Mas todos podem dançar Vogue? “O Vogue é para todos, uma dança muito democrática, mas que pra dançar é muito importante saber de onde ela veio, das pessoas que a construíram, e que dentro dessa cultura não existe nenhum tipo de homofobia, preconceito e opressão”, responde Tetê.

Em termos de linguagem, também não há limites. Edson Vogue (PE) irá ministrar amanhã uma Oficina de frevo, no Paço do Frevo. Afinal, o Carnaval, que é uma festa tradicionalmente popular e antigamente marginalizada, levanta questões sociais importantes, que se relacionam à proposta de resistência do Vogue.

“Vou tentar levar as pessoas para o que era o Carnaval no início do século a partir dos corpos negros, que trabalhavam em construções. Depois, vou levar esse corpo para um lugar mais feminino, com a entrada da mulher no Carnaval”, explica Edson. Sua pesquisa começou no Guerreiros do Paço, onde utilizava a metodologia Nascimento do Passo. “Eu comecei a perceber que tinha semelhanças nos corpos de quem fazia frevo e Vogue”, afirma.

Além disso, também faz parte da programação uma vivência com Archie Burnett, na sexta (31), às 19h30, no Sinspire. E, para finalizar no mesmo local, o Hellcife Ball no sábado (1), às 19h, com batalha de vogue valendo prêmios e troféus.

Serviço

l Festival Internacional Vogue Fever. Nesta quarta (19), a partir das 19h, até sábado. No Paço do Frevo (Rua da Guia, s/n) e Sinspire (Praça do Arsenal), no Bairro do Recife. Entrada gratuita limitada às vagas.

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