Exposição

Renato Valle abre hoje a exposição Cristos e anticristos

Novo trabalho do recifense, cuja abertura acontece hoje na UFPE, traz reflexão sobre a influência da religião na contemporaneidade

Renato Contente
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Renato Contente
Publicado em 12/03/2012 às 6:14
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Depois de transitar pelo desenho, pintura, gravura e fotografia, o artista plástico Renato Valle decidiu realizar um antigo desejo: ampliar a dimensão de seu trabalho com esculturas e objetos. É com essa vontade materializada que o recifense abre hoje parte da exposição Cristos e anticristos, ao meio-dia, na Galeria Capibaribe, no Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Pela vastidão do material produzido, outra parte do trabalho será exposta na Galeria Dumaresqe, em Boa Viagem, com abertura na próxima-quarta-feira, às 18h.

O projeto partiu de um objeto em comum em quase toda sua extensão: o crucifixo. Unido à diversos materiais e técnicas artísticas, o símbolo da cruz ganhou um sem-número de conotações, utilizando seus novos significados adquiridos como crítica ao fanatismo religioso e à hipocrisia social. “O crucifixo foi escolhido por uma antiga inquietação minha. Na maioria das suas representações tradicionais, a cruz ainda aparenta ser de madeira polida, bem acabada, como se fosse preparada para o repouso de um rei branco de olhos azuis, e não para punir um bandido”, justifica Renato Valle. 

As reflexões e angústias do artista se desdobraram em colmeias, grades e cruzes com Coca-Cola, colocando em xeque a afirmação de que a bondade é inerente ao ser humano, e que a maldade depende de fatores externos à ele. Ser humano pressupõe fazer escolhas que estão além de ser do bem ou do mal, e é a consciência dessa cota de humanidade que Valle tenta suscitar em cada um dos visitantes da exposição.

O anticristo do título não tem nenhuma conotação apocalíptica. Em referência literal ao prefixo, indica um cristo em posição oposta a outro, passando longe de levantar dúvidas quanto a ser o “filho do dêmonio” temido pelos cristãos. A formatação recorrente dos dois cristos polares em conflito indica a dicotomia da natureza humana, dividida entre luz e sombra, amor e ódio, fé e descrença.

Em uma das peças mais emblemáticas, e de feitio dos mais complexos, está o Mealheiro. Feito à base de resina de poliéster e em várias etapas, a obra conduz a uma reflexão entre poder simbólico e econômico, quando a religião se utiliza da fé para explorar fieis em troca da promessa de salvamento material e espiritual. Dentro da cabeça transparente do cristo, moedas e cédulas reforçam a ideia.

A disposição de cristos em grades também faz parte da mostra, constituindo mais um objeto de dualismo: a grade ao mesmo tempo como sinal de proteção e opressão dos meios externos. Um dos destaques é a série de cristos equilibristas e em coreografia para nada sincronizado. A imagem do cristo é rigorosamente a mesma que se vê nas igrejas, mas a situação em que foi posto lhe dá uma configuração completamente diferente. “Me incomodo com a tradição de associar o cristo crucificado à dor e ao sofrimento. Essas peças foram uma tentativa de tirá-lo desse estado. Não houve ironia ou intenção de ferir nenhuma ideia.”, explica o artista, que desejou imprimir vida à figura sacra do cristo, esta simbolizada pela dança e pela alegria.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta segunda (12), no Caderno C

 

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