Em nome do pai

Exposição de Manuel Dantas Suassuna faz homenagem a Ariano Suassuna, seu pai

A mostra está em cartaz no RioMar Recife até o dia 22/04

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 08/04/2015 às 6:00
Geyson Magno/Divulgação
A mostra está em cartaz no RioMar Recife até o dia 22/04 - FOTO: Geyson Magno/Divulgação
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Era 1997. O pai que completava 70 anos havia saído para celebrar a data num circo, lugar que sempre lhe foi muito caro. O filho, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, preferiu não acompanhar a família, para poder finalizar a surpresa que vinha preparando. Na parede da sala, deixou o quadro pintado para Ariano, o seu presente naquele 16 de junho. O tríptico exibia, principalmente, marcas que balizavam a vida do homenageado: as imagens dos pais do escritor, João e Rita; a Fazenda Acauã, onde ele havia passado a infância, no Sertão da Paraíba; e, de Pernambuco, as Pedras do Reino, lugar que inspirou um de seus romances. Pela primeira vez, o quadro sai da sala particular, no Bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife, para ser exposto na mostra Em nome do pai, que está em cartaz no Recife, até o dia 22, no terceiro piso do RioMar.

O tríptico dos 70 anos e mais de três dezenas de obras criadas por Manuel Dantas Suassuna seguem, assim, um caminho natural. Por princípio, a arte não é egoísta: ela é, essencialmente, partilha. A criação, em geral, só ganha sentido se apreciada por muitos. Para os que se acostumaram a ver os quadros de Dantas na sala da Rua do Chacon, é inevitável: a emoção chega, e vem com toda força. 

“É como se eu estivesse com ele. E prestando contas, dizendo: ‘pai, aqui está’”, confessa o artista, com a mesma tinta de verdade e de sentimentos que usa para marcar os seus quadros. “Reverencio o meu pai através da minha criação.” A exposição, apresar do título escolhido para nominá-la, é dedicada ao pais: “para Zélia e Ariano, sempre”. O artista confessa que demorou para decidir-se por Em nome do pai: “No início, estranhei. Achei muito forte. Com o passar do tempo, vi que era esse mesmo o meu sentimento nesta exposição”.

Da casa da Rua do Chacon, outros quadros foram levados à mostra. Entre eles, um São Miguel, pintado em tela grandiosa. Ariano, que tinha na sala também uma escultura barroca representando São Miguel, repetia aos visitantes o ditado: “Onde tem dois Miguéis, o mal não entra”. 

O pai celebrado, que morreu em 23 de julho de 2014, conheceu todas as obras que agora são exibidas ao público. “São todos quadros ligados a ele ou a pessoas que têm vínculos com ele, como minhas irmãs”, revela Dantas, admitindo que precisou passar nas casas de outras pessoas da família para arrebanhar as suas criações e montar a exposição da forma como sonhou. 

Na entrada da mostra, os visitantes são recebidos por uma reprodução, em tamanho natural, da casa da família em Taperoá, Sertão paraibano. Há ainda, além das pinturas, algumas esculturas. Um trecho do Romance d’A Pedra do Reino, livro maior de Ariano, foi bordado em tecido pela figurinista Andréa Monteiro. Ricardo Gouveia de Melo assina a direção de arte.

O sagrado que permeia toda a obra de Manuel Dantas Suassuna também está presente na exposição. Cruzes, terços, ex-votos, muitas representações de Nossa Senhora, Cristos crucificados – fé e vigor. “Cheguei a pensar em chamar a mostra de Altar do pai ou Ara do pai”, admite o artista. Também estão lá as camadas múltiplas de tintas – que ajudam a quebrar limites na criação de Dantas – , os traços das serras sertanejas, os caminhos contornando o idílico. 

TRAJETÓRIA

Manuel Dantas Suassuna imaginou que seria vaqueiro, pensou em ser marceneiro, sonhou em ser piloto de avião – planos devidamente compartilhados com o pai escritor. Demorou a encontrar, nas artes plásticas, um caminho. Aos 26 anos, em 1986, pintou, com predominância de tons ocres, uma imagem de São João Batista. “Foi ali que vi que ele era um artista, e dos bons”, dizia Ariano. O quadro revelador também estará na mostra. 

Tempos depois, quando já assistira ao amadurecimento do artista que tinha em casa, Ariano declarou: “A Arte, de fato, não se explica. E uma Arte tão pessoal como a de Manuel Dantas Suassuna, mesmo permanecendo a Pintura em sua natureza de ‘coisa mental’, deve ser captada e fruída assim como foi criada, isto é, através da intuição, das revelações e iluminações da imaginação criadora”.

 

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