Questionamento

Revolução de 1817 é ponto de partida para exposição Bandeiras

Pensada por Moacir dos Anjos e José Luiz Passos, exposição problematiza fato histórico diante das demandas sociais

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 06/10/2017 às 19:26
Léo Mota / JC IMAGEM
Pensada por Moacir dos Anjos e José Luiz Passos, exposição problematiza fato histórico diante das demandas sociais - FOTO: Léo Mota / JC IMAGEM
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Alguns objetos possuem o poder de concentrar simbolicamente valores ou territórios inteiros como aglutinadores da identidade coletiva. Em toda a história conhecida, a ideia e funcionalidade de um pedaço de tecido celebrado como bandeira tem especial poder de coalização. Aberta hoje, na Galeria Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco, a exposição As bandeiras da revolução - Pernambuco 1817 / 2017 confirma e problematiza as narrativas sociais por trás de um totem de pano recententemente recuperado pela historiografia oficial. Numa mostra em que artes visuais e documentos históricos dialogam como se numa grande instalação, a bandeira da Revolução Pernambucana de 1817 é o ponto de partida para novas leituras da história oficial e suas versões na realidade.

“A Revolução Pernambucana de 1817 foi, apesar de sua duração efêmera - pouco menos de três meses - e de menos falada que a Inconfidência Mineira, a primeira tentativa vitoriosa de instalar a República no Brasil. No seu ideário, estava não apenas a emancipação política, mas uma promoção sem precedentes de formas de igualdade de direitos no País. Ainda sem a centralidade necessária, coube nela também a defesa da abolição da escravatura”, comenta o curador Moacir dos Anjos, particularmente incomodado com os ritos oficiais de comemoração do bicentenrário da Revolução de 1817. “Houve, por exemplo, a cessão de medalhas oficiais a figuras públicas que, na prática política, pouco ou nada têm a ver com os ideais da Revolução”, comenta.

A exposição não deixa de ser uma tentativa, em seu alcance, de acrescentar novas camadas de leitura à história mais oficial. O ponto de partida é o fato de que, cem anos depois de seus episódios sufocados, a Revolução de 1817 teve sua bandeira adotada, com poucas alterações, como bandeira oficial de Pernambuco. “Tomando como ponto de partida documentos que condensam a história e os significados dessa bandeira, esta exposição argumenta pela validade das bandeiras mais amplas da Revoluççao de 1817 e por uma atualização contemporânea em várias outras reclamações específicas de danos”, comenta Moacir dos Anjos, que conta com o escritor José Luis Passos como parceiro na curadoria.

SOCIAIS

O primeiro núcleo da exposição denota mais especificamente a parceria entre Moacir dos Anjos e o escritor pernambucano radicado em Los Angeles que, frequentemente, usa a história de Pernambuco como argamassa de suas narrativas. Flanando pelos sebos americanos, ele se deparou com a carta original, levada pessoalmente pelo revolucionário Cruz Cabugá como informe da nova república em Pernambuco ao governo dos Estados Unidos. A tal carta tem especial apelo estético. É ilustrada por uma bandeira aquarelada. E soma-se a outros seis documentos, alguns contemporâneos, relativos a 1817.

O segundo núcleo é o mais propriamente artístico. Moacir convocou doze artistas contemporâneos que tem bandeiras como suporte ou referência. A obra Gabiru do Norte Massa, de Lourival Cuquinha, traz 2.117 notas de reais costurados com linha de algodão, moedas de 5 centavos e aço formando uma paródia da bandeira pernambucana. Graziela Kunsch comparece com o tecido manifesto com a inscrição O RACISMO É ESTRUTURAL exposta nas ruas de São Paulo. Bandeiras de movimentos sociais contemporâneos, como o Movimento dos Trabalhadores Cristãos, Ocupe Estelita e Negro Unificado apontam para a dimensão estética das demandas contemporâneas.

As Bandeiras da Revolução – Pernambuco 1817/2017. Galeria Massangana - Av.17 de Agosto, 2187, Casa Forte. Abertura: hoje, das 15h às 19h. Até 3 de dezembro.

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