O acervo do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães está agora a um clique do público do mundo. Único do Nordeste na lista, o Mamam figura entre os 15 museus brasileiros escolhidos para integrar o Google Arts and Culture, a recém criada galeria virtual que surge como uma das plataformas mais poderosas dessa forma museográfica contemporânea: virtual.
“A plataforma é uma grande oportunidade para compartilhar, preservar e promover nosso patrimônio mundo afora. Essa divulgação permite que pesquisadores, curadores, críticos, professores e interessados em arte possam ampliar seu repertório sobre a produção artística de várias partes do mundo, podendo observar as especificidades e transversalidades sobre a produção de cada lugar”, comemora a também artista Beth da Matta, gestora do museu da Rua da Aurora.
Estar na criteriosa lista da gigantesca Google ao lado de 50 das mais importantes instituições de arte do mundo é prova da importância do Mamam – um acervo capaz de contar um recorte significativo das artes moderna e contemporânea do Brasil com mais de mil obras assinadas por nomes sintetizadores como Vicente do Rego Monteiro, João Câmara, Vik Muniz, Alex Flemming, Rivane Neuenschwander, Paulo Bruscky e o próprio designer pernambucano Aloisio Magalhães que batiza o prédio.
Mas, involuntariamente, a presença do Mamam nesta que nasce como a mais popular galeria virtual do mundo expõe também sua fragilidade. Com exceções de poucos equipamentos públicos (como o Paço do Frevo e o Museu do Estado, de boas saúdes administrativas), o Mamam é exemplo da fragilidade gritante na gestão da maior parte dos museus pernambucanos. Hoje, a casa não tem fôlego sequer para expor seu importantíssimo próprio acervo. Por simples e objetiva falta de recursos.
Na metade do ano, o Mamam não tem orçamento próprio. E não deve ter até o fim do ano. “Como os outros equipamentos municipais, o Mamam não tem orçamento próprio para projetos. Vamos viabilizando conforme a demanda”, informa Diego Rocha, presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife que agora gere os museus da cidade. “Vamos tentar estabelecer um orçamento próprio para o ano que vem”, adianta.
Na prática, o museu criado em 1997 a partir da antiga Galeria Metropolitana de Arte Aloisio Magalhães para sintetizar a arte moderna e contemporânea no Recife e inserir a capital no circuito nacional (e internacional) não tem fôlego para encampar projetos próprios. Abre as portas diariamente e em horário restrito, apenas a partir do meio-dia, porque a Prefeitura mantém em seus custos as despesas elementares com água, energia elétrica, segurança, funcionários e o corpo de estagiários do programa educativo, um dos poucos que funcionam com vigor na instituição. “Na prática, temos recebido exposições que chegam já patrocinadas”, diz Mabel Medeiros, gerente administrativa do Mamam.
Mas há avanços para o sobrado de número 252 da Rua da Aurora. Depois de anos em pleito, a Prefeitura do Recife informa que já tem escolhida a empresa que vai instalar o elevador interno (viabilizada por uma emenda parlamentar de cerca de R$ 88 mil) para melhorar a acessibilidade no antigo prédio de três andares. Sob definição ainda de cronograma para execução, há também um projeto para ampliação da reserva técnica. “A sala da administração fica colada com a da reserva técnica. Como já estamos no limite, nossa ideia é desocupar a administração para ampliar a reserva”, diz Mabel Medeiros, informando que a atual biblioteca será ocupada pelo administrativo.
A biblioteca passaria para onde funcionava a lojinha e esta ficaria nos fundos do prédio, na pequena galeria vidrada conhecida como “aquário” perto da entrada da Rua da União. Em contrapartida à emenda parlamentar que garante o elevador, a PCR faria uma obra para correção de infiltrações no prédio.
Atualmente, o Mamam tem duas exposições em cartaz. No térreo, a mostra Existencidades, do fotógrafo pernambucano Beto Figueiroa. Nos segundo e terceiro andares, uma exposição multimídia do artista Neilton com leitmotiv nos 30 anos de atuação da banda de punk rock Devotos. Ambas patrocinadas pelo Funcultura, o programa oficial de fomento à cultura do Estado.
Para conseguir alguma verba extra, o Mamam tem recorrido ao apoio e criatividade da Sociedade de Amigos do Mamam. Uma das iniciativas é o clube de fotografia do museu, que prevê a venda de kits com cinco cópias de imagens assinadas por artistas renomados ao preço fixo de R$ 3,5 mil – um custo bem abaixo do valor de mercado de artistas chancelados pela participação em grandes bienais como o alagoano-pernambucano Jonathas de Andrade, um dos nomes na lista. “Estamos nesse início das vendas”, diz Mabel Medeiros. Até agora, foram vendidos apenas três kits.
O Mamam não tem perspetiva de voltar a sediar exposições grandiloquentes de vulto internacional, como as de Rodin e Basquiat que inseriram o museu no rol dos obrigatórios do País na década de 2000, sob as gestões sucessivas dos críticos e curadores Moacir dos Anjos e Marcus Lontra. Mas há discussões para duas grandes exposições de nomes brasileiros. Uma seria uma inédita de Alice Vinagre. Outra, uma grande panorâmica da trajetória da pernambucana Tereza Costa Rego, com possibilidade de aquisição de obra para acervo. “Seriam também exposições com patrocínio externo”, adianta a gestora.
LA GRECA
No próximo mês, outro museu municipal, o Murilo La Greca, em Casa Forte, deve passar, segundo a PCR, por obras de manutenção estrutural, com recuperação de paredes e instalações. Mas o projeto do Mamam-jovem, previsto para o Pátio de São Pedro e criado há mais de dez anos para ser porta de entrada de novos artistas no sistema institucional das artes, permanece o que nunca deixou de ser: um projeto. Não tem previsão de implementação. Por meio da assessoria de comunicação, a prefeitura, no entanto, informa que concluiu recentemente “um diagnóstico dos equipamentos culturais existentes no Pátio de São Pedro e algumas intervenções” e que “ações estão programadas, fruto também da articulação com outras secretarias e órgãos”, sendo “momento de captação de recursos para posteriores definições”.
Enquanto o Mamam também aguarda definições sobre novas agendas de conteúdo externo ou sobre quando poderá expor ser acervo, o público do Recife e arredores pode também acessar a galeria do Google para visitar sua coleção. As três exposições virtuais com recortes estabelecidos pela própria Beth da Mata e as pesquisadoras Rebeka Monita e Joana D’Arc de Souza Lima, chamam-se: Memória e Subjetividade, Por afetos e Político e Social com obras de Rodrigo Braga, Aloísio Magalhães, Vicente do Rego Monteiro, Brígida Baltar, Efraim Almeida, Rodolfo Mesquita, Márcio Almeida e, entre outros, da Tereza Costa Rego que espera expor “fisicamente” no museu até o fim do ano.