O grande vencedor do 69º Festival de Cannes foi a produção britânica I, Daniel Blake, de Ken Loach, que ganhou a Palma de Ouro na noite de domingo (22-5), em cerimônia na aprazível cidade da Riviera Francesa. É a segunda Palma de Ouro de Loach, que já havia ganho por Ventos da Liberdade há exatamente 10 anos. O filme é realmente tocante ao contar a via-crúcis de um marceneiro, vítima de um ataque cardíaco, para receber a pensão e voltar a trabalhar.
Infelizmente, esta foi a única escolha que não provocou a ira dos críticos, mesmo que I, Daniel Blake não tenha sido o melhor filme do festival. Havia pelo menos mais três ou quatro filmes que mereciam a Palma pelas novidades que trouxeram, como o alemão Toni Erdmann, de Maren Ade, o francês Elle, de Paul Verhoeven, e o brasileiro Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Todos eles foram desconsiderados pelo júri, presidido pelo cineastas australiano George Miller.
O curta-metragem brasileiro A Moça que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda Maria, ganhou uma menção especial do Júri. Outro filme brasileiro que ganhou prêmio este ano foi o Cinema Novo, de Eryk Rocha, que ganhou um prêmio paralelo de Melhor Documentário.
Sonia Braga, por Aquarius, e Isabelle Huppert, por Elle, foram esquecidas pelo júri, numa atitude que deixou a sala de imprensa de Cannes boquiaberta. As outras categorias também tiveram escolhas discutíveis, como o Grande Prêmio do Júri para Just la Fin du Monde, do canadense Xavier Dolan. O mesmo se pode dizer da divisão de Melhor Diretor entre Olivier Assayas e Cristian Mungiu. Personal Shoper, de Assayas, foi considerado um dos mais fracos do diretor, embora Mungiu tenha feito um bom trabalho em Graduation.
Um dos maiores vencedores foi o iraniano Asghar Farhadi. Shahab Hosseini, ator de The Salesman, levou o prêmio de Melhor Ator. Mas nada justiçaria o prêmio de Melhor Roteiro para ele. Afinal, cerca de um quinto do filme tem falas da peça A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller.
Premiação:
Palma de Ouro: I, Daniel Blake, de Ken Loach
Grande Prêmio: Juste la Fin du Monde, de Xavier Dolan
Prêmio de Direção: Cristian Mungiu, por Graduation, e Olivier Assayas, por Personal Shopper
Prêmio de Roteiro: Asghar Farhadi, por The Salesman
Prêmio de Júri: American Honey, de Andrea Arnold
Melhor Ator: Shahab Hosseini, por The Salesman
Melhor Atriz: Jaclyn Rose, por Ma’Rosa, de Brillante Mendoza.
Palma de Ouro de Curta-metragem: Timecode, de Juanjo Gimenez
Câmera d´Or: Divines, de Houda Benyamima.
O repórter viajou numa parceria entre o JC, o Institut Français e AESO-Barros Melo.