CRÍTICA

Eles voltam, vencedor do Festival de Brasília 2012, finalmente chega aos cinemas

Filme acompanha jornada de autoconhecimento de menina de classe média alta

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 07/03/2014 às 6:02
Vitrine Filmes/Divulgação
Filme acompanha jornada de autoconhecimento de menina de classe média alta - FOTO: Vitrine Filmes/Divulgação
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O descompasso entre a produção e a distribuição ainda é um dos nós górdios do cinema brasileiro. Um dos exemplos mais recentes é a longa espera que o filme pernambucano Eles voltam levou para chegar ao público desde a sua consagração no Festival de Brasília, em setembro de 2012. Só um ano e meio depois, portanto, é que o primeiro longa-metragem de ficção de Marcelo Lordello entra no circuito, chegando às telas do Cinema São Luiz e do Cinema da Fundação.

Por causa disso, o filme perdeu toda uma publicidade gratuita que ganhou ao sair de Brasília com os Candangos de Melhor Filme (dividido com o também pernambucano Era uma vez eu, Verônica, de Marcelo Gomes), de Melhor Atriz (Maria Luíza Tavares) e Melhor Atriz Coadjuvante (Elayne Moura), além do Prêmio da Crítica (Abraccine).

Depois dessa vitória incontestável, Eles voltam representou o cinema pernambucano em inúmeros festivais nacionais e internacionais, entre eles o Festival de Roterdã e a Mostra New Directors New Films, em Nova Iorque, no ano passado. Depois de O som ao redor, foi o filme local que mais rodou o mundo.

Assim como o longa de Kleber Mendonça Filho, Eles voltam também respira o aqui e o agora do tempo em que vivemos. De uma maneira muito sutil e poética, o filme é uma jornada iniciática empreendida por uma menina de 12 que, ao sair de uma redoma e testemunhar outra realidade, percebe diferenças sociais e de formas de relacionamento.

Eles voltam começa com um longo prólogo em que assistimos à arenga de Cris (Maria Luiza) e Peu (Georgio Kokkosi), seu irmão mais velho. Eles são deixados no meio de uma estrada pelo pais, que certamente queriam lhes dar uma lição. Como eles não voltam logo, Peu decide se aventurar em busca de uma saída para voltar para casa e deixa Cris sozinha, à beira da estrada.

Com exceção do seu início, tudo o que virá pela frente será construído e relativizado pelos olhos de Cris. Fora das fronteiras do lar e dos cuidados paternos, ela passa dias de aprendizado quando é acolhida por uma família de agricultores assentados e outra que vive de faxina e arrumação em casas de veraneio na Praia de Tamandaré, na Litoral Sul do Estado. É lá que ela conhece Jéssica (Elayne Moura), uma menina da mesma idade, mas em tudo diferente dela. 

Apesar da ausência dos pais revelar, posteriormente, algo difícil para Cris, ao voltar para casa ela será outra pessoa. Sua noção de diferença social explode em conversas com o avô burguês e as coleguinhas da escola, que desprezam quem é diferente. 

Adepto de um cinema que investiga mais a alma dos personagens e menos suas ações, Marcelo Lordello fez um filme que olha criticamente para a realidade, mas sem sacrificar a poética de suas imagens. Com um olhar sensível, quase feminino, Eles voltam faz do espectador um cúmplice na construção de valores que não devemos menosprezar.

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