CRÍTICA

Hoje eu quero voltar sozinho mostra drama da adolescência sob outra ótica

Romance entre dois meninos, um deles cego, traz novo olhar para o universo teen

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 17/04/2014 às 10:23
Vitrine Filmes/Divulgação
Romance entre dois meninos, um deles cego, traz novo olhar para o universo teen - FOTO: Vitrine Filmes/Divulgação
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Bastou apenas um longa-metragem para que o cineasta paulista Daniel Ribeiro, de 31 anos, causasse uma pequena revolução na visibilidade dos filmes de temática LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Ele é o diretor de Hoje eu quero voltar sozinho, que estreia nesta quinta (17/04), no Cinema da Fundação, no Rosa e Silva e no Cinemark RioMar. Em fevereiro, o filme ganhou o prêmio Teddy (para obras com temática gay) e o prêmio da crítica (Fipresci) no Festival de Berlim.

Na final da semana passada, quando foi lançado em pouco mais de 30 salas de várias cidades brasileiras, Hoje eu quero voltar sozinho ficou em 5º lugar no ranking das maiores bilheterias, com 33.112 espectadores. A média de público é estratosférica: quase mil pessoas em cada sala, sem contar a forte concorrência de blockbusters como Noé e Capitão América 2: O Soldado Invernal.

Ao contrário dos barulhentos concorrentes, Hoje eu quero voltar sozinho é um filme que conquista o espectador pela sensibilidade e pelo carinho com que trata seus personagens. Isso não foi nenhuma surpresa, diga-se. Antes de chegar ao formato de longa, Daniel já mostrara no curta-metragem Eu não quero voltar sozinho, realizado em 2010, o quanto sua ideia era boa. Detentor de dezenas de prêmios em festivais nacionais e internacionais, o curta tem mais de 3,3 milhões de visualizações no YouTube.

Na longa-metragem, o cineasta expandiu a ideia em todas as direções e o resultado foi excelente. Para começar, a história permaneceu tão inovadora quanto na versão menor. Afinal, não é todo dia que assistimos a um enredo sobre a adolescência com tamanha intimidade. Além, é claro, de trazer a descoberta da sexualidade para um personagem que pertence a um grupo de pessoas que são obrigadas a viver na invisibilidade.

Hoje eu quero voltar sozinho é um filme sobre amor e amizade na adolescência. O sexo é tangencial e tratado de maneira tímida, o que reflete a imaturidade dos amigos Leo (Guilherme Lobo), Gabriel (Fabio Audi) e Giovana (Tess Amorim). A história começa com Leo e Giovana em cena. Deficiente visual, Leo é ajudado pela amiga, que o leva para casa depois da escola e o defende contra o bullying dos colegas de classe, incomodados com o barulho da máquina de Braile, entre outras coisas.

A grande sacada de Daniel, já pressentida no curta Café com leite (2007), é a maneira como ele coloca a questão da opção sexual em ambientes onde menos se espera o debate. Neste curta de 2007, um rapaz precisa criar o irmão menor, depois da morte dos pais, sem esconder para ninguém que é homossexual. Em Hoje eu quero voltar sozinho, ele introduz Gabriel, um estudante novato que se torna amigo de Giovana e Leo. A surpresa é que Leo e Gabriel, aos pouquinhos, são atraídos um pelo outro e se apaixonam.

Colocar um menino cego, que se apaixona pelo colega, é um ideia e tanto para confrontar o sistema. Comedido, Daniel não resvala para o melodrama, nem cede um milímetro para situações esdrúxulas. Acreditar na pureza ainda pode ser uma grande arma para conquistar o outro.

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