CRÍTICA

Conspiração e Poder conta caso jornalístico rumoroso sobre o ex-presidente George W. Bush

Filme tem no elenco Cate Blanchett e está em cartaz no Cine Rosa e Silva

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 24/03/2016 às 5:11
Mares Filmes/Divulgação
Filme tem no elenco Cate Blanchett e está em cartaz no Cine Rosa e Silva - FOTO: Mares Filmes/Divulgação
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Poucas atrizes estão no melhor momento de sua carreira quanto a australiana Cate Blanchett. Se não bastasse já ter ganho dois Oscars, ela se supera a cada filme. Em Carol, em que concorreu ao Oscar pela sexta vez, sua performance é tão maravilhosa que ela deveria ter ganho uma estatueta Hors Concours. Em Conspiração e Poder, que estreia nesta quinta-feira (24/3) no Cinema Rosa e Silva, Cate não só arrasa mais uma vez como empresta seu prestígio para um filme que, sem ela, talvez não circulasse muito.

Como em O Custo da Coragem, de 2002, ela interpreta novamente uma jornalista, numa história baseada em fatos reais. Em Conspiração e Poder – tradução por demais explicativa do original Truth (verdade) –, Cate vive a jornalista americana Mary Maples, que trabalhou durante anos para o programa 60 Minutos, da CBS, ao lado de Dan Rather (Robert Redford), um dos âncoras mais famosos do país, com uma história construída desde o assassinato do presidente Kennedy às coberturas das Guerras do Vietnã e do Iraque.

O filme lembra, pelos procedimentos, Spotlight – Segredos Revelados, que ganhou o Oscar de Melhor Filme deste ano. Em ambos, vemos jornalistas à procura da verdade. A diferença é que em Conspiração e Poder um grupo de jornalistas, encabeçado por Mary Maples e Dan Rather, são punidos por causa da uma reportagem envolvendo o presidente George W. Bush veiculada durante a campanha para o seu segundo mandato, em 2004.

Com todo o gás de quem tinha acabado de ganhar o Prêmio Peabody, com uma reportagem sobre a prisão de Abu Graib, no Iraque, em que soldados americanos foram acusados de torturar iraquianos, Mary Maples farejou uma história que prometia um impacto ainda maior: ela teve acesso a um documento, por meio de um militar aposentado, que provava que o presidente Bush teria sido um dos muitos jovens ricos do Texas que usaram contatos para não combater no Guerra do Vietnã.

Primeiro filme de James Vanderbilt, o roteirista de Zodíaco, O Ataque e O Espetacular Homem-Aranha, Conspiração e Poder é um filme que clama para ser visto, não apenas por jornalistas, mas por todos que lutam por uma imprensa livre. A partir do relato de Mary, o filme mostra como o governo Bush e a própria CBS se empenharam em acabar com a carreira de um grupo de jornalistas que foram longe demais. 

Nem precisa dizer que a CBS se recusou a exibir qualquer notícia sobre o filme, que vai muito além da denúncia. Mary Maples não aceita a versão de que cometeu erros, nem que sua orientação política – de esquerda, segundo a comissão de investigação da CBS e da Viacom, sua controladora – teve algum peso sobre a reportagem. Mais do isso, o filme é quase um lamento sobre a transformação do noticiário em mercadoria. Dan Rather conta que o jornalismo começou a mudar quando os programas jornalísticos se transformaram em fontes de lucros para empresas de TV, como as telenovelas e os programas de auditório.

Embora não seja empolgante no seu começo, o filme melhora muito quando Maples precisa encarar os chefes, as fontes que mudaram de ideia e a comissão de assuntos internos da TV. Pode até ser que Conspiração e Poder caia no clichê do jornalista heroico, mas não dá para resistir ao caráter de Mary Maples/Cate Blanchett.

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