CINEMA

O inestimável serviço prestado por Kleber Mendonça Filho

Cineasta deixou sua marca na curadoria dos cinemas da Fundaj

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 08/10/2016 às 9:57
Arquivo JC
Cineasta deixou sua marca na curadoria dos cinemas da Fundaj - FOTO: Arquivo JC
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Na carta entregue ao presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Luiz Otávio Cavalcanti, na última quinta-feira (6/10), em que pediu desligamento da Coordenação de Cinema da autarquia, depois de 18 anos de serviços prestados à cultura cinematográfica do Recife, o cineasta Kleber Mendonça Filho relembrou a história de como foi convidado para trabalhar na Fundaj.

"Eu conheci a Fundação Joaquim Nabuco na infância, através da minha mãe, Joselice Jucá, que foi diretora do Cenibra e do Departamento de História. Em 1998, três anos após sua morte prematura, vim, como repórter de cultura do Jornal do Commercio, entrevistar a então diretora do Instituto de Cultura, Silvana Meireles, sobre o que, na época, era uma aquisição recente de equipamentos de som e projeção 35mm para o auditório José Carlos Cavalcanti Borges. A minha pauta jornalística naquele dia: ?Qual a política de programação a partir desses novos equipamentos a serem usados pela instituição?? Silvana respondeu, em parte, indagando se eu teria o interesse de assumir o cinema, pensando numa política de programação e formação de público. Eu disse que sim, eu tinha 29 anos."

TRAJETÓRIA

Em novembro próximo, Kleber completa 48 anos. Há pouco mais de uma semana em Brasília, durante uma master class sobre Aquarius, ele postou no Facebook um recorte de jornal que remetia à primeira vez que havia ido ao cinema. "A prova de que minha primeira ida a uma sala de cinema tenha mesmo sido a que eu lembrava e que minha mãe Joselice me relatava (minha companhia naquela sessão): Festival Tom e Jerry no São Luiz, em setembro de 1974, aos 5 anos de idade."

Descontados os anos de sua primeira infância, a trajetória de Kleber - como espectador, crítico, curador e realizador - é a de uma vida inteira dedicada aos vários caminhos que a arte cinematográfica impõe àqueles que se acercam dela com um grande comprometimento. Em 1990, na época em que cursava jornalismo na UFPE, Kleber já fazia parte do Cineclube Jurando Vingar, organizando a chegada e saída das cópias dos filmes. Em 1992, ele e a colega Elissama Cantalice fizeram dois curtas-metragens e uma instalação para a conclusão do curso: em Homem de Projeção e Casa de Imagem, o futuro cineasta já mostrava sua preocupação com o fim das salas de bairros e a memória do cinema.

Essa formação, aliada ao fato de ter vivido quatro anos de intensa cinefilia na Inglaterra, onde acompanhou a mãe durante um doutorado, deu a Kleber um conhecimento que poucos cinéfilos poderiam almejar. No JC, quando começou a cobrir os festivais nacionais e internacionais - foram 13 edições do Festival de Cannes, por exemplo -, ele partilhou as novidades do cinema mundial tanto com os leitores quanto com os espectadores do Cinema da Fundação. Em dezembro de 1998, ele criou a Expectativa-Retrospectiva, com uma extensa programação de filmes que faz o balanço do ano que passou e o que o cinema tem a oferecer no ano seguinte.

NOVOS PROJETOS

Nos últimos anos, a atividade de Kleber se expandiu ainda mais: além de crítico, ele criou o Janela Internacional e erigiu uma bem-sucedida carreira de realizador, que chegou à consagração internacional em 2012 com O Som ao Redor. Neste ano, o sucesso mundial de Aquarius sedimentou o futuro dele como um dos grandes cineastas brasileiros da atualidade. Em maio passado, quando o filme foi exibido no Seleção Oficial do Festival de Cannes, ele e a equipe protestaram contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Focar na carreira e nos vários projetos que tem pela frente foram alguns dos motivos para o pedido de desligamento da Fundaj, como a pré-produção do longa-metragem Bacurau e a realização da série de TV Os Filmes Já Começam na Calçada.


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