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Aramis Trindade: uma máquina de atuar

Entre um set e outro, no teatro e na TV, o ator pernambucano está com seis filmes pelos cinemas do Brasil e se prepara para viver seu primeiro protagonista

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 25/10/2016 às 10:12
Léo Siqueira / Divulgação
Entre um set e outro, no teatro e na TV, o ator pernambucano está com seis filmes pelos cinemas do Brasil e se prepara para viver seu primeiro protagonista - FOTO: Léo Siqueira / Divulgação
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Virado na “gota serena”. É assim que o ator pernambucano Aramis Trindade, radicado no Rio de Janeiro desde o sucesso estupendo de sua participação na versão cinematográfica de O Auto da Compadecida (1999), define seu momento.

Aliás, sua vida: com três filmes em cartaz nos cinemas do Brasil, e mais três para estrear até o fim do ano, Aramis se prepara para viver, enfim, depois de 52 películas no currículo, seu primeiro protagonista. “Ainda não peguei o roteiro. O filme vai contar a vida do poeta pernambucano Joaquim Cardozo”, diz ele.

“Não conheço ainda intimamente a vida dele, mas fiquei mesmo impressionado com nossa semelhança física quando vi com mais atenção as imagens do Joaquim Cardozo”, diz o recifense cuja magreza proverbial já o levou a interpretar, numa versão recente, o Visconde

de Sabugosa no Sítio do Picapau Amarelo da Rede Globo. Magreza, não por acaso, que o levou ao Joaquim Cardozo, o filme a ser dirigido por Joel Pizzini.

 

Enquanto não começa a viver o poeta, engenheiro e dramaturgo recifense que calculou o Conjunto Pampulha, em Minas; o Palácio da Alvorada, a cúpula do Congresso Nacional e o Itamarati, em Brasília, Aramis, como de costume, não pára. “Como eu nunca pego, ou melhor, nunca tinha tinha pego um protagonista, faço sempre participações especiais. Então, consigo concatenar bem várias coisas. É como um cirurgião-geral, ou um repórter. De manhã, você trata de uma coisa; à tarde, opera outra”, brinca, sobre a própria versatilidade.

 

Mas sua musculatura, ele sabe, vem de outro exercício. De uma longa trajetória no teatro em que mergulhou em peças de Ariano Suassuna, Dias Gomes e Molière, além de comédias impagáveis como a Minha mãe é uma peça, de João Falcão, na qual fazia uma inclassificável modelo incompreendida pelo grave de sua voz. “No Recife, de 1978 a 1988, tive uma escola de diretores, como Cadengue, Guilherme Coelho, Milton Baccarelli, que me deu uma cancha muito, muito grande. Tanto quanto ter feito Molière ou Millôr Fernandes”.

Com José Mayer, Aramis fez no teatro Um boêmio no céu,de Catulo da Paixão Cearense e direção de Amir Haddad. Ao lado de Lúcio Mauro Filho e Bruno Garcia, estrelou a comédia Homem Objeto. Entre um set e outro, aliás, Aramis continua fazendo apresentações por encomenda de Romeu e Julieta, o cordel de Ariano Suassuna em que, ao final, interpreta o próprio autor, e se engajando em novos projetos na TV.

Com 36 novelas e séries de televisão no currículo de pouco mais de 15 anos de vida no Rio de Janeiro, Aramis acaba de ser escalado para uma série a ser dirigida por Bruno Mazzeo. Com doze episódios, provisoriamente batizada de Os filhos da pátria, a peça vai tratar de uma história da corrupção no Brasil desde a colônia recém-incorporada de Portugal aos dias de operação Lava-jato como espetáculo midiático. De peso, o elenco trará nomes como Matheus Nachtergaele, Fernanda Torres e o novato Johnny Massaro. Com direção de Maurício Farias, o protagonista será defendido por Alexandre Nero. 

“Um trabalho acaba puxando o outro”, diz o ator, convidado para a série pela mesma produtora que o escalou para o longa, delicado e pouco comercial,Reflexões de um liquidificador (2009, de André Klotzel).

Na trajetória de Aramis, um trabalho não apenas chama outro como impõe novos lugares. Depois do Troféu Candango, no Festival de Brasília, como ator coadjuvante no longa que marcou a retomada do cinema pernambucano, O Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, os convites para atuar em outras praças além do Recife foram-se intensificando. Depois de O Auto da Compadecida, contudo, “já não dava para ficar pegando avião o tempo todo”. Aramis, então, juntou os filhos e a mulher, Alessandra Alves, e se mandou para o Rio de Janeiro, onde vive num canto sossegado da Zona Oeste depois da Barra da Tijuca e perto da Praia da Macumba. Lelê, como é conhecida, é sua produtora, a mulher que organiza agenda e cabeça do ator. “Sem ela, eu não conseguiria fazer

nada”.

 

Atualmente, Aramis pode ser visto na comédia-classista É Fada, da youtuber Kéfera, no papel de um motorista da fada que tenta enquadrar uma menina gordinha nos padrões na sociedade de consumo. O que, de novo, só prova sua versatilidade: um de seus últimos filmes foi o quase marginal Elvis e Madonna, de Marcelo Lafite. No filme, Aramis faz o dono de uma pizzaria de Copacabana na qual uma lésbica interpretada por Simone Spoladore atua como moto-girl. Ao entregar uma pizza na casa de uma travesti vivida por Igor Cotrim, eles se apaixonam.

 

O outro filme em que Aramis desfila pelas telas nacionais atualmente é Um Homem Só, uma comédia perversa de Cláudia Jouvin. Na trama, Arnaldo (Vladimir Brichta) é um homem infeliz. Para resolver os problemas, procura uma clínica de clonagens de pessoas. “Eu faço um matador contratado pela clínica. Porque só pode sobreviver o original ou o clone, é meio que a lógica perversa da clínica”, ele diz.

Uma das estreias mais aguardadas por Aramis, prevista para novembro, é a cinebiografia de Elis Regina filmada por Hugo Prata com produção de Fabio Zavala, da Bravura Cinematográfica, uma narrativa sobre a chegada da cantora ao Rio de Janeiro com 19 anos até sua morte precoce por overdose. “É apenas uma participação, mas muito intensa. Faço o general que obriga Elis a cantar nas Olimpíadas do Exército, o sujeito que ameaça sequestrar o filho dela caso ela não topasse”, comenta.

Aramis ainda aguarda a estreia de um filme francês, Going to Brazil, de Patrick Mellet, uma tragicomédia sobre como uma morte vira comédia. “Faço um advogado chamado Claudio Filtipaldi, amigo de Dilma Rousself, que consegue um pós-morten para que o morto possa se casar”. Uma espera, aliás, vivida trabalhando. Atualmente, Aramis está no set de um filme do veterano Paulo Thiago sobre a Orquestra dos Meninos de São Caetano.

“Paulo Thiago ficou muito emociando quando lembrou que eu, há muitos anos atrás, entrei pela primeira no set de filmagens no filme que ele fez sobre a Batalha dos Guararapes”

 

E ele ainda quer mais. Mais precisamente, filmar em casa, onde, há vinte anos, ganhou seu Candango com o Baile Perfumado. “Pra voltar a fazer cinema pernambucano, só falta uma coisa: o convite”. Aramis, afinal, não é de negar trabalho. Seu currículo não nega.

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