BIOGRAFIA

Rami Malek tem performance dedicada em Bohemian Rhapsody

No papel de Freddie Mercury, o ator de ascendência egípcia entrega-se completamente na tarefa de reviver o ídolo

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 31/10/2018 às 12:51
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No papel de Freddie Mercury, o ator de ascendência egípcia entrega-se completamente na tarefa de reviver o ídolo - FOTO: Fox Filmes
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Mais do que um drama biográfico, e ainda mais longe de um documentário, o filme Bohemian Rhapsody é bandeira desfraldada em homenagem a um dos grupos mais populares da história do rock. Fundado em 1970, o Queen manteve íntegra a sua formação original até 1991, ano em que o vocalista e pianista Freddy Mercury morreria, aos 45 anos, como uma das muitas vidas que a Aids ceifou, desde sua primeira manifestação clínica, registrada nos Estados Unidos uma década antes. Os demais componentes foram o guitarrista Brian May, o baixista John Deacon e o baterista Roger Taylor, todos retratados no filme com sobrenatural fidedignidade física.

As cenas que abrem e fecham o filme são as da apresentação do quarteto no Live Aid, concerto beneficente de rock, organizado por Bob Geldof e Midge Ure como forma de arrecadar fundos para aplacar a fome que, então, dizimava a população etíope. É um momento simbólico para a banda. Àquela altura, com 15 anos de estrada, o Queen já havia alcançado o auge uma década antes, em 1975, com o lançamento de A Night at the Opera, álbum que continha a canção Bohemian Rhapsody, que dá título à produção de 2h15 de duração nas telas.

O retorno do Queen a uma turnê de proporções épicas, com visibilidade até então inédita proporcionada pelas transmissões televisivas, se dava no momento exato em que desavenças haviam separado temporariamente os integrantes. Ou melhor: Freddie havia se distanciado do time, seduzido por uma proposta milionária de carreira solo, estimulado por um ego agigantado em sua qualidade indiscutível de gênio.

Em 1980, o lançamento de The Game entrou para a história como sendo o primeiro álbum em que o Queen usava sintetizadores em uma gravação – em todos os outros discos, a frase “sem uso de sintetizadores” era orgulhosamente estampada nas capas, como se dissessem: “na nossa cozinha não usamos temperos artificiais”. As críticas vieram, é claro, mas a consagração veio em maior número, com sucessos emplacados: das dez faixas, seguramente seis estouraram – Play the Game, Dragon Attack, Another One Bites The Dust, Need Your Loving Tonight, Crazy Little Thing Called Love e Save me. Mesmo assim, é um inseguro Brian May que, em cena do filme, questiona aos companheiros a presença deles no Live Aid: “Vão querer saber o que é que esses dinossauros estão fazendo aqui. Vão ficar perguntando: onde está Madonna, onde está Madonna”, diz um apreensivo May, temendo que o tempo do Queen já estivesse esgotado.

Não foi o que aconteceu. O show do Queen no Live Aid pode ser considerado canto do cisne do grupo, mesmo que depois ele ainda tenha produzido alguns hits, a exemplo de A Kind of Magic e Who Wants to Live Forever (A Kind of Magic, 1986).
Bohemian Rhapsody foi a canção escolhida para abrir a curta apresentação no Live Aid, de pronto ovacionada pela multidão de 82 mil pessoas, seguida por Radio Gaga (The Works, 1984), We Will Rock You e We Are The Champions (News of the World, 1977, que transformaram a massa presente numa enorme onda interativa. “O Melhor Show ao Vivo” já realizado, era o que dizia uma enquete da época.

PRIMÓRDIOS

Do ponto de vista formal, Bohemian Rhapsody é, por assim dizer, uma biografia autorizada. Afinal, dois integrantes do Queen – hoje na faixa dos 70 anos de idade – acompanharam a realização de dentro do estúdio e nas locações (Brian May e Roger Taylor foram produtores, assim como Jim Beach, empresário da banda a partir de meados dos anos 70). A reconstrução da trajetória de Freddie Mercury – com pinceladas rápidas sobre a vida privada do artista – levou o filme a ser “acusado” de tentar apagar sua homossexualidade.

As informações sobre a vida de Mercury, movida a drogas, bebidas e vários encontros sexuais – como, aliás, fazia parte do espírito da época –, estão lá, mas elas cedem espaço para que a configuração da sua verve musical possa alcançar a real dimensão que teve, especialmente junto às plateias mais novas, que não a testemunharam. Por isso, as cenas de tensão giram mais em torno do relacionamento entre os integrantes do grupo e a construção de seu acervo autoral.
Para viver o personagem foi contratado o ator Rami Malek, de ascendência egípcia, a quem naturalmente coube o maior desafio: não só incorporar o aspecto físico apropriado para a função, quanto emular a atuação de um dos maiores performers que o mundo já conheceu. Ao seu lado, não menos competentemente, estão Ben Hardy, como o baterista Roger Taylor; Gwilym Lee, como o guitarrista Brian May, e Joseph Mazzello, como o baixista John Deacon. A direção ficou dividida Bryan Singer e Dexter Fletcher – um começou e o outro terminou.

Bohemian Rhapsody, o filme, segue uma linha reta e convencional em sua narrativa, começando com a juventude dos rapazes em Londres. Freddie, trabalhando no setor de cargas do aeroporto Heathrow, um rapaz nascido em Zanzibar, de origem pársi, frequentemente chamado de “paki” pelos colegas de trabalho – uma forma derrogatória de denominarem os paquistaneses na Inglaterra. Brian May e Roger Taylor, alunos de prestigiosa faculdade inglesa, onde cursavam, respectivamente, astrofísica e odontologia. E Deacon, que entrou depois na banda, engenheiro eletricista de formação. A história os acompanha rumo ao estrelato. Uma banda que como poucas traduziu o espírito de uma época.

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