Verdades nada secretas sobre o fim de 'O Outro Lado do Paraíso'

Trama de Walcyr Carrasco sai de cena como um sucesso de audiência, mas não como uma grande trama

Foto: TV Globo/Reprodução
Trama de Walcyr Carrasco sai de cena como um sucesso de audiência, mas não como uma grande trama - FOTO: Foto: TV Globo/Reprodução

A novela O Outro Lado do Paraíso terminou nesta sexta-feira (11) com um capítulo bonito e questionável. Tão questionável quanto os outros 172 episódios que compõem o seu todo. A segunda "aventura" de Walcyr Carrasco no horário das nove da Globo (a primeira foi a duvidosa Amor à Vida [2013]) nos leva a uma "verdade nada secreta" sobre o autor: Ele não é tão eficiente em criar uma história consistente para esta faixa.

Claro, justiça seja feita. O folhetim teve boas atuações, cenas que entraram para o rol de sequências marcantes da teledramaturgia (vide #ClaraDoRetorno) e recordes de audiência até o último instante. Mas as incoerências, furos, algumas situações gratuitas e desnecessárias apagam o brilho de alguém que criou algo tão impactante e bem feito como Verdades Secretas (só citando o seu trabalho contemporâneo mais recente).

Nas entrevistas que Carrasco deu nesta última semana, ele fez questão de dizer que se orgulha de não ter feito uma trama "realista". Ora, se O Outro Lado do Paraíso não era para ter esse rótulo, que ele preparasse o público para tal. Porque um folhetim que bateu tão forte em questões atuais como violência doméstica, racismo, corrupção e pedofilia, de repente, criar situações inverossímeis (como o "trauma" de Diego [Arthur Aguiar]) e/ou caricatas (o núcleo de Samuel, Adinéia e Cido) sem pé nem cabeça para justificar um "descompromisso" com a realidade não faz tanto sentido.

Desperdício também foi outra palavra que pesou contra a novela. Ver grandes atores como Lima Duarte e Zezé Motta com papeis tão pequenos, Fernanda Montenegro - que mesmo dando um show como a rezadeira Mercedes - fazendo um papel quase mambembe, e Grazi Massafera, que viu sua Lívia quase sumir da trama, mostrou que o sol do Jalapão não brilhava para todo mundo.

Mas também é preciso louvar o trabalho de Bianca Bin, Marieta Severo e Laura Cardoso: uma tríade que fez diferença na trama. Enquanto a mais nova provou que merecia o papel de protagonista, Marieta impressionou novamente com sua vilã caricata (até mesmo com boca torta!). E a veterana de 90 anos, que pediu para não o autor "não matá-la" nos primeiros capítulos, mostrou que tinha fôlego para entregar mais uma personagem inesquecível, mesmo que pra isso fosse necessário dançar K.O. da Pabllo Vittar em seu "velório", numa das cenas mais surreais de toda a trama.

BALANÇO FINAL

A conclusão que fica de O Outro Lado do Paraíso é que é necessário parafrasear Lulu Santos: "não vou dizer que foi ruim, também não foi tão bom assim". Um autor do nível de Walcyr Carrasco, que já entregou tantas novelas marcantes, vai sempre merecer um espaço no horário nobre, desde que ele honre a sua própria carreira com uma novela mais coerente e menos mirabolante. A não ser que essa seja a proposta desde o seu início. O que não era para acontecer desta vez.

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