RESENHA

Paulo Coelho aborda temática da traição em novo livro

Adultério, novo romance do campeão de vendas, surgiu através de pesquisa dos que os fãs gostariam de ler

Diogo Guedes
Cadastrado por
Diogo Guedes
Publicado em 13/04/2014 às 4:53
Foto: Xavier Gonzalez/Divulgação
Adultério, novo romance do campeão de vendas, surgiu através de pesquisa dos que os fãs gostariam de ler - FOTO: Foto: Xavier Gonzalez/Divulgação
Leitura:

Algo que revela muito sobre o novo romance de Paulo Coelho, Adultério (Sextante, 240 páginas), é a forma como ele surgiu. O escritor fez um pedido simples a seus 28 milhões de seguidores nas redes sociais: queria saber das suas histórias sobre o tema da depressão. Na enxurrada de contribuições, notou que a maioria dos relatos sobre essas crises era, na verdade, relacionados a traição, o verdadeiro termo que unia a tristeza de tantos leitores. A partir daí, decidiu investigar – como anônimo, em fóruns de internet – pessoas que sofreram com o problema.

Por bem ou por mal, então, Adultério já nasceu com uma garantia: falaria de um tema que não só interessa ao público, mas que é vivido por ele. Na publicidade e no marketing, é quase impossível falar para uma grande quantidade de pessoas hoje sem estar munido de uma pesquisa prévia de opinião.

Não é por acaso que os discursos políticos, por exemplo, costumam mudar pouco entre os candidatos: ali não se trata de uma questão de novidades, mas de funcionamento, de eficiência. Paulo Coelho trilha um caminho parecido, sem ousadias, com os recursos de uma fórmula que encontra, com facilidade, os seus leitores-alvo. Ao prezar por esses dados quantitativos, a tendência é que deixe de lado o investimento em qualidade. Surge uma literatura, em alguma medida, pré-fabricada para o gosto do seu público, feita por um autor que já tem sua própria fórmula de atingi-los.

Em Adultério, a história é narrada através da jornalista suíça Linda (Paulo mora hoje na terra dela), de 31 anos. A ideia de uma “vida perfeita” – dois filhos, emprego estável e marido bem-sucedido – em aparência é reiterada várias vezes ao longo do livro, mas, ainda assim, ela é uma mulher frustrada. O começo da obra traz o momento da descoberta da sua infelicidade, em meio a um entrevista que Linda faz com um escritor (nunca nomeado, apesar de mudar a vida da mulher). Ele diz que não tem “o menor interesse em ser feliz”. Assim, assolada pelo desânimo e pelo tédio, a repórter se vê atraída por um antigo namorado da infância, hoje ocupando um cargo político.

Como o título sugere, o flerte logo se consuma. Paulo Coelho dá à traição a roupagem de uma fuga dos problemas, um mecanismo eficiente e temporário para escapar da mesmice. Aqui, dentro de uma personagem feminina, ele aproveita para se arriscar em um dos territórios dos livros que teve mais sucesso nos últimos anos: o das obras eróticas, na esteira de títulos como 50 tons de cinza, de E. L. James. A receita é quase a mesma da maioria desses best-sellers, em que as princesas são substituídas por moças perdidas, e os príncipes encantados, por homens poderosos que as fazem conhecer “prazeres nunca antes imaginados”.

Em determinado momento do livro, Linda comenta que “quem diz que ‘o amor é suficiente’ está mentindo”. De fato, o Paulo Coelho não defende o clichê da vitória do amor ante tudo, mas cai num convencionalismo tão entediante que ilustra o estado da personagem principal no início do romance. Ela mesmo diz, em dado momento, que o “grande problema é que as pessoas acreditam nos livros e nos filmes”. Adultério é um desses “livros e filmes” que podem ser citados assim, genericamente, porque não tem singularidades relevantes.

Confira o primeiro capítulo do livro:

Leia mais no Jornal do Commercio deste domingo (13/4)

Últimas notícias