RESENHA

Arnaldo Antunes joga com a palavra em novo livro

Agora Aqui Ninguém Precisa de Si, livro de versos do músico e poeta, foi a segunda obra mais vendida na Flip

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 07/07/2015 às 5:52
Flip/Divulgação
Agora Aqui Ninguém Precisa de Si, livro de versos do músico e poeta, foi a segunda obra mais vendida na Flip - FOTO: Flip/Divulgação
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Ao ler o livro Agora Aqui Ninguém Precisa de Si (Companhia das Letras), do músico e poeta Arnaldo Antunes, a impressão é a de ver na nossa frente um desafio às palavras. Jogar com sons ou, possibilidades imagéticas, forçar simetrias e comparações e até desconstruir os sentidos são alguns dos procedimentos dele na obra, lançada  na Flip, quando foi o segundo livro mais vendido da festa. De certa forma, o poeta trabalha através de dois gestos: o de fragmentar a aparente perfeição das palavras e o de criar um sentido outro para os fragmentos.

Como no restante da sua poesia, a herança do concretismo é pesada para Arnaldo. Quem não está disposto a ver a página como um espaço de experimentos singulares, que muitas vezes se esgotam em si mesmos, vai estranhar ou se cansar com boa parte do livro – até porque, na obra e na trajetória do autor, esses métodos são comuns e quase repetitivos. No entanto, ele não está preso a isso: encontra lugar para também criar poemas irônicos; em um afirma “Antigamente as guerras acabavam. O fim da guerra comemorado com grande entusiasmo. Agora elas apenas continuam.”

A visualidade aparece no livro para além da disposição de palavras e sílabas, da mudanças de fontes, dos quase desenhos que se fazem presente. Aqui, Arnaldo insere também fotografias (e o discurso verbal das cidades através delas), como se brincasse que, se o texto pode se aproximar da imagem, o inverso, numa espécie de vingança, também é necessário.

No começo de um poema, ele reconstrói Drummond: “eu tenho uma coleção de esquecimentos/ e apenas duas mão pra ver o mundo”. Entre o experimentalismo e os versos de humor e crítica instantânea, Arnaldo faz de Agora Aqui Ninguém Precisa de Si um pouco do testemunho de sua visão quebradiça de mundo, como um “Sísifo/ dissidente/ do círculo/ eternamente/ incompleto”.

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