HONRARIA

Em discurso do Nobel, Bob Dylan exalta Buddy Holly, Homero e Melville

Depois de muito mistério, o músico entregou um discurso em que fala da relação entre as suas letras e a literatura

Da redação com informações da AFP
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Da redação com informações da AFP
Publicado em 06/06/2017 às 7:18
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Depois de muito mistério, o músico entregou um discurso em que fala da relação entre as suas letras e a literatura - FOTO: Divulgação
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Bob Dylan entregou à Academia Sueca o seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura e poderá receber o cheque de oito milhões de coroas suecas (US$ 923 mil), informou ontem a instituição.

“O discurso é extraordinário e, como esperado, eloquente. Agora que o discurso foi entregue, a aventura de Dylan está chegando ao fim”, escreveu em um blog Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca que a cada ano concede esta premiação de prestígio.

No discurso, lido pelo próprio Dylan em um arquivo de áudio disponível no site da academia, o músico fala da relação entre as suas letras e a literatura.

Também cita músicos que o inspiraram, como Buddy Holly, cuja música “mudou a minha vida”. “Ele morreu quando eu tinha 18 e ele tinha 22. (...) Eu até achava que me parecia com ele. Buddy tocava a música que eu amava – a música com que cresci: country western, rock’n’roll e rhythm’n’blues. Três vertentes separadas da música que ele entrelaçou e fundiu em um gênero. Uma marca. E Buddy escreveu músicas – músicas que tinham belas melodias e versos imaginativos. E ele cantava grandiosamente – cantava com mais do que algumas vozes. Ele era o arquétipo. Tudo que eu não era e queria ser”, revela Dylan no início do discurso.

Além disso, Dylan se debruça sobre os livros que lhe impactaram. “Quando eu comecei a escrever a minhas próprias músicas, a linguagem do folk era o único vocabulário que eu conhecia, e eu a usei. Mas eu tinha algo mais também. Eu tinha diretrizes, sensibilidades e uma visão informada do mundo. E eu tinha isso já há um tempo. Aprendi tudo isso na escola. Dom Quixote, Ivanhoé, Robinson Crusoé, As Viagens de Gulliver, Um Conto de Duas Cidades, todo o resto – as leituras típicas das aulas de gramática da escola que deram a você uma forma de olhar para a vida, um entendimento da natureza humana e um padrão para medir as coisas”, conta o músico.

LITERATURA

“Eu levei tudo isso comigo quando comecei a compor letras. E os temas desses livros entraram em várias das minhas canções, tanto conscientemente como não intencionalmente. Eu queria escrever músicas diferentes de tudo que qualquer já tivesse ouvido, e esses temas eram fundamentais”, continua Dylan no discurso, antes de ressaltar o papel especial de três obras: Moby Dick, Nada de Novo no Front e A Odisseia.

A obra-prima de Herman Melville, Moby Dick, é para ele um “livro fascinante recheado de cenas com grandes dramas e diálogos dramáticos”. “É um livro que demanda de você. (...) E o livro conta como homens diferentes reagem de formas diferentes a uma mesma experiência”, explica. Já Nada de Novo no Front, do alemão Erich Maria Remarque, é para Dylan uma “história de terror”. “É um livro em que você perde sua infância, sua fé em um mundo com sentido e sua preocupação com os indivíduos. Você está preso em um pesadelo. Sugado para dentro de um redemoinho misterioso de morte e dor”, define.

Por fim, Dylan fala sobre A Odisseia, de Homero, o clássico absoluto que conta a história do retorno, repleto de desventuras, de Ulisses para sua casa. “De várias formas, algumas dessas mesas coisas aconteceram com você. Você também teve drogas mergulhadas em seu vinho. Você também dividiu a cama com a mulher errada. Você também foi encantado por vozes mágicas, vozes doces com melodias estranhas. Você também foi muito longe e também foi soprado de volta para onde estava. E você também teve decisões difíceis. Você enfureceu pessoas que não devia. E você também divagou por esse país todo. E você também sentiu esse vento doente que não sopra nada de bom para você. E isso tudo ainda não é tudo de A Odisseia”, ressalta Dylan. Não é por acaso que muito viram em Dylan um trovador contemporâneo, um poeta que canto o mundo e seus homens e mulheres – ele mesmo termina citando Homero e sua invocação para que as musas cantem, e contem através dele a história que desejam.

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