RECIFE

Biblioteca Popular do Coque completa 10 anos e pede ajuda para se manter

Local é mantido com amor e dedicação por Rafael e Maria Betânia Andrade, mãe e filho

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 24/12/2017 às 10:34
LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM
Local é mantido com amor e dedicação por Rafael e Maria Betânia Andrade, mãe e filho - FOTO: LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM
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Quando decidiram montar uma biblioteca, em 2007, Maria Betânia e Rafael Andrade não imaginavam o quanto ela iria crescer nem as dificuldades que iriam enfrentar. Não é fácil atender às demandas de uma comunidade tão grande como a do Coque, mas no balanço emocional dos coordenadores da Biblioteca Popular - mãe e filho -, a alegria e satisfação em ver tantos leitores se formando falam mais alto que os sacrifícios que enfrentam a cada dia. O local, um oásis para muitas crianças e adolescentes, completou uma década este ano mas corre agora o riso de fechar as portas.

A proprietária da casa que os dois alugam há 10 dez está pedindo o imóvel de volta para colocá-lo à venda. Acontece que Rafael e sua mãe não têm os R$ 50 mil necessário para comprar o lar dos mais de 2 mil livros (entre literatura infantil e adulta) e, por isso, lançaram há cerca de quatro meses uma vaquinha online (vakinha.com.br/vaquinha/ajude-a-biblioteca-popular-do-coque).
Infelizmente, até agora só foram arrecadados R$ 750,00, e restam apenas três meses para o encerramento da campanha.

“As famílias das crianças estão bastante preocupadas com o possível encerramento da biblioteca, mas não têm como ajudar muito. Aqui é um lugar seguro para elas, funcionamos o dia todo, de segunda a sexta e às vezes até sábado e domingo. Em época de férias, passam por aqui mais de 20 crianças por dia”, explica Rafael que, aos 27 anos,está finalizando Letras na UFRPE.

A vontade de cursar a licenciatura veio após os anos de aprendizado na biblioteca, assim como aconteceu com Maria Betânia, que se formou em pedagogia recentemente. E a experiência acadêmica de ambos reflete no dia a dia do trabalho tanto quanto a vivência do bairro agregou aos cursos universitários. Maria nasceu em Caruaru mas se mudou com a família para o Recife no início da década de 1970.

“Quando cheguei aqui no Coque não tinha energia elétrica, não tinha nada, as casa eram palafitas antigamente. Eu cresci aqui e vi que o bairro precisava de um lugar como a biblioteca, tinha o sonho dele se transformar num bairro de leitores”, lembra. Foi nesse mesmo bairro que nasceram e cresceram seus filhos e onde moram até hoje, há poucas ruas da biblioteca.  Quando Rafael fala do trabalho que ele e a mãe vem desenvolvendo, é muito claro o caráter de perseverança e entrega.

“Também sou delegado no Plano de Cultura de Pernambuco e minha mãe participa da escrita do Plano Estadual do Livro, Leitura e Literatura estadual. Estamos sempre ocupando esses espaços para podermos ter nossa voz. Então estamos sempre ligados em editais e nos movimentos sociais, precisamos ter representatividade”, desabafa. Segundo Maria Betânia, a ajuda financeira e os editais do Governo Federal diminuíram consideravelmente nos últimos dois anos. O corte nos orçamentos culturais é progressivo e, como forma de se manter tanto atualizada como na linha de frente, a Biblioteca Popular do Coque integra a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias e da Releitura.

A BIBLIOTECA

Três ambientes, grandes almofadas dispostas nos colchonetes arrumados no chão da sala principal, inúmeras prateleira repletas de histórias e algumas mesas. No último quarto, a garrafa térmica de café divide o espaço com o pote de biscoitos e as decorações coloridas tornam o local ainda mais aconchegante. A casa que mãe e filho pensaram e reformaram revela carinho e acolhimento.

O trabalho de Maria Betânia e Rafael vai além do incentivo à leitura entre as crianças do bairro, pois muitos dos pequenos acabam levando os novos hábitos literários para suas casas, instigando os pais. Nos fins de semana, a Biblioteca Popular do Coque é também palco de debates sobre políticas públicas e formações. Ao fazer uma visita a Maria e Rafael, fica claro que a beleza da literatura está muito além da escrita ou do ato solitário de ler. Literatura é também resistência.

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