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Morrissey faz show hoje no Rio de Janeiro

Capital carioca está entre as três cidades brasileiras que recebem o ex-vocalista do The Smiths

Renato Contente
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Renato Contente
Publicado em 09/03/2012 às 5:23
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“Se um ônibus de dois andares colidisse contra a gente, morrer ao teu lado seria um jeito divino de morrer”. O trecho emblemático (e dramático, na mesma proporção) é da canção There is a light that never goes out, dos ingleses The Smiths, que embalaram toda uma geração de jovens corações partidos nos anos 1980, com letras sofisticadas sobre um dos temas mais universais e recorrentes na indústria fonográfica: a fossa amorosa. 

O grupo teve vida curta, de 1982 a 1987, mas os quatro álbuns lançados completaram um ciclo criativo que mantém forte ressonância até os dias de hoje. Principal representante dos Smiths, o ex-vocalista Morrissey, que desde o fim da banda se dedica a carreira solo, faz hoje um show para os fãs brasileiros na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, sendo a segunda apresentação no País na atual turnê pela América Latina.

Depois de shows no Chile e na Argentina, o ex-Smiths se apresentou em Belo Horizonte, na quarta-feira, e vai encerrar a turnê verde e amarela em São Paulo, no próximo domingo, antes de seguir para o Peru e Colômbia. Em solo brasileiro, uma exigência: locomover-se apenas de ônibus. A escolha ilustra a veia ambientalista do artista que, desde os tempos na lendária banda oitentista, promove em seu discurso práticas sustentáveis para o meio ambiente, entre elas o vegetarianismo, do qual é adepto desde os 11 anos.

Depois de um hiato de 12 anos, e com ingressos esgotados para as apresentações de hoje e domingo, Morrissey volta ao País para apresentar um repertório que mescla canções da carreira solo e, para deleite dos fãs da banda, uma boa dose das composições do período no The Smiths. Em cada um dos sete shows que realizou no Cone Sul até então, o cantor manteve um roteiro de músicas mais ou menos fixo, adicionando a cada espetáculo uma surpresa diferente. Se repetir o que fez até agora, estão garantidas First of the gang to die, Everyday is like Sunday e I’m throwing my arms around Paris, além das “smithianas” There is a light that never goes out, I know it’s over e How soon is now?. Os fãs ainda poderão ser surpreendidos, caso seja a vontade do artista, com as clássicas Please, please, please let me get what I want e Still ill. Agora só resta esperar.

Melancolia
Renato Russo, ex-vocalista da Legião Urbana, afirmava nos shows de sua banda que “o mal do século é a solidão”. Não é nenhuma novidade a influência que a música e a imagem de Morrissey tinham sobre o carioca, que incorporava em suas performances os movimentos enérgicos e viscerais do inglês. O “trovador solitário” dialogava como poucos artistas nacionais com o pós-punk que dava as caras na transição dos anos 1970 e 1980, movimentação esta que inclui, além do The Smiths, Joy Division, Bauhaus e The Cure. Com uma melancolia pungente e dançante, a música foi tiro certeiro na geração jovem do período, situada numa espécie de ressaca depois dos ofuscantes anos setentistas.

Versos como “para as profundezas do oceano, onde todas as esperanças afundam procurando por você” (Shadowplay, do Joy Division) e “abri meus olhos e estava sozinho, acima de um mar revolto que roubou a única garota que amei, e a afogou dentro de mim” (Just like heaven, The Cure) sinalizam um romantismo ingênuo e desesperado, encontrados com frequência nas letras de Morrissey. 

Em I know it’s over, ele retrata um diálogo áspero entre mãe e filho, em que diz que “o amor é natural, mas não para mim e você, meu amor”. I’m throwing my arms around Paris, de 2009, comprova que o tema permaneceu vigoroso também em sua carreira solo, como é atestado no trecho “na ausência do seu amor, e na ausência de toque humano, eu decidi lançar meus braços sob Paris”.

Se engana quem pensa que isso é datado e encerrado nos anos 1980. De Lady Gaga, com seu Bad romance, a Lana Del Rey, com a sentença fatalista de Born to die, passando pela carreira solo do próprio Morrissey, é evidente que a nuvem negra dos desafetos não tem previsão para se dissipar, e, até segunda ordem, o mal do século continua a ser a solidão, esse orgânico manancial que alimenta a cultura contemporânea.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta sexta (9), no Caderno C.

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