São João

No Recife, coco é o ritmo musical para celebrar Xangô

No sincretismo afro-brasileiro, o orixá do fogo está relacionado ao São João Batista

Do JC Online
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Publicado em 25/06/2015 às 6:04
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No sincretismo afro-brasileiro, o orixá do fogo está relacionado ao São João Batista - FOTO: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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“A festa é democrática, pode vir todo mundo”, garante a chef iabassé Dona Carmen Virgínia, dona do restaurante Altar Cozinha Ancestral, em Santo Amaro, no Recife. Hoje à noite, a partir das 19h, ela e seus convidados comandam um arraial especial, em ritmo de coco, para celebrar Xangô, orixá patrono do mês de junho, na mitologia do candomblé, e no sincretismo católico relacionado a São João Batista. O evento é aberto ao público, e acontece em frente ao estabelecimento.

“Quando a gente quis ser um restaurante, pensamos como agregar ao espaço a cultura do terreiro. Tenho a sensação de que a cultura popular não tem muito espaço. O Altar é a extensão do terreiro Ilê Axé Ogdon Obá”, explica Dona Carmen. 

Embora criado em maio de 2014, esse é o primeiro São João do Altar. No ano passado, por causa da Copa do Mundo, Dona Carmen preferiu não abrir o estabelecimento durante os jogos. A festa será animada pela música do Coco de Juremá, do babalorixá Pai Everaldo (que vai cantar pontos de jurema), e o grupo Doce de Coco, do músico Lucas dos Prazeres. O DJ Ander Oliveira completa a festa com discotecagem de forrós antigos e música popular brasileira. 

Além das apresentações musicais, haverá também quatro quermesses nas quais serão vendidas releituras de comidas típicas juninas. O cardápio é assinado por quatro chefs: Carol Medeiros, Paula Bandeira, Luciana Nunes e a própria Carmen. Ao final da festa, haverá uma celebração ao orixá Xangô, cultuado nos terreiros de matriz africana neste mês. “A fogueira é símbolo de Xangô, orixá do fogo, primeiro fogo do universo. O homem que descobriu o fogo é Xangô”, diz Carmen.

TERREIROS

O coco é tradição dos povos de raiz afro e indígena no Brasil, e está ligado a Xangô e à divindade Malunguinho. Uma das festa mais tradicionais de Pernambuco neste mês, por exemplo, acontece há 50 anos na comunidade Xambá, em Olinda. Este ano, o evento foi cancelado devido ao luto que a comunidade vive com a morte da ialorixá Mãe Zeza (O trreiro de Xambá fica fechado para qualquer celebração durante três meses, até agosto).

O Coco de Mãe Biu, que começou como celebração ao aniversário da matriarca falecida em 1993, reúne dezenas de pessoas no terreiro a cada ano. “O coco na Xambá ao longo do tempo assumiu várias características e sentido de existir. Primeiro era o sentimento de brincadeira festiva, embora estivesse ligado a ele elementos religiosos. Com a repressão ao culto afro na década de 1940, o coco era usado para camuflar os trabalhos de Mãe Biu dentro do terreiro (a música era feita do lado de fora). Aí o coco assume um caráter de resistência”, lembra Guitinho da Xambá, vocalista do Grupo Bongar, que se apresenta no próximo sábado, às 21h, no Pátio de São Pedro.

Com a abertura dos terreiros em 1950, o coco passa a ser símbolos de resistência e festa. Hoje é também sinônimo de continuação de uma cultura de gerações. Mesmo com a morte de Mãe Biu, a criação do Bongar, em 2001, fortaleceu a tradição e a festa no terreiro da Xambá. 

“Nesses últimos anos a tradição vem crescendo de uma forma incrível; vêm nascendo sambadas em vários ambientes – praças públicas ou terreiros, ambientes que tornam suas casas para essas sambadas e com um cunho religioso muito forte, e tem atraído muito a identificação da juventude”, completa o músico.

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