FIG 2017

Marina: "As questões que me angustiavam deixaram de ser tão pessoais"

Musa do pop sedutora e sessentona, a cantora fala sobre sua volta ao eletrônico, as misérias brasileiras e seu show em Garanhuns

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 28/07/2017 às 23:28
Paulo Mancini - Divulgacao
Musa do pop sedutora e sessentona, a cantora fala sobre sua volta ao eletrônico, as misérias brasileiras e seu show em Garanhuns - FOTO: Paulo Mancini - Divulgacao
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Marina Lima, 61 anos, a voz por onde o pop brasuca se estruturou ainda em sua puberdade, vai se reinventando para seguir sendo a mesma. Inquietamente estável, ela volta, depois de uma fase crua, ao abrigo da eletrônica.  “Venho de um disco de voz e violão, ‘No Osso’. E confesso estar louca de saudades das programações, levadas, timbres, dessa loucura que me faz querer dançar” diz Marina, sobre o show Três, a parceria com a banda paraense Strobo que ela apresenta, sábado, em Garanhuns. “O Strobo me desperta isso. Por isso, esse encontro, nossa parceria e agora esse show”, diz ela, numa entrevista ao repórter Bruno Albertim em que adianta: a política brasileira e o caos geral das coisas lhe têm servido de material criativo para o próximo disco, já em elaboração.

JORNAL DO COMMERCIO - Algumas de suas canções, como Vingativa, essa tua parceria com a Strobo, têm grandes pulsações sexuais. Sexo ainda é uma grande força inspiradora? O que, aliás, Marina, tem te motivado a compor?

MARINA LIMA - Vingativa é uma canção do Strobo, que eles me convidaram para colocar a letra. Queriam que eu falasse de uma mulher vingativa, mas fiz diferente. Pensei numa mulher que debocha do homem. O que me motiva a compor é a vida. Sou uma artista que retrata o meu tempo. Meu próximo álbum, por exemplo, fala sobre a minha visão do mundo hoje em dia, questões políticas tanto no Brasil quanto no resto do mundo e o que acho que tem que mudar. Sou uma pessoa perseverante, que gosta da vida e que quer que tudo dê certo. É sob essa perspectiva que falo das coisas.

JC –   Num  show de São Paulo, você fez um trocadilho político na letra de Pra Começar...  “Se o Cunha caiu, que o Temer caia...”. Acha importante ver os artistas do Brasil se manifestando de novo politicamente?  Espera sinceramente pela destituição do Temer?

MARINA - O Brasil está efervescendo. Muitas questões estão sendo passadas a limpo: política, drogas, discriminação, empoderamento  da mulher... É o momento certo de se posicionar e procurar ajudar. O meu próximo disco mostra a minha visão sobre esse momento político atual. Mas não acho que artistas têm a obrigação de falar sobre política ou
se posicionar. Cada um que sabe de seu trabalho e interesses.


JC -   Por que oferecer, de novo, abrigo eletrônico para teu cancioneiro depois da fase tão crua de No Osso?

MARINA - No Osso foi um retorno importante à minha essência, ao meu primeiro instrumento, o violão. Mas é quase um ponto fora da curva. O que me atrai nos últimos anos é a música eletrônica. “Três” é um show possante, e a união com o Strobo deu nisso. É atual, vibrante, onde as canções mais antigas, como Pra Começar, À Francesa, Fullgás não têm sabor de saudosismo. Elas caem bem com a safra mais atual.

JC -  Você conheceu a Strobo, quando eles fizeram o Remix de Partiu, de No Osso....O que te animou a transformar esse encontro no affair musical que deságua nesse novo show?

MARINA -  Em 2015, fui num show deles e adorei.  Eles têm uma sonoridade contemporânea, quase europeia, mas com uma pegada brasileira, com as guitarradas do Pará. Nos aproximamos,  e a criação desse show foi um caminho natural.

JC - Há projetos de discos novos?

MARINA - Sim, sairá no ano que vem, depois do Carnaval. Um álbum novo.

JC -  O show-quase-recital Cícero e Marina ainda existe? Como anda sua relação criativa com seu irmão?

MARINA - A apresentação mais recente foi no mês passado, em Porto  Alegre. Eu e Cícero temos trabalhado juntos em algumas canções do meu próximo álbum. O show recital existe sim, virou um espetáculo bem bonito e nos emociona fazer. Porto Alegre foi incrível.

ENVELHECER


JC -   Marina, em seu último aniversário, você disse que estava adorando envelhecer, que até esperava com uma certa vontade por isso. Sobre sua relação com o tempo: como se vê agora, pessoal e musicalmente?


MARINA - Me vejo bem melhor do que antigamente. As questões que me angustiavam deixaram de ser tão pessoais… As pessoais, aos 60 anos você supera. O que me preocupa mais hoje em dia são as questões sociais, no Brasil e no mundo. A desigualdade terrível no Brasil, as perseguições às minorias, o fanatismo religioso… tudo isso é preocupante.

JC - Tenho visto aqui no festival de Garanhuns, Marina, gente da tua geração e garotas de 17 anos comentando estar ansiosas para ver seu show.... Há 30 anos, você talvez dissesse que seu público era formado pelas pessoas da sua geração que queriam dizer coisas que você dizia.... Você saberia dizer quem é, hoje, seu público?

MARINA - Meu público hoje é bastante variado. Tem pessoas bem novas até gente que me acompanha desde o começo. Sou uma mulher ligada no presente, no que acontece ao redor. Não vivo de passado. E isso aproxima bastante essa nova geração.

JC – Como vê o fim da chamada era das grandes gravadoras da qual você foi um grande símbolo? Que ganhos e perdas há nesse novo contexto?

MARINA - O momento é outro. Antes, as gravadoras bancavam tudo, os ensaios, os shows, os discos. Hoje, não tem mais isso. Por outro lado, a internet possibilitou que artistas independentes consigam divulgar o seu trabalho e tenham o seu público. O que precisa ser visto e refeito é uma remuneração justa para os compositores e músicos. Vivemos disso, e a música é a nossa fonte de renda. Para quem não faz shows, a situação é grave. Viver como, se não são remunerados?

JC - O que mais te estimula hoje: ler, escrever ou cantar?

MARINA - O que mais me estimula é compor. Ultimamente, tenho me dedicado inteiramente à gravação do meu próximo álbum. Sobre um novo livro, por enquanto, não. Mas em agosto estarei no Uruguai para participar de um filme, uma co-produção Brasil-Uruguai, dirigido por Esmir Filho.

 

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