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Hamilton de Holanda celebra Jacob do Bandolim a seu jeito

Músico lança primeiro de quatro discos com música mestre

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 08/05/2018 às 14:02
Foto: Dilvulgação
Músico lança primeiro de quatro discos com música mestre - FOTO: Foto: Dilvulgação
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O centenário de Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, foi muito menos lembrado do que ele fazia jus, pela sua estatura na música popular brasileira, em geral, e no chorinho, em especial. Uma das poucas homenagens relevantes vem do mais reverenciado bandolinista da atualidade, o carioca Hamilton de Holanda Vasconcelos Neto, filho de pais pernambucanos (de Vitória de Santo Antão), mas criado em Brasília. Hamilton de Holanda, que sempre está revisitando a obra de Jacob do Bandolim, lançou o primeiro dos quatro disco com os quais celebra o autor de Assanhado. Jacob 10zz (Deck) vem com edições em CD, vinil e nas plataformas digitais. “A ideia partiu de um repertório que eu já tocava. João Augusto, da Deck, sugeriu o projeto, e me disse que fizesse quantos discos quisesse. Achei que quatro ficaria um bom número. Equilibrei as características, o lírico, o disco com mais sambas, forró e frevos”.

Aparentemente enigmático, os dois “zz” do título são de jazz. O 10 vem dos número de cordas do bandolim que pertenceu a Jacob, deixado sob a guarda de Hamilton de Holanda pelos curadores do museu dedicado ao músico. O raro e precioso instrumento, que não era tocado desde a morte do seu dono, em 13 de dezembro de 1969, teve até cerimônia oficial de entrega. Aconteceu na Casa do Choro, no Centro do Rio, e foi o início das comemorações pelos cem anos de nascimento de Jacob do Bandolim. “A caixa será um painel da música de Jacob, mas cada disco com uma concepção diferente. Este que foi lançado tem um viés jazzístico, feito no formato de trio, com Guto Wirtti (contrabaixo acústico) e Thiago da Serrinha (percussão)”, explica Hamilton.

Ele procurou desviar-se do roteiro da ortodoxia. Nem todas faixas aqui são assinadas por Jacob. Naquela Mesa, por exemplo, é do seu filho, Sérgio Bittencourt, que a compôs logo em seguida à morte do pai, com quem tinha um relacionamento conflituoso. Naquela Mesa foi sucesso nacional, mais lembrada na voz tonitruante de Nelson Gonçalves. A interpretação do Hamilton de Holanda Trio aproxima o judeu Sergio
Bittencourt do cigano DeJong Reinhardt, uma faixas mais surpreendentes do álbum.
Outra faixa que também não é do homenageado é Serenata Jacarepaguá, que fecha o disco. É, por sua vez, uma alusão à casa em que ele morava, no bairro carioca, lendária pelos saraus que o dono promovia. Um deles é particularmente importante para a música pernambucana. Aconteceu em 1959, quando um grupo de chorões saiu do Recife, num Jeep, para encontrar Jacob do Bandolim, entre eles iam o violonista Canhoto da
Paraíba e o bandolinista Rossini Ferreira. O sarau que fizeram na casa de Jacob entrou para a história choro.

SELEÇÃO

Hamilton de Holanda diz que não teve tanto trabalho com o repertório porque ele vem tocando boa parte dos temas há tempos – mais exatamente 43 músicas de Jacob. Em 10zz estão composições que integram o cânone do choro, Remelexo, Alvorada, Assanhado e Mágoas, nas quais ele procura acrescentar, se não inovações, pelo menos sair do lugar comum, incluindo instrumentos que não fazem parte do instrumental tradicional ao gênero, como atabaque e contrabaixo, este bem enfatizado em Nostalgia.

Os outros discos seguem por caminhos próprios. O Jacob Baby, como adianta o título, é para crianças, tocado com o bandolim dez de cordas de Jacob que tem o timbre suave ideal para o que se propôs neste disco. “Os quatro discos estão praticamente prontos. Um deles será meio bossa nova e o outro mais para a música negra, um Jacob black. A caixa deve ser lançada em outubro”, diz Hamilton. Que levará o projeto para os palcos país afora.

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