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Elba Ramalho exercita a liberdade em Do meu olhar pra fora

A produção é de Yuri Queiroga e de Luã Mattar, filho da cantora

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 03/04/2015 às 6:00
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A produção é de Yuri Queiroga e de Luã Mattar, filho da cantora - FOTO: Divulgação
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O nome inicial do novo disco de Elba Ramalho seria Livre, mas havia muitos projetos homônimos: "O título acabou surgindo de uma conversa com Thais Gulin. A gente conversava sobre isso, quando ela sugeriu o Do meu olhar pra fora, que é um verso da música É o que me interessa (Lenine e Dudu Falcão), que está no disco. Concordei na hora" conta Elba Ramalho, em entrevista por telefone. O 33º álbum da paraibana de Conceição do Piancó (estreia na gravadora Coqueiro Verde) causará surpresa aos que a fixaram no nicho de cantora de forró, embora continue cantando ritmos da região. O novo trabalho abre com Olhando o coração, um baião de Dominguinhos (com Climério Ferreira, uma das duas composições inéditas dele no CD). Mais adiante canta, de O Cordel do Fogo Encantado, Nossa Senhora da Paz.

Elba admite que a atual situação da indústria fonográfica foi um incentivo para que se aventurasse a sair da trilha mais segura. Igualmente contribuiu para isso ter um estúdio doméstico bem aparelhado: "Fizemos boa parte do projeto em casa. Há tempos que tinha o estúdio, Luã foi cuidando de equipar e hoje posso gravar com ótima qualidade", jacta-­se. Luã (Mattar) é seu filho, músico formado na escola de Berklee, em Boston, que se inicia na produção e coassina com Yuri Queiroga Do meu olhar pra fora. "É um disco que tem o olhar voltado para o mundo", ressalta a cantora, que canta uma faixa em francês e enceta um dueto com a portuguesa Carminho (em Nos ares de Lisboa ­ um passarinho enganador, de Dominguinhos e Fausto Nilo).

Poderia acrescentar um "Pernambuco embaixo dos pés e minha mente na imensidão", citando Chico Science, de quem incluiu no repertório Risoflora (do álbum Da lama ao caos, 1994): "Chico foi muito importante e devo ser a primeira cantora que grava esta música", ressalta Elba, que nesta faixa tem as programações de um mangueboy de primeira hora, o DJ Dolores, e a inusitada presença da harpista Cristina Braga. Do olhar pra fora pode ser visto como uma sequência do também ousado Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007), produzido por Yuri Queiroga , e com maioria do repertório assinada por autores pernambucanos.

Desta vez Pernambuco começa pela capa, do artista plástico Daniel Edmundson. Metade do repertório tem assinatura de pernambucanos e grande parte dos músicos é do Estado: do baterista Tostão Queiroga, palhetas e sopros do maestro Spok, Enok Chagas e Nilsinho Amarante, às guitarras de Yuri Queiroga e Paulo Rafael e percussão de Lucas dos Prazeres. Mas o espectro é tão amplo que não repercute tanto o sotaque pernambucano. Ela gravou, por exemplo, de Serge Gainsbourg, uma canção rara do pouco conhecido filme ítalo/franco/iugoslavo, de 1971, Le roman dun voleur de chevaux (O romance de um ladrão de cavalos), dirigido por Abraham Polonsky e Fedor Hanzekovic: "Foi uma sugestão de Yuri Queiroga, que demorei a concordar em gravar. Não sei se não fosse isso eu teria escolhido esta música. Mas topei, e pedi ao ex­cônsul 03/04/2015 JC Premium https://jconlinedigital.ne10.uol.com.br/web/ 2/2 francês Richard Barbeyron para me ajudar na pronúncia. Acho que ficou boa, mas o sotaque nordestino permaneceu". Nesta faixa o paulista Marcelo Jeneci desdobra­-se no piano, cravo acordeom e ainda assina o arranjo.

Elba Ramalho fez o seu álbum mais ousado, sem chegar ao experimentalismo avant­garde: "Acho que é preciso arriscar, é fácil se autoplagiar, quis fugir disso, de me repetir,", comenta a ex­baterista do conjunto feminino de iê iê iê As Brasas, com quem tocou adolescente em Campina Grande (PB). Do olhar pra fora é um disco que tem a ver com liberdade, de quem está destravada o suficiente para experimentar andamentos, timbres, tonalidades progressivas numa composição dos reis do samba Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, na inédita Ser livre: "Zeca nem ouviu ainda. Somos amigos há muitos anos, nos visitamos, conversamos muito. Há uns 30 anos ele me prometeu uma música. Nos encontramos um programa de TV e ele me lembrou a peomwaa e mandou, uma fita"

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