Caixa

Lou Reed em cinco discos da fase menos lembrada de sua obra

Caixa da Rhino inclui tributo, com John Cale, a Andy Warhol

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 11/04/2015 às 7:15
divulgação
Caixa da Rhino inclui tributo, com John Cale, a Andy Warhol - FOTO: divulgação
Leitura:

 

Falecido em outubro de 2013, Lou Reed é geralmente lembrado pelos discos com o Velvet Underground, ou pelos álbuns solo dos anos 70. A partir dos anos 80, com o rock em fogo brando, os Rolling Stones em turnê patrocinadas por grandes corporações, ou o punk Johnny Rotten trocando a chuvosa Londres pelo sol da Califórnia, Lou Reed tornou-se um anacronismo, com suas canções de poucos acordes, enfatizando letras que sobre o lado barra pesada de Nova Iorque. Um álbum como The blue mask (1982), trafegava na contramão do pop digestivo de um Phil Collins com versos feito estes, da música título: “Cumpra o sacrifício/mutile meu rosto/se precisa alguém pra matar... arranque a máscara azul do meu rosto/olhe nos meus olhos/sinto prazer em ser punido”.

Se estes discos, ainda próximos da produção influente da década anterior, são raramente citados, a fase final de Lou Reed estava esquecida. a Rhino Disc, em parceria com a Warner Music, lançou a caixa Lou Reed the studio álbum collection: 1989-2000, a fase final do artista. São cinco álbuns: New York (1989), Songs for Drella (1990), Magic and loss (1992), Set the Twilight Reeling (1996), e Ecstasy (2000). Poderiam ter arredondado, acrescentando The raven, último disco de estúdio solo. Até porque Songs for Drella é dividido com John Cale, ex-companheiro de Velvet Underground.

Destes álbuns, New York é o mais bem sucedido, embora não tenha sido um campeão de vendagem, foi unanimidade de crítica, e acrescentou alguns clássicos ao repertório de Lou Reed, como Romeo had Juliette, e Halloween parade. Não apenas isso, New York é uma panorâmica sobre a cidade, charmosa, mas permeada por violência, drogas, AIDs e pobreza. A citada Halloween parade é uma atualização de Walk on the wild side (de 1972). New York é um dos melhores discos de Lou Reed, e da década. Magic and loss é um trabalho pessoal, introspectivo, uma elegia ao amigo Doc Pomus, compositor de vários clássicos do rhythm and blues, no final dos 50 e começo dos 60, em parceria com Mort Shuman. É um disco mais de letras do que de melodias. Assim como Songs for Drella, homenagem prestada por ele e John Cale a Andy Warhol, que apadrinhou o grupo em 1965, e assina a capa do LP de estreia. Ambos não são discos fáceis.

Lou Reed e Bob Dylan foram dos poucos autores de rock a ter letras estudadas em universidades. Porém enquanto Dylan, mesmo em sua fase religiosa, mantém um padrão poético, que vai além da fé, Lou Reed guia-se pelas suas idiossincrasias. Fez discos que eventualmente poderiam ser comprados, ou tocar no rádio, mas sem pensar nesta hipótese. Não raro resvala para a autoindulgência. Set the twilight reeling, um de seus álbuns menos conhecidos, tem influência do casamento com a cantora Laurie Anderson. O cantor, que dedicou uma música à heroína, abre o disco cantando um sorvete, Egg cream (Creme de ovo). Ao contrário de Magic and loss, este é um disco de boa melodias, como Finish line, dedicada ao ex-Velvet Underground, Sterling Morrison, falecido no ano anterior.

 Ecstasy o quinto álbum da caixa the studio album collection: 1989-2000 é um dos mais obscuros discos de Lou Reed. A inspiração também veio do casamento, mas as letras estão mais para discussão da relação. É um dos discos em que a guitarra domina até a última faixa, e tem uma de suas canções mais bizarras, Possum (Gambá), que lembra Sister ray, canção de três acordes e quase 20 minutos, do álbum White light/White heat (1968), do Velvet Underground. The studio álbum Collection – 1989 – 2000, é uma caixa produzida sem muito requinte, com uma capa de design primário, mas oportuna para ressaltar que o músico/poeta morreu, mas a sua música/poesia não.  

 

 

Últimas notícias