São João

Outros sons no forró: Fim de Feira, Vates & Violas, Adriana Sanchez

Poderiam ser uma alternativa às bandas se o rádio tocasse

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/06/2015 às 11:28
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Poderiam ser uma alternativa às bandas se o rádio tocasse - FOTO: divulgação
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Embora já exista uma demanda por forró o ano inteiro, o grosso dos lançamentos do gênero acontece neste período, mesmo que os discos quase não toquem no rádio ­ e com a maioria dos artistas produzindo seus trabalhos às próprias custas (uns poucos amparados em projetos de incentivos estaduais ou municipais). As gravadoras interessadas apenas nas bandas de fuleiragem music, que dominam os palcos no Estado inteiro, com exceção do Recife. Mas existe uma terceira via além do chamado pé-­de-­serra, nomenclatura que ganhou força para que forrozeiros autênticos sejam distinguidos das bandas, também conhecidas como de forró estilizado.

Um bom exemplo deste forró alternativo é o Fim de Feira, um grupo com 12 anos de carreira, que já ganhou prêmio nacional, o da Música Brasileira (na categoria Melhor Grupo Regional), pelo disco Revolta dos Pebas. Está com DVD novo: Bomba Cordão ­ Onde Tem Forró, Tem Festa (Independente), trabalho com que celebram os 10 anos de carreira. O Fim de Feira injetou sabor pop no forró, agrupando diversos ritmos ao repertório, com influência da tradição da poesia oral sertaneja (repente, embolada, cordel), passando por longe da diluição do forró, como um Falamansa, por exemplo.

Coco, arrasta­pé, carimbo, rojão, forró­rock, quase todo inédito e autoral: das 13 faixas, apenas duas não são assinadas por integrantes do grupo. São elas Pagode Russo, de João Silva e Luiz Gonzaga e No Giro do Farol, dos irmãos Miguel Marcondes e Luiz Homero. Bruno Lins (violões) e Tonzinho (guitarra) assinam quase todo o repertório, como o título aponta, feito para dançar. O grupo tem ainda, como integrantes, Luccas Maia (baixo, vocal), Antonio Muniz (sanfona), Márcio Silva (bateria e vocal) e Lucivan Max (percussão e vocal). Participam do DVD Bella Maia, Clayton Barros (ex­Cordel do Fogo Encantando), Cláudio Rabeca (Quarteto Olinda) e a Banda de Pífanos Zé do Estados.

O Vates & Violas é um grupo centralizado nos irmãos Luiz Homero e Miguel Marcondes. Ambos sertanejos, filhos de uma lenda do Sertão, Zé de Cazuza, de memória prodigiosa, biblioteca ambulante do repente. A música da banda, portanto, é impregnada desse universo poético, com influências de Zé Ramalho ou Geraldo Azevedo, mas com personalidade própria. O Vates & Violas está com CD novo: Intensidades mescla música e poesia, e também quase sempre dançante. Com jeito de hippies, cabelos longos, vez por outra chegando ao reggae ­ como acontece com a música que dá título ao álbum, Um Reggae Curioso ­, com sotaque do Cariri paraibano, muito próximo do arrasta­pé de Adeus, São Paulo, com diálogo de sanfona e guitarra. Mas Intensidade é, basicamente, um disco de forró, com baiões (Solo Sagrado), xotes (Ruas de Monteiro), fugindo da mesmice do romantismo ­ temática exaurida pela maioria dos que fazem forró pé-­de-­serra.Seria uma alternativa a sertanejos bregas e bandas apelativas, caso tocassem na rádio ou atraíssem uma Som Livre da vida, que fez de Wesley Safadão pop star.

Uma das vocalistas do grupo feminino de música sertaneja (tradicional), Barra de Saia, a paulista Adriana Sanchez presta uma homenagem a Luiz Gonzaga em sua estreia solo, Salve Lua (Radar Records), algo que se faz cada vez menos no Nordeste. Não porque o Rei do Baião esteja sendo esquecido. O problema é as editoras cobram caríssimo para autorizar gravações de suas músicas. Então, Luiz Gonzaga está sendo gravado em CDs caseiros, sem autorização legal, ou apenas por artistas consagrados, com recursos ou gravadoras para custear as liberações.

Adriana Sanchez gravou 11 canções do repertório de Luiz Gonzaga, dando­lhe roupagem diferente. Em algumas faixas, dispensa o uso da sanfona. Tem faixas com programações, e até rap, em Qui nem Jiló (Humberto Teixeira Luiz Gonzaga) que abre com as rimas e bases programadas de Rapadura. Cantora afinada, de voz curta mas certeira, Adriana Sanchez poderia aumentar as fileiras das cantoras de forró, com este disco bem acabado e produzido (por Bosco Fonseca Bosco Guidetti) que, embora respeitando a tradição, experimenta outras instrumentações e ritmos para o seu forrobodó.

Em meio a Baião (Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga), por exemplo, entra uma levada de maxixe (com citação de Roseira do Norte, de Zé Gonzaga e Pedro Sertanejo). Pecadilho do trabalho é a seleção que prima pela obviedade. Todas as faixas são de composições exaustivamente regravadas, reescritas, parafraseadas, citadas. Para animar um forrobodó são perfeitas, para um show, de palco, se as músicas não forem intercaladas por outras canções, acaba monótono, apesar da inegável qualidade do repertório. Adriana Sanchez teria feito um disco bem melhor ­ e talento para isso tem ­ se pinçasse jóias menos usadas do preciosíssimo acerto de Gonzagão.

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