Ano farto em datas redondas, 2015 abriga uma que, curiosamente, parece esquecida. A dos 60 anos de Tutti Frutti, de Little Richard, e de Maybellene, de Chuck Berry. Lançadas, em 1955, ambas definiram um novo gênero musical híbrido que seria batizado de rock n roll. As efemérides são marcadas por dois lançamentos The Complete Chess Singles As and Bs 1955 61, caixa com três CDs, de Chuck Berry, e Directly from My Heart: The Best of the Specialty & VeeJay Years, também com uma trinca de discos, de Little Richards.
Chuck Berry (nascido Charles Edward Anderson Berry, em 18 de outubro de 1926, St. Louis, Missouri) pegou a estrada inversa à de Elvis para chegar ao rock n roll. O branco Elvis miscigenou o country com o blues, enquanto Chuck Berry mesclou o blues com o country and western. Elvis tinha uma grande voz, mas não se sabe que direção teria seguido não fossem Sam Phillips, da gravaram Sun, os músicos com quem gravou no início, o guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black, que definiram o que se convencionou chamar de rockabilly.
Little Richard (Richard Wayne Penniman, nascido em 5 de dezembro 1932, em Macon, Georgia) criou outra vertente, ao tirar a música da igreja para o palco, mescladoa com o rhythm and blues. Tanto Berry quanto Little Richards levavam vantagem sobre Elvis pelo fato de serem dois ótimos músicos, e melhores ainda como compositores. A dupla desenhou uma arquitetura sonora, com batida e letras personalizadas, originais. Chuck Berry criou uma poética própria, foi uma espécie de Walt Whitman pop cantando uma América adolescente e rica (mesmo ele sendo negro, com problemas com a polícia antes e depois do sucesso).
Little Richard antecipa a androginia no rock, com interpretação histérica, canções de uma urgência que a música popular até então desconhecia. Tornaram dois dos mais influentes músicos da história da música popular. Enquanto Elvis ainda era um sucesso limitado ao Sul dos EUA, Little Richard e Chuck Berry explodiam de costa a costa com Tutti Frutti e Maybellene. As duas canções emplacaram tanto na parada de rhythm and blues quanto na parada pop da Billboard, e entraram no disputadíssimo Top 40 dos EUA, com força. Tutti Frutti chegou a um segundo lugar, enquanto Maybellene alcançou o topo das paradas de rhythm and blues e conseguiu o feito de ser tocada nas emissoras de pop, country e rhythm and blues.
São as duas canções que verdadeiramente marcam o início do rock n roll, como uma renovação na música popular americana, e por conseguinte, mundial. O legado de Chuck Berry e Little Richard não se limitou, obviamente, a esses sucessos. Eles foram o início de uma série de hits, extremamente influentes que se estenderam até o final dos anos 1950. As duas compilação que saem agora dão um apanhado da música de ambos. A de Chuck Berry foi lançada quase toda pela Chess Records, de Chicago, a de Little Richards, por duas gravadoras, a Specialty, de Los Angeles, e a VeeJay, de Gary, Indiana.
Os fundamentos do rock and roll estão nessas duas caixas. Do canto agudíssimo em falsete de Little Richard, presente na música dos Beatles e de boa vocalistas de metal pesado, dos riffs e descrição do rock como modo de vida na música de Chuck Berry, que criou riffs e um ritmo copiados por todas as gerações de roqueiros desde então. É imensa a dívida que Beatles, Rolling Stones, Beach Boys, Bob Dylan e centenas de cantores, cantoras e bandas ao redor do planeta têm com estes dois pioneiros. Na caixa de Little Richard há uma faixa, pouco lembrada, que merece atenção: I Dont Know What Youve Got But Its Got Me, de 1965. Foi a última vez que ele chegou às paradas com uma música inédita. O guitarrista da sua banda era o ainda desconhecido Jimi Hendrix (que foi demitido por usar roupas mais chamativas do que as do chefe)
