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Lobão lança disco com temática variada, mas ainda panfletário

Livro antecipou e explicou o processo de O Rigor e a MIsericórdia

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 12/04/2016 às 9:08
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Livro antecipou e explicou o processo de O Rigor e a MIsericórdia - FOTO: foto: reprodução
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Lobão tem todo o direito de empreender sua catilinária contra a presidente do país, e o partido que está no poder. Porém, resta saber a quem motiva. Não é possuidor da importância a que se arvora, com seu discurso monocórdico e cartas abertas a artistas da MPB pelos quais parece ter uma fixação. Suas diatribes e provocações a Caetano Veloso ou Chico Buarque não são exatamente novidades. A insistência na campanha contra o Partido dos Trabalhadores junta­se a estocadas nas mais diversas alas ligadas à área da cultura em geral, da produtora Paula Lavigne, ao também produtor Pablo Capilé, do Circuito Fora do Eixo, Roberto Carlos e Mano Brown (dos Racionais MC´s).

Porém, Lobão não se assume líder de nada, nem de ninguém, como assinalou numa nota publicada em novembro de 2014: "Em primeiro lugar, é preciso sublinhar que não faço parte de nenhuma liderança política. Sou um músico que ama seu ofício e minha participação nas manifestações é a de um cidadão indignado como qualquer outro brasileiro".

Uiva tanto o irado Lobo que as pessoas até esquecem que ele é cantor, compositor e músico talentoso. Um dos mais originais da geração anos 80, embora sua entrada em cena retroaja aos 70, quando participou do Vímana, banda de música inconsistente, mas que continua lembrada pelo posterior desenvolvimento da carreira dele, de Richie e Lulu Santos, que a integravam. Criativo e culto, Lobão escreve bem e inovou lançando o livro Em Busca do Rigor e da Misericórdia ­ Reflexões de Um Ermitão Urbano (Record, R$ 39).

Em parte, o livro é a narrativa da obra em progresso, seu novo disco, O Rigor e a Misericórdia. Ele conta a origem de cada faixa (todas autorais), as vezes entrando em minúcias técnicas. Ele gravou no estúdio de sua casa na Pompéia, em São Paulo, e toca todos os instrumentos. Outra parte comenta episódios da vida pessoal, e o restante é pau no lombo do governo e em quem o apóia.

Detalha uma ida à Brasília quando lá se votava a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Teve contatos com vários dos atores do drama que ora se passa na capital da república, como Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Ronaldo Caiado, Jair Bolsonaro ("que, em um determinado momento, me ofereceu carinhosamente seu paletó, caso eu quisesse entrar no parlamento").

Finda o capítulo Leve-me ao Seu Líder com uma visita ao gabinete do senador mineiro Aécio Neves: "Conversamos longamente sobre o país e tiramos várias fotos que, para delírio da militância petista, sairiam em vários jornais". Não é o melhor, nem o mais provocativo livro de Lobão. O mais interessante ainda é quando comenta o processo do disco, a inspiração das músicas. Infelizmente, o álbum não conseguiu atrair mais atenção do que seus arroubos tautológicos, batendo na mesma tecla, atirando no mesmo alvo esfacelado.

A primeira música que liberou para a internet foi Os Vulneráveis, nascida de um texto para uma coluna que lhe convidaram a escrever na Veja: "Um tributo à minha formação musical, ao Led Zeppelin, ao mesmo tempo com a intenção de produzir uma canção com a qual pudesse me esbaldar no palco. Se não estivéssemos em um país que é um túmulo do rock Os Vulneráveis poderia facilmente ser um hit song nas rádios".

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