Plágios

Plágios: de Led Zeppelin a Morris Albert, os muitos processos

Ate How Deep Is Your Love, dos Bee Gees, foi acusada de cópia

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 28/06/2016 às 9:22
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Ate How Deep Is Your Love, dos Bee Gees, foi acusada de cópia - FOTO: foto: divulgação
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O cantor Robert Plant e o guitarrista Jimmy Page foram inocentados, quinta­feira, 23, de terem plagiado Taurus, uma composição do músico americano Randy "California" Wolfe (falecido em 1997) quando compuseram Stairway to Heaven, a canção mais conhecida do Led Zeppelin gravada no final de 1970 (lançada no álbum Led Zeppelin IV, de 1971). No debate, acontecido num tribunal federal em Los Angeles, com acusações e negativas que se estenderam durante seis dias, Plant e Page negaram o plágio, mesmo quando a acusação refrescou-­lhes a memória, lembrando-­lhes que o grupo New Yardbirds (que seria rebatizado de Led Zeppelin) chegou a tocar mais de uma vez em festivais do qual o Spirit, banda de Randy California, estava na programação.

O júri, de oito pessoas, no entanto, deliberou que o padrão dos acordes usados na introdução de Stairway to Heaven é tão comum que os direitos de autor não se aplicam. Não contou para os jurados o fato de que a dupla é reincidente no plágio, ou melhor, plágios. A revista americana Rolling Stone, na edição disponível online, enumerou dez plágios bem conhecidos do Led Zeppelin, parte dos quais admitidos, e com o nome do autor da canção original confirmado, posteriormente, como co-autor da música. O blues I Cant Quit You Babe, uma das melhores interpretações de Robert Plant, do álbum de estreia do Led Zeppelin (1969), é cópia de You Shook Me, do lendário blueseiro e produtor Willie Dixon, que ganhou na Justiça e dividiu os créditos e os direitos autorais com Plant e Page.

Dixon (que morreu em 1992) também ganhou na Justiça direitos sobre Whole Lotta Love (também do álbum de estreia do LZ), pelas semelhanças com sua You Need Love, lançada por Muddy Waters em 1962. O Led Zeppelin talvez seja o mais contumaz dos plagiadores, mas a história das "coincidências" musicais é comum e a lista extensa. Paul McCartney chegou a confessar que muitas das canções dos Beatles eram remakes. McCartney pelo menos conseguia disfarçar bem, o que não aconteceu com John Lennon e George Harrison. O primeiro cometeu o recorrente caso do "plágio inconsciente". Transformou You Cant Catch Me (1956) de Chuck Berry, em Come Together (de Abbey Road). Usou até parte de um verso de Berry: "Up come a flap top/ he was movin up with me" (de You Cant Catch Me) e "Here come old flat top/he come groovin up slowly" (de Come Together).

A editora de Berry caiu em cima, ganhou a causa e John Lennon pagou pela escorregadela com o álbum Rock and Roll (1975), com todas as canções da editora Big Seven Music Corporation, pertencente a um sujeito chamado Morris Levy. Com George Harrison foi mais grave, e não teve acordo. Ele foi obrigado a pagar indenização por ter plagiado Shes So Fine, música de Ronnie Mack, um hit com o grupo feminino The Chiffons, em 1963. O ex­beatle foi condenado a pagar a quantia de US$ 1.599,987, estimadamente um terço do que a música rendeu a George Harrison. O caso teria desdobramentos, quando o vivaldino empresário Allen Klein, então manager de Lennon, Harrison e Ringo Starr, adquiriu os direitos de Shes So Fine.

Mas nem precisa ir tão longe no tempo para encontrar semelhanças musicais vexatórias. Em 2008, o Coldplay emplacou um primeiro lugar no paradão pop da Billboard com Viva la Vida, de Chris Martin, que soava muito parecida com o tema instrumental If I Could Fly, do guitarrista Joe Satriani (2004). O caso foi acertado diante do juiz. De volta a 1990, quando um rapper branco, Robert Matthew Van Winkle, o Vanilla Ice, levou um rap pela primeira vez ao topo da paradas americanas, com Ice Ice Baby, sucesso também em vários países. O problema é que a música tinha uma linha de baixo igual a de Under Pressure, gravada, em 1981, por David Bowie e o Queen. Vanilla Ice nem esperou a notificação judicial. Acertou as contas num acordo financeiro, que o levou à bancarrota e a ter a carreira desencaminhada, a ponto de ter tentado o suicídio.

BRASILEIROS ESTÃO NA LISTA

Se Vanilla Ice foi pego pela linha de baixo, o inglês Rod Stewart se entregou pelo refrão de Do Ya Think Im Sexy (1979) igualzinho ao de Taj Mahal (1972), de Jorge Ben (ainda sem o Jor). A "treta" foi acertada nos tribunais, e Rod Stewart admitiu o tal "plágio inconsciente". Isto não pôde fazer o compositor e cantor Alberto Maurício Kaiserman, ou Morris Albert, o mais bem sucedido nome da fase do "falso importado" que imperou na primeira metade dos anos 70 no Brasil. Uma época de censura implacável fez surgir uma leva de autores escrevendo letras em inglês, e Morris Albert emplacou um megahit com a balada Feelings, que extrapolou as fronteiras brasileiras e ganhou o mundo, tornando­-se uma das canções mais regravadas da década.

Frank Sinatra, Nina Simone, Sarah Vaughan, Júlio Iglesias e John Mathis foram alguns dos astros internacionais que gravaram Feelings. Em 1981, caiu a ficha para o compositor francês Loulou Gasté. A sua Por Toi, de 1957, era idêntica a Feelings. Morris Albert foi condenado por plágio, teve que pagar uma polpuda indenização (supostos US$ 500 mil) e cedeu uma vaga na autoria da canção para o francês. Roberto Carlos tem várias canções com curiosas semelhanças com composições estrangeiras, umas mais, outras menos, conhecidas. Rotina, de 1973, por exemplo, é muito parecida com I Will, hit dos anos 50 de Dean Martin, ou Preciso lhe Encontrar, de 1970, com The Days of Pearly Spencer, do irlandês David McWilliams, sucesso menor na Inglaterra em 1967.

Porém nenhuma delas foi alvo de querelas legais. O que não aconteceu com O Careta, de 1987, que o então desconhecido compositor Sebastião Braga identificou como igual à sua Loucuras de Amor. Uma disputa judicial que levou 12 anos, e à condenação do Rei a ceder parceria e a pagar R$ 5 milhões ao compositor, que ostenta o mesmo sobrenome de Roberto Carlos. Mas ele, como já se viu, está em companhia de muita gente boa. Os irmãos Maurice, Barry e Robin enfrentaram os tribunais para se defenderem de plágio por How Deep Is Your Love, uma das canções mais bem sucedidas da história da música pop, que vendeu mais 30 milhões de singles mundo afora.

Os Gibb Foram levados às barras dos tribunais por um compositor tão pouco conhecido nos Estados Unidos quando Sebastião Braga no Brasil. A música pivô do quiproquó foi Let it End, cuja melodia é praticamente a mesma da canção milionária dos Bee Gees. Desta vez, os acusados venceram. Os irmãos Gibb perderam no início, mas apelaram e ganharam em todas as instâncias. Robert Plant e Jimmy Page deram sorte. É inquestionável a semelhança entre a introdução de Taurus e a de Stairway to Heaven, uma canção com 45 anos de muito sucesso e de milhões de dólares recolhidos para as contas bancárias dos autores. Um ano atrás, também em Los Angeles, um júri menos complacente condenou Robin Thicke e Pharrell Williams a pagarem 7,4 milhões de dólares (depois reduzido para 5,3 milhões) por plágio da música Got to Give It Up, de Marvin Gaye.

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