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David Bowie volta às telas com O Homem que Caiu na Terra

O filme, de NIcolas Roeg, de 1976, chocou pelas cenas de nudez

JC Online
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Publicado em 12/01/2017 às 14:36
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O filme, de NIcolas Roeg, de 1976, chocou pelas cenas de nudez - FOTO: foto: reprodução
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Em 1975, quando participou do filme O Homem que Caiu da Terra (The Man That Fell To Earth), de Nicolas Roeg David Bowie, mudara-se para Los Angeles, e seguia uma dieta que consistia de leite, pimenta, sorvete, cigarros (quatro maços por dia de Gitanes) e cocaína. Um ano que ele definiu como longas férias movidas a cocaína que quase o levam a um colapso psicótico. O filme estreia hoje no cine são Luis, um relançamento que celebra os 40 anos da première londrina, digitalmente restaurado, som remasterizado,com cenas inéditas.

O diretor queria tanto Bowie para protagonista do filme, que irrelevou as oito horas de atraso do cantor, que marcou um encontro com ele em sua casa, mas esqueceu. Pele e osso, palidez de quem nunca via a luz solar, David Bowie tinha o physique du rôle para o papel do extraterrestre Thomas Jerome Newton, principal personagem do filme para o qual Roeg escolhera Peter O’Toole. Não apenas o aspecto físico, mas o mental. Bowie parecia viver em outro universo. Devorava livros esotéricos, entre este um que atribuía poderes mágicos a Hitler. Sua mulher Angie Bowie (que ganhou música de Jagger e Richards, Angie, hit dos Rolling Stones) revelou que ele chegou a mandar exorcizar a piscina da cada em que moravam por ter visto demônios na pérgula.

Curioso é que o alienígena de O Homem que Caiu da Terra tem uma história inversa a do Major Tom, o astronauta condenado a vagar no espaço, da Space Oditty, o álbum clássico de David Bowie. Thomas Jerome Newton vem à Terra para tentar levar água para o seu planeta, que passa por uma seca mais braba do que a que assola o Nordeste atualmente. Torna-se um poderoso empresário, mas descobrem que ele não deste mundo. Ele é confinado e passa a ser estudado. Assim como o Major Tom, Thomas quer voltar para a mulher e os filhos, que padecem de sede no seu planeta. Mesmo assim ainda mantém um conturbado e tórrido caso de amor com Mary Lou (Candy Clark, que na época namorava com Nicolas Roeg). Teria Bowie se inspirado no Thomas da novela de Walter Tevis, publicada em 1963, ou Nicolas Roeg incentivado a filmá-la por causa do Major tom da canção de Bowie?

Roeg vinha de um filme sucesso de crítica e bilheteria, Um Inverno de Sangue em Veneza (Don’t Look Now), e de filmes cult, como Performance (1970), com Mick Jagger (direção dividida com Donald Cammell). Já era respeitado como fotógrafo. Fez, por exemplo, Fahrenheit 451, de François Truffaut. O Homem que Caiu na Terra teve sua fotografia bastante elogiada, e quem a assina é Anthony Richmond. É um filme com cenas ousadas de sexo, com nus frontais, que ainda não eram aceitos nas telas dos cinemas brasileiros. Lembrando que A Laranja Mecânica Mecânica, de Stanley Kubrick (1971), só foi exibido no Brasil em 1978, com estranhas bolinhas pretas perseguindo os genitais desnudos de atrizes e atores. O Homem que Caiu na Terra entrou no circuito, no Brasil, em 1977.

Em entrevista ao The Telegraph (edição do dia 9 de janeiro) a atriz Candy Clark confessou que nem ela, nem Bowie, sentiram-se bem nas cena de nudismos, mas fizeram o que lhes foi pedido e constava do roteiro. Numa delas, os dois nus, na cama, numa cena demorada, brincam com uma pistola carregada de balas de festim. David Bowie, então já um pop estar famoso, foi até mais elogiado do que o filme. A rigorosa Pauline Kael, da revista The New Yorker citou-o como “O personagem mais romântico da filmografia recente, uma versão moderna do mito garoto perdido à James Dean.

MÚSICA
David Bowie tinha lançado Young Americans, em março de 1975, e quando filme estava sendo exibido ainda viajava pelos EUA com a turnê de Diamond Dogs, mas no filme ele se dedica a ser apenas ator, segundo Candy Clark, poupando-se até das drogas (ou pelo menos diminuído a quantidade). No entanto, Thomas Newton, seu personagem, grava um disco com creditado a The Visitors, com esperanças de que sua mulher o escute, pelas ondas do rádio, em seu planeta. Enquanto estava em Albuquerque, no Nova México, local da filmagem, Bowie escreveu contos, e compôs canções que poderiam ser utilizadas na trilha sonora. Parte delas integrou o repertório do álbum Station to Station. A direção musical do filme recaiu em John Phillips, o ex-líder do Mamas and the Papas, um dos autores mais bem sucedidos e requisitados dos anos 60.

Na época, Phillips encetava amizade com Keith Richards, de quem se tornou hóspede na Inglaterra, enquanto gravava o segundo disco solo, com participação de Mick Jagger, Mick Taylor e Ron Wood (que só seria lançado, em abril de 2001, um mês depois de sua morte). Convidado para se encarregar da música do filme, John Phillips escreveu parte da trilha, aproveitou temas do japonês Stomu Yamashta, e standards, com Louis Armstrong (Blueberry Hill), Kingston Trio (Try to Remember), George Hurst & Bournemouth Symphony Orchestra, o próprio John Phillips canta o tema do personagem interpretado por Candy Clark, Mary Lou, a canção Hello Mary Lou, de Gene Pitney.

A trilha permanecia inédita. Bowie queria lança-la na época pela RCA, mas esbarrou em burocracias de direitos autorais. A fita master sumiu, e foi oportunamente encontrada no ano passado. Chegou às lojas como um álbum duplo, Stomu Yamashta & John Phillips – The Man Who Fell to Earth Original Motion Picture Soundtrack, parte das 25 faixas não foi utilizada no filme.

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