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Exposição homenageia os 70 anos de Raimundo Carrero no Mepe

Fotos, vídeos e ações educativas promovem imersão na obra do escritor

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 11/11/2018 às 9:00
Heudes Régis/Divulgação
Fotos, vídeos e ações educativas promovem imersão na obra do escritor - FOTO: Heudes Régis/Divulgação
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“Se eu soubesse que era assim, tão gostoso, teria comemorado meus 70 anos umas três vezes”, brincou Raimundo Carrero em entrevista ao Jornal do Commercio. Para alegria dele, as celebrações ainda não cessaram. Desde o dia 20 de dezembro do ano passado – dia de seu aniversário – uma série de homenagens tem enfatizado a vida e obra do escritor, um dos mais celebrados do Estado e do País. A partir desta terça-feira (13), sua vida e obra voltam a ser tema de festejo com a abertura da exposição Condenados à Vida – 70 Anos de Raimundo Carrero, que ocupará o Museu do Estado de Pernambuco (Mepe). Na noite de abertura, o autor faz o lançamento oficial da tetralogia Condenados à Vida (Cepe Editora), que reúne quatro de seus principais trabalhos.

Com curadoria do escritor Sidney Rocha, produção-executiva de Andréa Motta e concepção do jornalista e escritor Marcelo Pereira, a exposição propõe uma imersão na obra de Carrero a partir de quatro eixos: Beleza, Loucura, Paixão e Fé.

“É uma curadoria de escritor para escritor, de narrador para narrador, de leitor para leitor. Isso define um modo de fazer diferente do que se costuma associar a ‘curadoria’ que, embora seja, sempre, em ‘primeira pessoa’, se estabelece quase sempre com um grau razoável de assepsia. Os quatro eixos temáticos põem em evidência o ‘homem humano’, como diria Guimarães Rosa. Isso quer dizer que nos ‘quatro’ há uma unidade indissolúvel. Um retrato de corpo inteiro, isto é, da sua alma visível e legível, e com um explícito propósito de multiplicar a leitura de sua obra, mais do que a mera homenagem. Daí a concentração em quatro obras e a ênfase na participação dos estudantes, professores, pesquisadores”, explica Sidney.

A experiência proposta pela mostra é uma aproximação do universo do filho ilustre de Salgueiro de forma poética. Assim, além de objetos pessoais, como livros e uma máquina de escrever, o visitante se deparará com fotos de Carrero, de autoria de Heudes Régis, além de vídeos em looping. A experiência estética, ressalta Sidney, dialoga profundamente com a obra do escritor.

“A partir de um olhar superficial sobre as preocupações que norteiam sua obra alguém poderia aproximá-lo de um certo tipo de romantismo em que a hiperdimensão do sujeito se limita à sua loucura, ou às suas loucuras, como seria mais justo, no plural. Não é nisso que está o esteta, pois nenhuma estética se corporifica realmente no tema, mas na forma. Portanto, trata-se de uma obra narrativa em que as questões técnicas e de ‘construção’, das estruturas, são os pontos de partida e de chegada. Não com a frieza de uma certa ‘arte pela arte’, mas da ‘arte pela vida’, em seus extremos. É assim uma estética de clamor vital e vitalizante”, enfatiza.

CELEBRAÇÃO

Carrero conta que, abordado por Marcelo e Sidney sobre a exposição, no começo achou “esquisita” a ideia. Não conseguia imaginar o que poderia ser colocado em exibição além de seus livros. Mas, como o próprio reconhece, sua vida e sua obra são indissociáveis e, fascinantes, fornecem material em abundância.

“Dos meus 70 anos, 50 foram dedicados integralmente à literatura. Escrevo diariamente, sem exceção. Minha vida e minha obra se confundem. Quando eu era menino, achava que ia ser músico, dedicado à composição, e, quem sabe, me tornaria maestro. A minha obra literária é a obra musical de um músico frustrado. Na alma, sou um músico, um saxofonista que se empenha em improvisar e tocar na página em branco. Acabei me tornando um músico que toca palavras”, conta Carrero.

O escritor se classifica como um obsessivo, sempre à procura da perfeição. Ele se espelha em seus ídolos, como Dostoiévski e Tolstoi, e disse que, até o fim de sua vida, vai questionar a alma humana em suas obras.

“Tenho que criar, inventar e atingir o melhor de mim, não dos outros. Procuro, naturalmente, questionar a alma humana através do comportamento das pessoas. Não me interessa só o homem, eu procuro a escatologia da alma humana. Quero escrever de dentro da dor e não de fora. Estou escrevendo uma novela que acredito ser o ponto alto da minha narrativa, não só pela técnica, mas pela forma de contestar o mundo. Se chamará Colégio de Freiras e, se tudo der certo, será lançado em março do ano que vem”, adianta.

Até dezembro, a exposição contará com uma série de atividades, como visitas de escolas das redes públicas estadual e municipal. Outro destaque é a execução de aulas da oficina literária de Carrero dentro do Mepe. Nela, ele trocará experiências e compartilhará trechos do novo livro.

Durante todo novembro e parte de dezembro, sempre aos sábados e domingos, estão agendadas leituras e diálogos com convidados especiais como Cida Pedrosa, Evaldo Costa, José Castello, José Parísio, Lourival Holanda, Luzilá Gonçalves Ferreira, Nivaldo Tenório, Ronaldo Correia de Brito, Samarone Lima e Wellington de Melo.

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