Empreendedorismo

Com a crise, jovens driblam desemprego e começam a empreender

A recessão econômica ampliou o número de desempregados, mas também houve um aumento no empreendedorismo no País

Bruno Vinicius
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Bruno Vinicius
Publicado em 11/06/2018 às 8:22
Foto: Bobby Fabisack/JC Imagem
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A recessão econômica brasileira agravou a situação de jovens, negros e mulheres no mercado de trabalho tradicional. Segundo os últimos levantamentos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C), os três grupos permanecem no topo da vulnerabilidade ao desemprego, representando um percentual acima de 80% dos 4,6 milhões de desalentados no Brasil (aqueles que estão sem emprego e desistiram de procurá-lo). Em contrapartida, um novo cenário no empreendedorismo vem crescendo diante da crise: por necessidade, muita gente desses grupos está cada vez mais tocando os próprios negócios.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mais de 11 milhões de microempresas foram criadas em razão da necessidade de renda, que deixou de vir pelo emprego, em apenas quatro anos. “O que se percebe é que, com as plataformas digitais, as pessoas estão encontrando uma facilidade para empreender, porque custa mais barato”, explica a analista do Sebrae-PE, Conceição Moraes. Ela afirma que a revolução digital proporcionou uma mudança no mercado, antes mesmo da recessão. “O que a crise fez foi apenas colocar em cheque algumas das funções que já vinham sendo desgastadas em função da revolução tecnológica”, enfatiza.

O que a especialista pontua é, que em razão dessas transformações, novos tipos de empreendedorismo vão surgindo, apontando um impacto no mercado em geral. “Isso vem das transformações da sociedade. Junto a isso, vem novos papéis e novas funções. Quem empreende deve estar atento a isso. Hoje, por exemplo, o modo de se alimentar mudou bastante: há uma quantidade de veganos e vegetarianos que propõem um nova política de alimentação. Então, podemos ver essa nova demanda no mercado”, explica a analista.

Segundo Conceição, essas mudanças também implicam num novo perfil de empreendedores no País. “Devido ao estímulo de organizações ao empreendedorismo feminino, percebemos que há uma crescente de mulheres empreendedoras no Brasil, apesar de não se atingir uma equidade entre os gêneros”, aponta. Ela argumenta que, enquanto os jovens lideram os números de desocupação no País, a tecnologia faz a faixa despontar em relação à criação de novos negócios. “Um start de mudança, que é fato, os nativos digitais que possuem em mãos o e-commerce e as redes no mercado já funcionando têm essa facilidade para empreender e galgar novos espaços”.

 

 DECEPÇÃO

A experiência de quatro anos no mercado da comunicação, com passagens por três agências de publicidade, foi o suficiente para o publicitário e microempresário, Fernando Monteiro, de 22 anos, começar o próprio negócio. Depois de ser demitido do último emprego, em fevereiro deste ano, ele decidiu dar o pontapé inicial no ramo, com a criação da Filtro Store. “Estava sempre trabalhando para dar lucros a uma empresa que não estava preocupada em fazer os funcionários crescerem junto com ela e essa não é uma instituição que eu queira fazer parte. Não queria mais fazer parte disso, por isso resolvi seguir com o meu projeto que já tinha em mente há algum tempo”, relata.

Com capital independente, que foi adquirido ao longo de seis anos desde a idealização da Filtro, o microempresário conseguiu lançar a primeira coleção da marca em abril deste ano. “A Filtro é uma marca de moda voltada para todos os públicos, porque nossas modelagens são confortáveis para todos os corpos. A intenção é produzir produtos bons e dentro de um padrão elevado para as pessoas se vestirem bem no dia a dia”, argumenta, explicando que a marca é totalmente feita por ele. “ Atualmente, tudo nela se resume a mim (que faço toda a parte criativa, administrativa e logística) e mais um outro fornecedor que produz as peças de forma terceirizada. Mas espero ter um grande crescimento nesse primeiro ano e ampliar gama de produtos e a equipe em breve”.

Independência também foi o start do negócio de Duda Soufle, de 19 anos. Ela, que está prestes a se licenciar em Letras (francês), viu a oportunidade de abrir o próprio curso para ensinar a língua latina, em meio à falta de espaço no mercado tradicional. “Comecei a procurar emprego depois que meu contrato de estágio estava prestes a acabar. Depois de muita procura, eu não encontrava e sentia muita dificuldade, porque eu era muito nova e sentia um preconceito pelo meu cabelo, por eu ter tatuagens, apesar de isso não estar explícito”, conta a professora.

“O primeiro passo que eu dei foi alugar uma sala. Minha dificuldade agora está sendo trabalhar com muitas outras áreas: eu que faço divulgação, eu sou social media e lido com todas as ferramentas para divulgar meu trabalho”, conta Duda, que também faz oficinas temáticas em uma das salas do Edifício Pernambuco, no Centro, para atrair pessoas para o curso.

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Duda Soufle tem o próprio curso de Francês e oferece oficinas temáticas através da língua - Foto: Bobby Fabisack/JC Imagem
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Após decepções no mercado publicitário, Fernando Monteiro decidiu montar o próprio negócio - Foto: Bobby Fabisack/JC Imagem
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