COHOUSING

Idosos se unem em vilas em busca de melhores condições de vida

Em busca de bem estar e envelhecimento saudável, aposentados compartilham espaços de moradia em que a interação social é prioridade

Bianca Bion
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Bianca Bion
Publicado em 30/07/2018 às 16:10
Foto: Luciana Bessa/Divulgação
Em busca de bem estar e envelhecimento saudável, aposentados compartilham espaços de moradia em que a interação social é prioridade - FOTO: Foto: Luciana Bessa/Divulgação
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A preparação para o envelhecimento é urgente, visto que o número de idosos cresce em ritmo acelerado no País e demanda mudanças no estilo de vida, desde o cuidado com a saúde até o bem-estar, incluindo onde e com quem se vive. Segundo projeções do IBGE divulgadas na última semana, em 2060, 25,5% da população terá mais de 65 anos. Dispostos a se antecipar e planejar da melhor forma esse momento, professores da Unicamp, em São Paulo, uniram-se em torno do projeto de Cohousing Sênior Vila Conviver. “O objetivo é promover interações sociais”, explica o professor aposentado da universidade, Bento da Costa Carvalho Júnior, 61 anos, um dos integrantes da associação de moradores da vila. No espaço, cada morador terá sua própria casa e compartilhará com os demais as áreas comuns. Segundo Bento, a vila será voltada apenas para pessoas a partir de 55 anos e, apesar de ter nascido dentro da Unicamp, o projeto já agrega outros adeptos.

Para além de moradias adaptadas para idosos, com portas largas, corrimões em banheiros e corredores e piso antiderrapante, a ideia neste caso é ter casas com janelas grandes para quem estiver na sala poder ver quem está do lado de fora e espaços em comum, como uma grande casa que será de todos os moradores, com restaurante, cozinha, sala de estar e espaço para exercícios e trabalhos manuais. Tudo para que os vizinhos cuidem uns dos outros e mantenham viva a interação social na velhice, evitando o estigma da solidão.

Hoje, há 58 pessoas na associação e uma fila de espera de 20 pessoas para participar da vila. O grupo ainda está na fase de compra de terreno, mas já trabalha com a meta de adquirir um terreno com no mínimo 12 mil metros quadrados para comportar 40 moradias adaptadas para idosos. A estimativa é de que cada uma custe R$ 400 mil. Após a mudança, o morador terá que contribuir com taxa de manutenção.

“O que a gente nota nos depoimentos é que as pessoas viram os pais ficarem sozinhos. As pessoas não querem ficar sozinhas. Quando eu vi uma colega aposentada da associação de docência da Unicamp ser colocada em uma casa de repouso, começamos a estudar sobre moradias para terceira idade e formamos a associação em dezembro do ano passado. Hoje, as pessoas dizem que não esperavam fazer amigos depois dos 70 anos. Isso é inacreditável”, diz Costa.

A expectativa é que a vila fique pronta para morar em três anos. Um entrave é que o código de obras e edificações das prefeituras não prevê esse sistema de residências. Por isso, a Unicamp está preparando guias sobre o modelo para distribuir nas cidades.
O cohousing nasceu na Dinamarca e se popularizou em outras cidades da Europa e dos Estados Unidos. Para o médico geriatra e diretor do Instituto de Medicina do Idoso (Imedi), Alexandre de Mattos, para se popularizar no Brasil, será preciso mudar a cultura.

“Na cultura latinoamericana, o melhor para o idoso é ficar na casa da família, mas há uma possibilidade de que a cultura se transforme com a mudança do perfil demográfico. Independente de onde esteja, o idoso precisa ter autonomia e funcionalidade. Interagir com a sociedade e networking evitam risco de doenças como depressão e Alzheimer”, defende.

PARAÍBA

De olho no envelhecimento acelerado da população, a Paraíba já adota modelo de convivência semelhante chamado Cidade Madura, voltado para idosos com 60 anos completos, autonomia, renda de até cinco salários mínimos e sem casa própria. “A população de idosos vem crescendo e muitos não têm casa própria. O residencial permite que o idoso tenha uma vida independente e aumente a qualidade de vida, com, por exemplo, acompanhamento de profissionais de saúde”, diz a coordenadora estadual do programa pela Secretaria de Estado e Desenvolvimento Humano, Magda Danielle Félix Lucindo. O investimento é de R$ 38 milhões e o programa está implantado em cinco municípios, devendo ser ampliado em breve para o sexto. São contemplados cerca de 200 idosos.

A aposentada Francisca Caju, 76 anos, é uma delas. “Antes, eu morava com minha filha no quarto andar de um prédio sem elevador. Não conseguia sair muito, nem conhecia meus vizinhos. Hoje, eu tenho amigos no residencial e sou acompanhada por técnico de enfermagem para tratar minha diabetes, hipertensão e asma”, relata.

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