Maquiagem

Glitter, a moda que virou negócio no Carnaval em 2017

Com protagonismo no visual, brilho abre um novo nicho de mercado no Recife

Luiza Freitas
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Luiza Freitas
Publicado em 12/02/2017 às 9:41
André Nery/JC Imagem
FOTO: André Nery/JC Imagem
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Possibilidades infinitas de cores e tons com brilho intenso. Não fazia sentido que o glitter fosse o eterno coadjuvante do Carnaval ou ficasse restrito a detalhes e adereços. Impulsionado pelas voltas que a moda dá, este ano ele promete ser o protagonista do visual para a folia. Das ruas aos camarotes; nos olhos, boca e barba; escorrendo e grudando pelo corpo, a demanda pelo produto deu força até para a criação de negócios e movimenta montantes que chegam aos cinco dígitos. Barato, teve o efeito de um pó mágico sobre as vendas do comércio do Centro do Recife, atraindo clientes e enchendo lojas.

Paixão de outros carnavais, o glitter sempre foi levado a sério pela publicitária Naiara Cândido, 25 anos, criadora da marca Contém Glitter. Até meados do ano passado, ela era a fornecedora dos amigos e ficava encarregada de ir ao Centro do Recife comprar vários gramas do brilho. O costume, então, começou a se estender a todos os tipos de festas, até que ela teve a grande ideia. “No fim do ano passado pedi demissão da agência em que trabalhava e montei uma produtora de eventos. Quando estava no Rio de Janeiro, fazendo um curso, pensei em trazer para o Recife alguns tipos que não encontramos aqui e vender”, conta.

Ela voltou no fim de novembro, carregando na bagagem 30 quilos do brilho que virou febre no Recife. Com seu conhecimento em marketing, sabia na necessidade de ter um diferencial e misturou diferentes cores para criar novas tonalidades, batizadas de “poções mágicas”, cada um com um nome criativo, como “escamas de sereia”, “céu da boca” e “azulcrination”, tudo divulgado pelo Instagram. As embalagens são pequenos potes de vidro que podem ser usados como colares, cujos preços variam de R$ 10 a R$ 13.

O sucesso é comprovado em números: em pouco tempo encomendou mais 70 quilos do Rio de Janeiro, São Paulo e China – quantidade que não deve chegar ao fim do Carnaval – e até a semana passada já havia vendido 7 mil potes, que renderam um lucro de R$ 25 mil. Diante da demanda, precisou contratar a mão de obra de outras três pessoas que trabalham exclusivamente no envasamento do glitter. 

"Acredito que deu certo por causa do time e da parte de comunicação, o visual”, avalia Naiara. Diante da dimensão que as vendas tomaram e sabendo que após o Carnaval haverá uma baixa na demanda, ela já planeja as estratégias para fazer o negócio durar o ano todo. “Estou patrocinando três drag queens do Recife, pensando em um público que consome o produto o ano todo. Além disso, comecei a fornecer um pacote para eventos, uma espécie de ‘open bar’ de glitter, uma atração a mais para a festa”, conta a empresária. Os próximos passos de gestão são a organização da parte administrativa e a contratação de uma consultoria para ajudar nos processos de importação.  


Mas Naiara não foi a única que lucrou profissionalmente com a moda do glitter. As amigas Ana do Amor Divino e Virgínia Ramos, ambas 28, criaram há dois meses o próprio perfil no Instagram, o Glitteria. A proposta era alimentar um canal de inspirações que servisse como portfólio para as duas, que são designer e fotógrafa, respectivamente. Percebendo que ainda havia espaço no mercado, um mês depois começaram a vender os quites de brilho, que variam de R$ 5 a R$ 20. Até agora elas distribuíram mil conjuntos.

“Para depois do Carnaval pensamos em algo para além da venda de glitter, ligado à ideia inicial, focado em inspirações de arte e fotografia, que realce o brilho próprio das pessoas”, diz Ana, que não se dedica exclusivamente à marca e continua trabalhando como gerente em um curso de inglês, enquanto Virgínia mantém o trabalho como freelancer.

André Nery/JC Imagem
Comerciantes relatam aumento de até 30% na venda do produto em comparação ao ano passado - André Nery/JC Imagem
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Produtos vendidos no Recife vêm principalmente da China - André Nery/JC Imagem
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Contém Glitter já vendeu mais de 7 mil potinhos de novembro até agor - André Nery/JC Imagem
Virgínia Ramos/Divulgação
Objetivo da Glitteria é criar um portfólio das criadoras, a exemplo desta foto de Virgínia Ramos - Virgínia Ramos/Divulgação

O varejo tradicional também sentiu o poder do glitter. No comércio do Centro do Recife, os efeitos da crise deixaram as ruas esvaziadas há duas semanas do Carnaval, cena impensada há dois anos. Contrariando a queda nas vendas – que em algumas lojas chegou a 40% na comparação com o mesmo período do ano passado –, a procura pelo brilho aumentou 30%. “Já estamos no segundo estoque de 40 quilos e não vai chegar até o Carnaval. Está tendo uma saída boa, está dando para comemorar”, diz a gerente da Casas Lapa, Janaína Fernandes. Lá os pacotes 25 gramas saem em torno de R$ 5,9.

O movimento recaiu também sobre as lojas de produtos alimentícios. “Perto do Carnaval a procura por glitter comestível sempre aumentou porque é o que pessoas alérgicas podem usar. Mas esse ano estamos vendo mais pessoas pesquisando essa opção”, afirma a comerciante Sandra Alves, da Arcol. 

O aumento do interesse foi em parte motivado pela polêmica em torno dos impactos ambientais provocados pela composição do glitter. Ao ser removido no banho, o brilho entra na rede de esgoto e pode chegar aos oceanos. A diferença nos preços, no entanto, desanima muitas pessoas dispostas a aderir ao glitter alimentício: potes de apenas 3 gramas podem chegar a R$ 10.

MODA

É difícil precisar quando e porque a febre do glitter pegou. Nas passarelas, o produto ganhou mais destaque no ano passado, aparecendo em maior quantidade nos olhos e até na boca. A popularização das tendências fashion pela internet, tutoriais e a influência das blogueiras podem ter permitido que o público se apropriasse mais do item. 

“O glitter está em alta já bem antes do Carnaval. As meninas veem fotos na internet e querem ficar iguais. Como hoje não existe tanta regra para estilo que diga que não pode usar brilho durante o dia, a coisa pegou”, analisa a maquiadora profissional Ceci Novaes. O resultado é que marcas tradicionais de mais luxuosas de maquiagem passaram a oferecer seus próprios produtos com glitter ou versões do brilho para aplicar em todo o rosto.

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