Atualizada às 06h57
O policial branco preso e acusado pelo assassinato de um homem negro em North Charleston, na Carolina do Sul, em mais um caso de violência policial contra a comunidade negra americana, foi expulso da polícia, anunciou nesta quarta-feira o prefeito da cidade.
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"Quero informar-lhes que o policial foi expulso da corporação", indicou o prefeito Keith Summey, durante uma coletiva de imprensa interrompida em várias ocasiões por gritos de algumas pessoas pedindo "justiça". "Nós não toleramos o que está errado, não importa quem seja o autor", acrescentou.
Este crime provocou uma série de protestos na cidade de Charleston, com manifestantes gritando "fim à violência policial".
"Não queremos ser tratados desigualmente, queremos ser tratados de forma igual e até que sejamos tratados de maneira equitativa, continuaremos protestando", disse à AFP o manifestante Calvin Bennett.
Um grupo de 50 pessoas protestou com calma na noite desta quarta-feira diante da prefeitura de North Charleston. Michael Slager atirou oito vezes nas costas da vítima, que parecia fugir do agente depois de ter sido detida no sábado em uma blitz de rotina, segundo mostra um vídeo de uma testemunha, Feidin Sanatana.
Sanatana disse à rede NBC que "antes de começar a gravar os dois estavam no chão". "Lembro que o policial tinha o controle da situação". O agente e a vítima, o motorista Walter Scott, de 50 anos, teriam discutido quando o segundo foi parado durante uma blitz porque um dos faróis de seu veículo não funcionava.
Summey, que indicou ter visto o vídeo pela primeira vez na terça-feira, reconheceu que as imagens o "perturbaram". A investigação da morte foi confiada à polícia do estado, a South Carolina Law Enforcement Division (SLED).
O policial, que pode ser condenado a 30 anos de prisão ou até mesmo à pena de morte, foi levado para o centro de detenção do condado de Charleston. O prefeito informou que a cidade recebeu dinheiro para comprar uma centena de câmeras individuais destinadas a equipar os policiais uniformizados.
O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, declarou por sua vez que este vídeo é "terrivelmente difícil de ser visto", e mostra que o porte de câmeras pelos policiais "será positivo".
- Atingido por cinco balas -
O incidente pode reavivar as tensões raciais nos Estados Unidos, onde nos últimos meses foram registrados muitos casos de cidadãos negros mortos por policiais brancos.
O pai da vítima, também chamado Walter, afirmou nesta quarta-feira que está devastado com a morte do filho. "A maneira como atiraram, parecia que ele (o policial) estava tentando atirar contra um cervo (...) Nem sei se é racismo ou tem um problema mental", declarou ao canal NBC.
Ele também agradeceu "a Deus que as autoridades tenham o vídeo". O mandato de prisão afirma que "Thomas Slager (...) matou a vítima ilegalmente e com premeditação". "Atirou na vítima várias vezes pelas costas depois de uma discussão. Tudo está baseado em provas obtidas com vídeo".
Antes da divulgação do vídeo, o policial afirmou que Walter Scott o havia agredido e retirado seu 'taser' (pistola elétrica). Nas imagens é possível observar como, depois de atirar oito vezes nas costas da vítima, o agente caminha de maneira calma até o homem, que agoniza no chão, e o algema.
Slager, de 33 anos, parece recolher do chão um dispositivo que teria caído durante a discussão e o deixa ao lado da vítima, que morreu pouco depois. Em uma entrevista coletiva na terça-feira à noite, um irmão da vítima perguntou o que teria acontecido sem as imagens.
"Se não existisse um vídeo, saberíamos a verdade? Mas agora conhecemos a verdade" disse. Os parentes da vítima chamaram de "herói" a pessoa que filmou a cena da morte de Scott. Scott foi atingido por cinco tiros, três nas costas, um na orelha e outro nas nádegas, segundo Stewart, que citou o médico legista.
Em um comunicado, o departamento de Justiça anunciou que adotaria "as ações apropriadas à luz das provas e dos acontecimentos", indicando que o FBI também abriu uma investigação.
- Práticas racistas da polícia -
A morte em agosto de 2014 de um jovem negro (Michael Brown) desarmado na cidade de Ferguson (Missouri) provocou grandes protestos em todo o país. O policial não foi indiciado, mas o Departamento de Justiça publicou um relatório devastador sobre as práticas da polícia local e de altos funcionários municipais, e alguns citados pediram demissão.
Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, admitiu em uma entrevista que o incidente de Ferguson não era um caso isolado.