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Ilha da Louisiana é engolida pela erosão após passagem do furacão Katrina

Este estado do sul dos Estados Unidos perdeu quase 5.000 km² de terra costeira desde a década de 1930.

Da AFP
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Publicado em 27/08/2015 às 13:45
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Na profundidade dos pantanosos 'bayou' da Louisiana, o tempo parece passar mais lentamente... Mas não o suficiente para salvar uma comunidade de indígenas cajun que vive em uma pequena faixa de terra prestes a ser engolida pelo mar.

Este estado do sul dos Estados Unidos perdeu quase 5.000 km² de terra costeira desde a década de 1930. Importantes esforços têm sido feitos para preservar o litoral e desacelerar a erosão, mas a cada hora a Louisiana perde uma superfície equivalente a um campo de futebol.

Maryline Naquin, de 70 anos, foi uma das primeiras moradoras: "Ali atrás era cheio de árvores", conta, sentada em sua varanda. "Agora só tem água. Muita água", continua.

A comunidade da ilha de Jean Charles nasceu quando um francês, renegado por ter se casado com uma indígena, desembarcou ali no início de 1800. Quase todos os seus filhos se casaram com integrantes da comunidade nativa.

Os 'bayou', região de antigos braços e meandros do rio Mississippi, lhes deu fartura de camarões, peixes e caranguejos para se alimentarem e venderem na cidade.

Em sua época de maior auge quase 700 famílias viviam na ilha, a qual se chega por estrada; quando Naquin era pequena inclusive sobrava espaço para usar como pasto para vacas e cavalos.

Hoje restam apenas cerca de 30 famílias e muitos temem que a próxima grande tempestade os expulse por completo.

"Sempre vivemos aqui e não podemos nos imaginar vivendo em apartamentos, em lugares pequenos", completou Maryline Naquin.

Ao longo da costa da Luisiana foram construídos diques para proteger as casas, mas o mesmo não ocorreu com a ilha Jean Charles. Muito caro, sendo as autoridades.

 

Tarde demais

Sem seguro, Naquin não poderá reconstruir sua casa na próxima vez que uma tempestade a destrua. Parece resignada com a ideia, embora queira ficar na ilha pelo maior tempo possível.

Os diques do rio Mississippi frearam dramaticamente o fluxo de sedimentos no delta e, quando o Katrina chegou à região em 29 de agosto de 2005, a frágil costa já estava em mal estado.

A maior parte da atenção se concentrou então na destruição de Nova Orleans, mas nos 'bayou' as pessoas também tiveram sérias dificuldades para reconstruir suas casas. Poucas semanas depois chegou o furacão Rita.

As duas tempestades deixaram juntas mais danos que os 25 anos prévios de erosão: 850 km² de pântano foram engolidos pela água.

A maré negra de 2010 trouxe mais problemas à costa: a mistura de petróleo e dispersantes danificou ainda mais as frágeis plantações do litoral.

Chris Chaisson, de 32 anos, é um dos que se viram obrigados a abandonar a ilha para encontrar trabalho e uma vida mais estável para sua família. Sofre por não ter podido criar seu filho na ilha, onde seus ancestrais viveram por gerações. Tampouco está seguro de que seus netos possam visitá-la algum dia.

"Perde-se uma herança, a cultura das pessoas que viviam ali", disse este ativista que luta contra a erosão do litoral há 10 anos. 

"Esta comunidade vai ser extinta devido à erosão e não há uma solução real para protegê-la", acrescenta.

O pastor Keith Naquin, da igreja Father's Home, tem belas lembranças de sua infância na ilha: "Pela manhã todos escutavam música francesa e pela tarde sempre encontrava alguém cozinhando do lado de fora", relata quem agora vive em terra firme, cerca de 20 minutos da ilha.

"Percorrer à estrada da ilha era uma verdadeira viagem: nunca se sabia onde você pararia, mas sempre havia um lugar para fazer uma pausa. Era como uma grande família", conta.

Assegura que a riqueza das águas era tão abundante que um dia pescou quase 500 quilos de camarão com uma simples rede, em poucas horas.

Os habitantes ainda podem viver do que pescam, mas agora devem ir cada vez mais longe. E a ilha Jean Charles é hoje uma cidade fantasma.

"É tarde demais para salvar a ilha", declara Keith Naquin.

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